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Brexit é obra do escândalo do Facebook!

Cérebro da Cambridge Analytica joga os podres no ventilador
publicado 27/03/2018
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"Se o Facebook se importasse, teria se sentado comigo em vez de me apagar da rede" (Crédito: Lionel Derimais/El País)

A propósito da censura à TV Afiada e do mais recente escândalo com o Facebook, o Conversa Afiada reproduz trecho de entrevista concedida por Christopher Wylie, cérebro da Cambridge Analytica que decidiu enfrentar o Facebook e expor os bastidores do mega-esquema de invasão de privacidade, ao El País:

Pergunta. Qual foi sua motivação para falar?

Resposta. Minha intenção original era expor o trabalho da Cambridge Analytica, em parte porque ajudei a criá-la e tenho uma responsabilidade. Se não for para corrigir o que já foi feito, pois há coisas que não podem ser desfeitas, pelo menos para informar as autoridades e as pessoas.

P. De tudo o que foi revelado, o que é mais grave?

R. Primeiro, o fato de que exista uma empresa que presta serviços para o setor militar e também é conselheira do presidente dos Estados Unidos. Nas democracias modernas proibimos os militares de participarem de eleições, por que permitimos que empreiteiras militares participem e atuem como conselheiras de alguns dos políticos mais importantes do mundo? Que uma empresa que tem clientes militares crie uma enorme base de dados de cidadãos, alguns deles coletados ilegalmente, gera um grave risco de apagar as fronteiras entre vigilância doméstica e pesquisa convencional de mercado. As pessoas e os legisladores precisar ficar em dia com a tecnologia e compreender o que significam de verdade essas empresas, o Facebook e outras, que ganham dinheiro com os dados pessoais. É importante que as pessoas vejam que não é algo abstrato, mas que tem impactos tangíveis.

(...) P. O Brexit não teria ocorrido sem a CA?

R. De modo algum. É importante porque o referendo foi ganho com menos de 2% dos votos e muito dinheiro foi gasto em publicidade na medida certa, com base em dados pessoais. Essa quantidade de dinheiro compraria milhões e milhões de impressões. Se você se dirige a um grupo pequeno, pode ser definitivo. Se você soma todos os grupos que fizeram campanha pelo Brexit, era um terço de todo o gasto. E estamos diante de algo fundamental para o modelo constitucional deste país e para o futuro da Europa. Por isso é preciso haver uma investigação sobre os indícios de que gastaram mais do que o permitido legalmente. Quem diz é alguém moderadamente eurocético. Mas as pessoas têm de poder confiar em suas instituições democráticas. Fazer trapaças é fazer trapaças. Se alguém recorre ao doping e chega em primeiro, pode ser que tivesse ganhado sem se dopar, mas a medalha é tirada dele porque enganou. A medalha é retirada porque questionou a integridade de todo o processo. Falamos da integridade de todo o processo democrático, e se trata do futuro deste país e da Europa em geral.

(...) P. Qual foi a falha do Facebook em tudo isso?

R. No começo diziam que não havia infração porque os usuários consentiram que seus dados fossem usados: em algum lugar das condições de uso se dizia que os seus dados podem ser explorados por aplicativos, embora você não os estivesse usando. Uma das grandes falhas do Facebook é legalizar excessivamente suas condições de uso e se esquecer de algo tão importante: a expectativa razoável do usuário.

P. As pessoas não veem o Facebook como algo público?

R. Não há uma dicotomia entre público e privado, é um espectro. O problema é que se você diz que só é privada a comunicação de um com um outro, e tudo o mais é livre para todos, se estendermos essa lógica poderiam pôr câmeras de vigilância na sala da sua casa. Isso é o equivalente digital da sua sala. As pessoas se relacionam no Facebook como se falassem com amigos. Não estão publicando para que o mundo veja. O fato de que você não vá comprovar as condições padronizadas de privacidade não é motivo para não respeitar essa expectativa razoável de que há certo grau de privacidade no que você publica.

P. Como avalia a reação do Facebook às suas revelações?

R. Olham isto como uma questão de relações públicas. Se se importassem, teriam se sentado comigo em vez de me apagar da rede.

(...)