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Brito: militares vão se acovardar diante de Bolsonaro?

Fingir que Bolsonaro não existe faz outros poderes desaparecerem
publicado 20/04/2020
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Por Fernando Brito, no Tijolaço - Os jornais noticiam que os militares teriam se sentido em uma “saia justa” com a atitude de Jair Bolsonaro de ir fazer um minicomício pró-golpe na frente do Quartel General do Exército em Brasília – de resto algo articulado, pois as demais manifestações bolsonaristas pelo país foram, quase todas, à porta de quartéis.

“Saia justa”, como metáfora para o desconforto inerte e silencioso, neste caso é um eufemismo para covardia. E de recusa em evitar as consequências de suas más escolhas.

Há muitas maneiras de fazê-lo sem praticar um golpe.

Bastaria, por exemplo, uma declaração de um ou de todos os comandantes militares de que as Forças Armadas não permitirão atentados contra a independência dos poderes republicanos, aliás o que está expresso no malsinado Artigo 142 que o bolsonarismo invoca para pedir uma “intervenção militar com Bolsonaro no poder”.

Lá, diz-se com todas as letras que as Forças Armadas destinam-se ” à garantia dos poderes constitucionais”.

Poderes, no plural; constitucionais, na essência.

Toda esta agitação cessaria e o próprio Bolsonaro, diante do anúncio da oposição ativa e resoluta a qualquer quebra da ordem constitucional, ira para a quarentena política em que se encontra bufando, mas inofensivo.

Não fazê-lo em nome da hierarquia devida ao cargo que dá o comando das Forças Armadas ao presidente faz com que, em nome deste pilar da organização militar, quebre-se o outro, tão indispensável: o da disciplina.

O presidente da República, em praça pública, pregando um golpe contra a ordem constitucional é um convite a que a força armada real: a média e baixa oficialidade, a soldadesca e as forças auxiliares, representadas pelas polícias (já tão milicianizadas) sintam-se à vontade para apoiá-lo e repeti-lo, na certeza de que há espaço para isso.

E onde se vai a disciplina, vai-se a hierarquia, ao ponto que os generais acabarão sendo por eles comandados e tendo de lhes seguir as loucuras, para não serem atropelados.

Jair Bolsonaro provou-se hábil em usar o sentimento corporativo dos militares para subverter seus princípios, tanto que de oficial indisciplinado, à beira de uma expulsão desonrosa, foi capaz de, com a demagogia e o voto dos quartéis, fazer-se deputado para, enfim, arrastar altos oficiais para uma aventura que parecia lhes dar o poder, mas deu-lhes a vergonha pública.

É inútil esperar que Bolsonaro cesse sua ofensiva alucinada sem que encontre uma linha de resistência que a sociedade, por conta da pandemia, está impedida de dar, enchendo as ruas contra o genocida, que não vai parar por conta dos tiros levíssimos das notas de repúdio.

O paraquedista presidencial já está atrás das linhas de comando dos generais fechando o cerco do qual só se vê o lado das matilhas furiosas, mas que carcome, a cada dia, o poder hierárquico que se a indisciplina constitucional enfraquece.