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Podcast com Lupi: vai ser Ciro vs Alckmin

Haddad não entra no Nordeste
publicado 11/09/2018
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O presidente do PDT, Carlos Lupi, e o candidato Ciro Gomes em convenção do partido, 27/XI/2017 (Créditos: Weverton Rocha/PDT Nacional)

PHA: Eu entrevisto Carlos Lupi, presidente do PDT, que tem o candidato à Presidência da República Ciro Gomes.

Presidente Carlos Lupi, a minha pergunta é: a partir de agora, conhecidas essas últimas pesquisas - como a da FSB/BTG-Pactual e Datafolha de ontem no jornal nacional - qual será a estratégia de Ciro Gomes daqui para a frente?

Lupi: Amigo Paulo, primeiro, é uma honra falar com você, falar com todos que lhe dão atenção e audiência merecidas. 

Eu penso que nós estamos em uma estratégia, em um caminho coerente há cerca de dois anos, desde que nós começamos a percorrer o Brasil colocando o nome do Ciro - ainda como possível pré-candidato e, agora, como candidato. Ou seja, romper essa polarização popularmente chamada de entre "mortadelas" e "coxinhas". Criar o nosso caminho de um projeto nacional-desenvolvementista, priorizando a empresa produtiva nacional, priorizando o capital produtivo, os programas sociais, valorizando a nação brasileira.

Essa tem sido a linha desses dois anos da pré-campanha e, agora, da campanha do Ciro. E vamos continuar na mesma linha, porque nós queremos discutir, levar à sociedade, levar à população algo que seja diferente do que foi colocado até agora - tanto pelo PSDB na oportunidade em que esteve no poder, quanto o PT na oportunidade que teve no poder.

PHA: Mas bem diante do candidato Ciro há algumas questões práticas, digamos assim, do ponto de vista eleitoral. Por exemplo: como enfrentar o líder nas pesquisas, o Jair Bolsonaro - que, embora não tenha se beneficiado, aparentemente, do ponto de vista eleitoral, do atentado que sofreu, ele continua um candidato bastante competitivo. Como enfrentar Jair Bolsonaro?

Lupi: Olha, eu acho que a melhor maneira de enfrentá-lo é colocar claramente essas ideias para a população brasileira saber o que pensa Jair Bolsonaro. É claro que ele está em um momento fragilizado, com o atentado horroroso que nós todos repudiamos de uma maneira muito veemente...

PHA: Claro.

Lupi: Isso não tem nada a ver numa sociedade democrática. Mas as ideias dele continuam as mesmas. Você vê que a primeira fotografia que nós tivemos dele, ainda em recuperação, ele está imitando dois revólveres com os dedos!

Então, o que nós queremos e temos que colocar com clareza para a sociedade brasileira é que essas ideias atrasadas, superadas, de achar que violência só se resolve com violência, que se resolve o problema da população de segurança armando todo mundo, isso não foi solução em nenhum país desenvolvido do planeta! Nós somos defensores intransigentes e históricos como um instrumento de libertação de um povo. Só a educação transforma uma sociedade.

E nós vamos continuar fazendo com que a população saiba a nossa diferença para ele. Nossa diferença é de visão de mundo. É de projeto de país. É de projeto que a gente quer, principalmente que o povo brasileiro tenha o direito a evoluir, a crescer, a ter uma educação de qualidade, uma saúde boa, a que seus programas sociais sejam reforçados.

Eu julgo que, hoje, o índice que o Bolsonaro tem nas pesquisas é muito reflexo da direita que saiu do armário. Durante muitos anos, a direita ficou reprimida, com os governos populares que tivemos - não há de se negar os êxitos do governo Lula na área popular. E ela estava reprimida. O Bolsonaro representa, um pouco, a saída do armário dessa direita mais raivosa. E a outra parcela é o voto de protesto. Eu acho que, quanto mais a população conhecer as suas ideias, menos voto ele terá.

PHA: Outro ponto é a questão do candidato Haddad e a transferência dos votos de Lula para Haddad. 63% dos consultados pela pesquisa da FSB/BTG-Pactual - 63% não saem de Lula para Haddad. No Datafolha, esse número baixa para 49% - ou seja, apenas a metade dos lulistas, digamos, acompanhará e votará em Haddad. 

Qual a estratégia do candidato Ciro para herdar votos que eram, originalmente, dados ao candidato Lula enquanto ele era candidato?

Lupi: Amigo, em primeiro lugar, nós temos que ter consciência que a força do Lula se deve ao bom governo que ele fez. Independente de gostar ou não gostar do Lula, o Brasil viveu um momento de grande progresso, distribuição de renda, programas sociais fortes, geração de emprego, né? Então, isso ficou marcado para a sociedade, principalmente quando se compara com o governo Golpista - com o desgoverno Golpista! - que apresenta o Michel Temer. 

Agora, uma coisa é o Lula. Outra coisa é o candidato que ele aponta como o seu sucessor. Porque quem, como nós, está nessa política há muitos anos trabalhando, estudando, vê que, por exemplo, na candidatura da Dilma... Recém-assumindo o governo, em março ainda de 2007, ele já começou a preparação da Dilma para sua sucessora. Dilma era "a mulher do PAC", Dilma era "a mãe do Minha Casa Minha Vida", Dilma era "do pré-sal", ela tava como Chefe da Casa Civil... Todas as inaugurações, todas as semanas, a Dilma estava ao lado do Lula. Então, foi um trabalho de três anos e meio para plantar o nome dela!

O Haddad vai ter dez, onze programas de televisão para se colocar como sucessor do Lula. Não vejo isso com simplicidade. Até porque, por exemplo, a candidatura do Ciro tem como base histórica seu trabalho, 38 anos de trabalho político no Ceará! Ceará, Nordeste! Eu não consigo assimilar - talvez seja o meu despreparo - que o Haddad, de São Paulo, vá conseguir, apenas com o nome do Lula, mais votos que o Ciro, que tem sua vida, sua carreira política, feitas no Nordeste. O único candidato nordestino. 

Não vejo como ele ter maioria dos votos onde o Lula é mais forte, no Nordeste. E no Sul, no Sudeste, no Norte, penso que a campanha do Ciro, propositiva, os projetos que ele está apresentando, seu preparo, isso vai fazer a diferença. 

Eu não temo a candidatura do Haddad. Eu acho que nosso grande adversário, provavelmente - apenas uma avaliação - vai ser o Geraldo Alckmin.

PHA: Alckmin? 

Lupi: É. Eu acho que o segundo turno ficará entre Ciro e Alckmin. É a minha opinião, contrariando todas as pesquisas, mas é um direito que eu tenho de opinar...

PHA: Claro. Mas que raciocínio leva o senhor a acreditar que Alckmin vai para o segundo turno?

Lupi: Dois fatos. Primeiro, que ele é de São Paulo. São Paulo é 22% do eleitorado brasileiro, tem muito peso. Segundo, que eu não acredito na manutenção desses índices do Bolsonaro. Quando cai o Bolsonaro, o Alckmin naturalmente sobe com essa faixa do eleitorado. Então, eu penso que a disputa para o segundo turno - é apenas uma opinião - é Ciro versus Alckmin. Não há espaço para ser dois candidatos conservadores, não acredito na possibilidade de ter Bolsonaro contra Alckmin. 

PHA: Então, presidente Lupi, diante dessa polarização agora entre Alckmin e Ciro, o que Ciro pode dizer contra Alckmin?

Lupi: Olha, mostrar a decadência do governo PSDB durante esses anos todos em São Paulo. Vinte, vinte e quatro anos do PSDB no poder e não resolveu os grandes problemas desse que é o maior estado da federação, que é o mais... É o pulmão, o coração do sistema financeiro do Brasil. Então, eu acho que o retrato de São Paulo se contrasta profundamente com o retrato do que estamos fazendo no Ceará, pelo que representa o grupo político liderado pelo Ciro no Ceará. É só ver os índices de educação, os índices das condições financeiras do estado. Com toda a pobreza que o Ceará tem, e com toda a riqueza que São Paulo tem, você vê que os índices do Ceará são infinitamente superiores, em todas as médias nacionais, aos de São Paulo. Essa é a comparação que eu acho que ele tem que fazer para a população brasileira.

PHA: Mas não seria o caso, também, de lembrar que Alckmin apoiou o Golpe?

Lupi: E, além disso, é base do Michel Temer! O Alckmin tem que dizer claramente para a sociedade brasileira que ele apoia, que o partido dele tem ministros. Que ajudou, além de ter ajudado o Golpe, legitimado o Golpe, continua participando do governo mais impopular da história da República brasileira! Isso nós vamos colocar com clareza. É só ver a fotografia dos ministros que você vai ver, lá, a cara do PSDB!

PHA: Agora, presidente, uma última questão que eu gostaria de submeter ao senhor. Eu soube pelo meu bom amigo Osvaldo Maneschy que o senhor compartilha do meu sentimento de ser um tricolor carioca apaixonado.

Lupi: Verdade! Sofredor, mas ganhamos uma, heim!

PHA: Presidente, se o Ciro Gomes for eleito presidente, o senhor acha que dá um jeito de consertar a CBF?

Lupi: Olha, rapaz, aquilo ali precisa ter um... Um choque de Democracia! Jesus de Nazaré...

O brasileiro como eu, como você, é apaixonado por futebol! A nossa paixão fica limitada a ver que aqueles sentimentos mais puros, de acreditar no futebol, gostar, assistir - eu sou fanático! Eu vejo futebol desde os dez anos de idade, nunca perdi um título do Fluminense. E também já vi muitas derrotas... 

PHA: Claro.

Lupi: Então, a gente não pode mais entender que essa instituição, que é importantíssima para a realidade brasileira, seja um antro de corrupção, de desmonte, de desorganização... É uma vergonha o que está acontecendo.