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Quem não aprende a mostrar no que mira, ganha oposição de graça

Brito: governo parece ter vergonha de ser do povo, para o povo e pelo povo.
publicado 15/09/2015
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bessinha dilma veste globo

O Conversa Afiada reproduz artigo de Fernando Brito, extraído do Tijolaço:


Quem não aprende a mostrar no que mira, ganha oposição de graça


Anuncia, enfim, o governo algo que pode ser chamado de ajuste fiscal.

Porque o “outro” ajuste fiscal, o que vem sendo praticado desde o início do ano é “para dentro”, o mudo, o silencioso  e o doloroso esforço de cortar  suas próprias despesas, sem nada se obter em contrapartida, exceto nos cortes de benefícios sociais onde há – e não é inteligente negar o obvio – distorções e aproveitadores “arraia miúda”, como os fraudadores de seguro desemprego, das pensões e outros benefícios previdenciários.

Agora, anuncia um corte de R$ 26 bilhões. Metade dele sobre o funcionalismo, linear.Como aquela linha de zagueiros que a gente chama de “linha burra” no futebol.

Obvio que “congelar” vencimentos de quem ganha R$ 20 ou 30 mil por mês não é o mesmo que por no freezer o “barnabé” de R$ 1.200 mensais.

Não guardo grande otimismo sobre a viabilidade da outra metade do ajuste, a reinstituição da CPMF, agora voltada para cobrir o deficit da Previdência.

Das duas vezes que se tentou mantê-la ou recriá-la, isso não aconteceu.

Da primeira vez, quando o governo tardiamente aceitou – em lugar de propor – que ela fosse “zerada” para contas bancárias de baixa (ou média ) movimentação, às vésperas da votação no Congresso, de onde saiu derrotado.

A segunda, quando a “base aliada” era mesmo aliada e pedia a sua reinstituição.

Agora, da mesma forma “linha burra”, se propõe uma contribuição linear de dois milésimos  de cada transação financeira bancarizada.

Considerada uma média de R$ 2 mil reais por correntista que mova  até R$ 5 mil por mês em sua conta – desde o que movimente R$ 5 mil até o que tenha bancarizado seus proventos de R$ 800 da aposentadoria, isso significa que cada um destes pagaria R$ 4 por mês. Ou R$ 48  por ano. Isso equivale a apenas um mês e meio da média das tarifas bancárias pagas por cada correntista brasileiros, exceto os ricos, que ganham “tarifas zero”.

Se estes correntistas bancários nestas condições  forem 20 milhões, o valor arrecadado deles será de menos de R$ 1 bilhão, numa arrecadação prevista de R$ 32 bilhões anuais.

Mas todos eles ficarão “mordidos” com a “mordida” inócua, que representa apenas 3% do que se planeja arrecadar.

E aí, com sorte do governo, algum peemedebista apresentará uma “emenda” isentando a classe média baixa da cobrança, o que o governo “aceitará” com certo contragosto,  ficando “na fita” como algoz.

Nosso governo, enfim, dá mais uma demonstração de como fazer o certo da maneira errada, porque evita assumir aquilo que, outro dia, se chamou aqui de “ter um lado”.

Os 20 milhões de quem se pede 48 reais serão os instrumentos políticos  dos dois ou três milhões que, de fato, serão taxados.

Nosso governo, que reelegeu-se por ter um lado, parece esquecer-se disso na hora de apresentar seus atos.

Parece ter vergonha de ser o governo do povo, para o povo e pelo povo.

Ainda assim foi um passo, finalmente um passo.

Imenso avanço para quem, há dez meses, marca passo.