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Em meio à pandemia, Doria se recusa a receber moradores de Paraisópolis

"Não queremos políticas para alguns, mas, sim, para todos", dizem os moradores em manifesto
publicado 19/05/2020
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Crédito: iG

Na última segunda-feira (18/V), o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), se negou a receber moradores de Paraisópoliscomunidade localizada na zona sul da capital paulista, que pedem ajuda do governo no enfrentamento à pandemia do novo coronavírus.

"Fizemos uma caminhada em direção ao Palácio do Governo. Infelizmente,  fomos impedidos de chegar até o Palácio e o governador decidiu não receber os Presidentes de Rua que pedem políticas públicas para as favelas", disse o líder comunitário Gilson Rodrigues ao Conversa Afiada.

Segundo os moradores, "as comunidades enfrentam problemas como falta de água, testes, serviço de ambulâncias, alimentação e higiene".

Doria, em coletiva de imprensa, afirmou que não falta água em Paraisópolis. "Fizemos a instalação de milhares de caixas d’água e a instalação de água corrente em locais de alta densidade populacional da comunidade".

Em carta aberta, os moradores rebateram o governador.

Carta Aberta do G10 em resposta ao pronunciamento em 18 maio de 2020.

Nesta data, os Presidentes de Rua, moradores de Paraisópolis, realizaram uma caminhada pacífica em direção ao Palácio do Governo, representando as favelas do Brasil, cujo objetivo é cobrar das autoridades do Brasil, e, principalmente, do Estado de São Paulo, que sejam criadas políticas públicas específicas para enfrentamento ao avanço da COVID-19 nas favelas. 

Durante sessenta dias, a comunidade de Paraisópolis criou mais de dez iniciativas que estão sendo replicadas em outras 365 favelas, em 14 estados, em todo o Brasil.

Nossos governantes ignoram o fato de que enquanto uma parte da população está se salvando da crise, fazendo o seu home office e utilizando o álcool em gel e máscaras, a outra parte fica abandonada a sua própria sorte. Sem água, emprego, saúde e, pior que isso, é ignorar o fato que a maioria das mortes estão ocorrendo nas favelas por falta de condições para seguir as recomendações da OMS. É como se mais de treze milhões de favelados não existissem. 

A Prefeitura e o Governo do Estado de São Paulo usam as ações que foram anunciadas após o massacre dos nove jovens mortos em operação desastrosa no baile da DZ7, em 01 de dezembro de 2019, para justificar que estão fazendo alguma coisa pelas favelas durante a pandemia. Essas iniciativas anunciadas,  em sua maioria, não saíram do papel. Queremos políticas púbicas para todas as favelas do estado de São Paulo e do Brasil. Ações pontuais não atendem e não resolvem os problemas enfrentados pelas comunidades.

Com relação a coletiva de imprensa, é importante esclarecer que: 

1. As quase dez mil marmitas oferecidas diariamente em Paraisópolis são produzidas pelo grupo Mãos de Marias e em parceria com restaurantes locais. A iniciativa também tem recebido apoio de pessoas físicas, empresas e organizações sociais como SESI, que oferece 3.600 marmitas. Tanto o Governo do Estado de São Paulo quanto a prefeitura, sequer têm oferecido marmitas aos idosos conforme informado durante a coletiva de imprensa.

2. Sobre a canalização do córrego Antonico, desde 2006 nossa população recebeu milhares de promessas dos governos. Sem respostas, aguardamos ansiosamente o início das obras e a aprovação dos recursos do projeto de lei excedente das obras da operação urbana da Faria Lima, para ações habitacionais e de saneamento de Paraisópolis. 

3. Em relação ao atendimento às famílias com cestas básicas mencionado pelo prefeito, das 21 mil famílias que moram em Paraisópolis, a prefeitura entregou no dia 27 de abril 200 cestas básicas e na data de hoje mais 250 cestas.

4. Sobre a falta de água denunciada pelos moradores das comunidades, como Paraisópolis, o Governo do Estado de São Paulo ignora o fato que milhares de pessoas não têm água em suas torneiras e usa como justificativa ter entregado 1.200 caixas d´águas para uma população com mais de 21 mil famílias, desconsiderando que sem água na torneira não se enche caixa d´água.  A própria Sabesp em seu site mostra o equívoco do governador no que se refere a falta de água, pois divulga a redução da pressão, confirmando a informação da comunidade, que reclama a falta de água nas torneiras. 

5. Com relação aos equipamentos de saúde, a comunidade de Paraisópolis, que é atendida pela AMA e três unidades básicas de saúde (UBSs), mantidas por meio de parceria com o Hospital Albert Einstein, São fruto da luta da comunidade e inauguradas em outras gestões.  Os moradores de Paraisópolis precisam pegar até duas conduções para chegar até aos dois hospitais de referência.  Lutamos, há anos, pela construção do hospital geral para atender toda a região da Vila Andrade. Também, continuamos lutando para que toda a comunidade seja coberta pelo programa saúde da família.

6. Em 07 de abril, a prefeitura anunciou que o Centro Educacional Unificado (CEU) Paraisópolis seria transformado em um hospital de campanha, para atender os pacientes com Coronavírus. Até o momento, o CEU está fechado sem a realização de atendimentos e demais atividades e sem obras.

7. Com a falta de atendimento do SAMU, que não entra na Paraisópolis, nós, do G10 das Favelas, considerando o congestionamento do SUS, devido a pandemia, realizamos a contratação de três ambulâncias a serviço da comunidade 24h, com objetivo de salvar vidas.

8. Sobre o anúncio da ampliação dos técnicos do CRAS Vila Andrade, esclarecemos que foi uma reivindicação da comunidade pós Massacre dos jovens, pois o equipamento se encontrava defasado com ameaças de fechamento e com a equipe desfalcada. Não houve uma ampliação da equipe

9. Em relação ao centro de acolhimento, esse é fruto de uma parceria entre a comunidade e entidades privadas que forneceram os equipamentos e pagamento dos funcionários, enquanto a gestão cabe a comunidade. O governo, por meio da Secretaria da Educação, cedeu a liberação dos colégios Maria Zilda Gamba Natel e Etelvina de Góes Marcucci, nada mais além disso.  Trata-se de uma iniciativa idealizada e implementada pela comunidade, em parceria com a Associação Parceiros da Educação e empresa privadas. 

10. Sobre a questão política que o sr. governador tinha mencionado, ressaltamos que o G10 das Favelas é apartidário. Nossos dirigentes não são filiados a partidos políticos, tampouco são candidatos à Presidência da República.

Nós não queremos, de jeito algum, migrar para uma lógica política feita apenas de boas teorias. Não queremos políticas para alguns, mas, sim, para todos.