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Hilde: quem deu o maior vexame?

Para impedir Lula de enterrar o irmão, vale até rasgar Lei!
publicado 31/01/2019
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A capa do livro de Gabriel García Márquez (Reprodução)

Por Hildegard Angel, em seu blog:

O funeral em que Mamã Grande não foi


Na novela Os Funerais de Mamã Grande, de Gabriel García Márquez, Mamã Grande foi a soberana absoluta deste mundo, morreu aos 92 anos, com a fama de santa, e a seu funeral compareceram do Presidente da República ao Papa, passando por contrabandistas, prostitutas e camponeses, produtores de arroz e bananeiros. Eram incontáveis os bens terrenos de Mamã Grande, que os herdeiros passaram a disputar avidamente, após a partida do corpo da defunta de sua casa. Eles somavam “a riqueza do subsolo, as águas territoriais, as cores da bandeira, a soberania nacional, os partidos tradicionais, os direitos do homem, as liberdades dos cidadãos, o primeiro magistrado, a segunda instância, o terceiro debate” etc.

O funeral de ontem não foi o de Mamã Grande. Foi o de Vavá, estimado cidadão de São Bernardo do Campo, morador há 40 anos na mesma casa, que modesto viveu, modesto morreu. Esse legado de dignidade, ninguém quis reivindicar ou comentar. O que se disputou vorazmente foi de quem seria o maior vexame. Do Judiciário, da Polícia Federal ou do Ministério da Justiça? Nesse vale tudo, até rasgar a Constituição foi permitido. Em causa, porém, estavam, sim, “a riqueza do subsolo, as águas territoriais, as cores da bandeira, a soberania nacional, os partidos tradicionais, os direitos do homem, as liberdades dos cidadãos, o primeiro magistrado, a segunda instância, o terceiro debate”. A vida imitava a literatura.

O que parecia se pretender, naquela pantomima real e farsesca, era fazer um ser vivo de morto, e tornar seu tesouro legado daqueles sem seus méritos, sem seu brilho, a legitimidade das urnas, a competência e o apreço pelas causas brasileiras.

Gulosa pretensão daqueles que hoje desmandam e mandam, prendem e arrebentam, mentem e desmentem, vão em frente e voltam atrás, nesse país pelo avesso, em que a marcha à ré vai pra frente, o errado virou certo, o herói se tornou vilão e versa-vice.

A respeito, Gabo escreveria novela mais mágica do que toda a sua obra reunida: “O funeral em que Mamã Grande não pôde ir”.

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