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PT no Piauí revoluciona a Educação

BBC: diretora compartilha o método com a região
publicado 29/05/2019
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Alunos da Casa Meio Norte em foto de arquivo; a despeito de condições adversas, escola pública conseguiu que 100% de seus alunos do 5º ano tivessem aprendizado adequado de matemática e português (Créditos: João Bittar/Central de Mídia do MEC)

Da BBC Brasil:

A estratégia de alfabetização que revolucionou aprendizado em escolas do Piauí


A Escola Municipal Casa Meio Norte fica em uma rua remota de uma dos bairros de menor renda e maiores índices de violência de Teresina (PI), cercada de mato, entulho e de casas simples, feitas de tijolo sem acabamento ou pintura.

A despeito do entorno empobrecido, os resultados da Casa Meio Norte têm crescido regularmente nas avaliações oficiais de educação. Em 2017, 100% dos alunos avaliados da 5ª série tinham conhecimentos adequados em matemática e português - um salto, respectivamente, de 51 pontos percentuais e 27 pontos percentuais em relação a 2013, segundo dados da Prova Brasil, do Ministério da Educação.

A grande transformação por trás dos índices crescentes na Casa Meio Norte começou em 2000, com um projeto de alfabetização e incentivo à leitura implementado por duas diretoras escolares que se viram diante de um desafio: como ensinar crianças em uma conjuntura totalmente adversa?

"A escola fica em uma área de alta vulnerabilidade. Os alunos às vezes chegavam portando armas e facas, havia brigas de gangues, a distorção idade-série (alunos fora da série adequada para sua idade) era altíssima. E a gente pensava: o que vamos fazer com essas crianças?", conta à BBC News Brasil Ruthneia Vieira Lima, diretora pedagógica da escola.

(...) Lima, ao lado da também diretora Osana Santos Morais, desenvolveu, sem nenhum novo investimento, uma estratégia própria, que batizaram de Projeto Borboleta, a partir da ideia de transformação do inseto: "Ele passa de rastejante para voador. É como vemos os processos de aprendizado. A leitura te permite voar daqui para qualquer lugar do mundo." (...)

Olhando-os individualmente, as diretoras dividiram os alunos em quatro grupos, a partir da capacidade de leitura - em vez de pela idade - de cada um: desde "borboletas" (os que não leem nada) passando para "andorinhas" (os que são capazes de juntar uma letra a outra, mas sem interpretá-las) daí para os "gansos" (os que conseguem ler um pouco mais, mas sem fluência) indo até as "águias" (os leitores fluentes).

A estratégia combina ensinar às crianças como as palavras são articuladas e o que Lima chama de "coreografia" da escrita - o fato de que a mudança de uma letra pode mudar o sentido da palavra. Mas vai além: a oferta de livros e os momentos de leitura são abundantes, "para a criança aprender com o sentido das palavras e escutar seus usos, para se sentir uma leitora. Também usamos muitas poesias, por causa de sua melodia".

Assim, as crianças passaram a ler uma média de 30 livros por mês, ou um por dia, mas em um contexto "prazeroso, em que o texto tem significado. É entender que o ler pelo prazer de ler faz diferença na vida", conta Osana Morais.

(...) Ante os resultados na Casa Meio Norte, as diretoras passaram a "franquear" a estratégia para outras escolas e cidades da região, assim como fazem os sistemas de ensino privados. São mais de dez municípios do Piauí replicando o Projeto Borboleta, diz Lima.

Um dos principais exemplos vem de Oeiras, pequena cidade de 37 mil habitantes encravada no meio do Piauí.

A secretária de Educação, Tiana Tapety, queria transformar a cidade em um polo de leitura, mas notou que, "sem (um projeto de) alfabetização, tínhamos poucos leitores", disse ela (...) O Projeto Borboleta começou nas escolas da rede municipal oeirense em 2017 e, aliado a demais esforços para incentivar a leitura e a cultura entre os jovens da cidade, fez com que as escolas locais praticamente zerassem as taxas de abandono escolar e reprovação (...)

A alfabetização foi um dos assuntos no centro de polêmicas neste ano no MEC, que em abril lançou a Política Nacional para essa etapa, com a intenção de "fundamentar em evidências científicas suas políticas públicas para a alfabetização", e gerou um debate diante da sinalização de que o método chamado de "fônico" (que associa letras aos fonemas) seria privilegiado em detrimento de outros.

Isso levou a críticas de diversos especialistas, por discordarem ou do método fônico ou da ideia de que uma única metodologia seja estimulada pelo ministério.

Francisca Maciel, do Ceale-UFMG, diz que favorecer um ou outro método "fere a autonomia da escola e não dá garantia nenhuma de aprendizado".

"O que é necessário é um compromisso para que as crianças sejam alfabetizadas com a capacidade de fazer uso social (da leitura e dar escrita), que faça sentido para além das quatro paredes da escola. Caso contrário, vira algo mecanizado. Onde ficam o prazer e o sentido do aprendizado?" (...)

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