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Dirceu: alianças, sim, mas sem subordinação à direita

O que conta é o povo como agente político majoritário
publicado 28/01/2020
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(Reprodução/Redes Sociais)

Do ex-ministro José Dirceu, no Metrópoles - O problema não está em fazer alianças com a centro-direita para enfrentar o bolsonarismo. O que não se pode é abrir mão do programa de reformas estruturais e da construção de uma Frente de Esquerda.

Para alguns, uma encruzilhada se apresenta na caminhada do PT, de Lula, da esquerda. Como se opor à coalizão de direita que governa o país, com todas as contradições reais surgidas nas votações das reformas da Previdência e do pacote anticrime; nas decisões do STF; no posicionamento de parte da mídia de oposição ao caráter autoritário do bolsonarismo e seu fundamentalismo religioso, mas não às suas reformas ultraliberais e à renúncia à soberania nacional.

Não será fácil encontrar um caminho que combine e articule a luta democrática com a luta social e política pelas reformas estruturais mais do que necessárias para que qualquer governo de esquerda ou centro-esquerda retome o crescimento com distribuição de renda, soberania, e amplie nossa democracia, sem o que governar não vale a pena.

Frente Democrática de Esquerda ou Frente Democrática com o Centro, essa entidade abstrata e ao mesmo tempo real, que se opõe tanto a Bolsonaro quanto ao petismo e Lula, mas atrai, encanta e articula setores importantes da esquerda, sem juízo moral ou de valor.

Nas votações na Câmara dos Deputados e, em certa medida, no Senado, derrotamos parte importante das reformas da Previdência e do Código Penal graças à aliança com setores do chamado Centrão. Foi o protesto e a manifestação de parlamentares de vários partidos que impediu a transferência arbitrária de Lula, quando preso, da Polícia Federal de Curitiba para a prisão de Tremembé, em São Paulo. E assim, por meio de frentes, tem sido construída a oposição no Parlamento à Escola sem Partido, à censura, à repressão, às tentativas de governar por decreto-lei ou violar o caráter laico do Estado.

Na prática, temos, portanto, lutas comuns democráticas e algumas sociais e econômicas. Então, por que a polêmica que parece dividir a esquerda? No passado, fizemos a campanha das Diretas em aliança com o PFL e setores que apoiaram no passado a ditadura. Idem na Constituinte, onde só pela pressão popular e alianças amplas conquistamos a Constituição Cidadã.

Acredito que a questão central não está em fazer alianças mas, sim, em não se subordinar à direita e não renunciar ao nosso programa. Que, no caso do PT, passa por reformas estruturais, como a política, a bancária e a tributária; pelo resgate da soberania; e pela ampliação da democracia.

Se temos que compreender os limites de classe da direita que não abre mão das reformas ultraliberais, o mesmo vale para nós. Frente Democrática ou lutas comuns para defender e ampliar a democracia e as liberdades civis e políticas, sim, mas sem deixarmos de lado as reformas estruturais e a construção de uma Frente de Esquerda, garantia da nossa independência e força para aplicar nosso programa de governo.

O mesmo vale para a articulação e combinação da luta social com a política institucional, a organização do povo trabalhador para a luta social e a pressão nas ruas, como a direita fez entre 2015 e 2018. Não há contradição entre priorizar a luta nos bairros e periferias e a luta política.

Ao contrário, sem força popular organizada e consciente não avançaremos e seremos dependentes das forças de direita que buscam construir uma saída que eles apresentam como de centro, como se o problema do país fosse a “polarização” entre a esquerda e a direita, entre o bolsonarismo e o PT e Lula. A principal contradição brasileira é social, é a desigualdade e a concentração do poder, da renda, da riqueza e da propriedade.

A polarização é a arma da direita para estigmatizar e criminalizar não só o PT e a esquerda como a política e suas instituições, escondendo a verdadeira divisão de nosso Brasil, a vergonhosa e criminosa concentração de renda e a recusa e o abandono do pacto social e democrático de 1988, a renúncia à democracia, o apoio ao golpe parlamentar de 2016 e, agora, ao autoritarismo.

Para nós, o que conta é o povo como ator e agente político legítimo e majoritário, cujo apoio a centro-esquerda conquistou em quatro eleições presidenciais. Só reconquistando o apoio popular, que não fomos capazes de mobilizar, seremos vitoriosos e teremos condições reais de realizar as reformas adiadas.

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