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Pibinho cresceu 1%. Lucro das empresas, 100%

Xavier: precisa desenhar?
publicado 02/04/2019
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O Conversa Afiada publica sereno (sempre!) artigo de seu colUnista exclusivo Joaquim Xavier:

Com tanta notícia correndo pela praça, praticamente passou despercebida a manchete do jornal o Valor - que vocês aí chamam de PiG cheiroso - desta segunda-feira (1/4). Literalmente: “Lucro das empresas dobra com corte e novo cenário”. Com base num levantamento abarcando 237 empresas brasileiras com ações na Bolsa, o jornal concluiu: o lucro líquido destas companhias aumentou 100,6% (dobrou!) na comparação com os dados de 2017.

Detalhe: o levantamento exclui bancos, que não conhecem prejuízos há décadas. Se entrassem na pesquisa, o resultado seria mais impressionante.

Alguns exemplos: a Petrobras, considerada falida e quebrada pelos golpistas de 2016, passou de um prejuízo de 0,4 R$ bilhão para um lucro de R$ 25,8 bi. A Vale, assassina de pelo menos 305 brasileiros, cresceu de R$ 17,6 bi para R$ 25,7 bi. A tal falida Eletrobras saiu de um prejuízo de 1,8 bilhão para um lucro de R$ 13,3 bi. O ganho da Ambev avançou de R$ 7,3 bi para R$ 11 bi. Já a CSN obteve um lucro 47 vezes maior graças à “contabilidade criativa” chancelada pelo STF.

A reportagem cheirosa atribui parte do resultado escandaloso a certas tramoias, como a exclusão do ICMS da base do cálculo do PIS e do Confins, aprovada em 2017, adivinha por quem ? Pelo Supremo Tribunal Federal, o mesmo que demorou anos para prometer devolver, sob a forma de gorjetas, o dinheiro surrupiado dos pequenos poupadores pela avalanche de planos econômicos. Já para as empresas, a fórmula foi rapidamente transformada em “créditos fiscais”. O que era débito, virou dinheiro em caixa para o grande capital.

Só na Guararapes, que controla rede Riachuelo, a manobra togada triplicou o lucro nos últimos três meses do ano passado, diz o Valor. Para quem ainda não sabe, o grupo é controlado por Flávio Rocha, bolsonarista de quatro costados e uma espécie de 04 na hierarquia da famiglia no poder.

Para não pegar muito mal, a reportagem atribui os números também à eficiência de executivos que apertaram o controle de gastos, mesmo com o cenário adverso. Eufemismos são a especialidade das rotativas sabujas.

Onde se lê “controle de gastos”, entenda-se demissões em massa, substituição de trabalhadores protegidos pela CLT por bóias-frias consagrados pela reforma trabalhista, benefícios fiscais via desonerações irresponsáveis, instrumentos como o Refis que adiam pagamentos de impostos sucessivamente para os amigos do rei.

Se não, como explicar que empresas dobrem seus lucros enquanto o número de desempregados não para de crescer, os salários despencam, as vendas no comércio desabam, a inadimplência sobe e as estatísticas da pobreza só fazem aumentar?

Este é o melhor retrato de um país estagnado, que retrocede na economia, retroage nos costumes e vive uma ditadura de fato com o apoio da mídia, do judiciário, do parlamento, do executivo e de uma famiglia complacente com malfeitores.

A seguir este caminho, teremos um povo cada vez mais pobre e uma ”elite” cada vez mais rica. Os números, às vezes, não mentem. Não me engane que eu não gosto.

Joaquim Xavier

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