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Bolsonaro mobilizou o fascismo via WhatsApp

Amadeu: o Golpe destruiu os parâmetros da realidade!
publicado 12/12/2018
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(Charge: Beto)

O Conversa Afiada reproduz trecho de entrevista concedida pelo sociólogo Sergio Amadeu, professor da Universidade Federal do ABC e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo, a Nina Fideles e Mayara Paixão, do Brasil de Fato:

(...) Como você avalia o uso do WhatsApp nas eleições e as maneiras de conter as fake news?

O que aconteceu no Brasil foi um processo de desconstrução dos parâmetros de realidade. Isso já havia acontecido na eleição do Donald Trump, nos Estados Unidos. Um grupo novo da extrema-direita norte-americana considera que o capitalismo não se desenvolve corretamente porque existe um predomínio no mundo todo do que eles chamam de marxismo cultural. Eles se colocam em uma posição de lutar contra o sistema e, obviamente, o que eles usam para isso não é razoável e historicamente sustentável, então se propõem a destruir o debate e trabalhar com dogmas. Eles fizeram isso numa parte dos EUA, na eleição do Trump, e deu certo.

No Brasil, o que aconteceu foi que durante o processo do golpe foram destruídos os parâmetros da realidade. É óbvio que os políticos são complicados, e que o PT é um partido que tem sim gente que entrou na corrupção. Agora, transformar o PT no partido mais corrupto do Brasil é perder a noção. É só olhar qualquer indicador que se vê que a corrupção é estrutural na elite brasileira e está no judiciário, além de ser alimentada, principalmente, por partidos de direita. O PT resistiu muito contra a corrupção e isso foi invertido.

Quem ajudou nesse processo foi a Globo, o núcleo duro do tucanato, o (Rodrigo) Janot. Eles não perceberam a nova direita que se aproveitava disso melhor que eles. Entraram pelos dutos do WhatsApp usando técnicas de big data para atingir pessoas específicas, com um determinado preconceito. Esse preconceito foi amplificado e as pessoas começaram a receber isso com “carinhas bonitinhas”, mas os textos eram feitos por profissionais através de disparos comprados no exterior.

Se o WhatsApp quer contribuir com a democracia, que ele entregue os metadados dos dois meses em que aconteceram essas eleições. Eu não quero saber o que as pessoas falaram e qual o conteúdo das mensagens, eu só quero os disparos que vieram do exterior. Não entregam porque estão protegendo esse grupo que assaltou e fraudou as eleições no Brasil, e isso, as pessoas precisam saber. Não estou dizendo que não existe fascismo no Brasil, que não existem grupos de extrema-direita, que não tem o antipetismo. Fizeram uma onda que nunca se viu. O debate eleitoral foi anulado, ninguém discutiu nada, e fizeram essa ação. É uma situação atípica que vai dar muito trabalho para desconstruir.

Foi preparado um caminho e o Bolsonaro se aproveitou disso?

Ele tomou a hegemonia. O núcleo duro do golpe não incluía o Bolsonaro. O Bolsonaro é um sujeito execrável e não é levado a sério, mas ele mobilizou o fascismo no Brasil. Essa direita norte-americana conhecida como alt-right, ou direita alternativa, tem um projeto de poder mundial através do radicalismo do neoliberalismo, e, do ponto de vista político, do Dark Enlightment, o iluminismo às avessas da obscuridade. Quer destruir os parâmetros da razão.

Falar que o Brasil é socialista? Por que temos direitos? Então quer dizer que Portugal, França, Bélgica, Holanda são socialistas. Os Estados Unidos têm mais direitos que nós. Para falar que a Ku Klux Klan é de esquerda é porque você não quer nem ouvir o líder, que diz que é da supremacia branca da extrema-direita americana. Esses caras têm um projeto de hegemonia, e usam esse termo inclusive. Tem um livro que sugiro chamado Kill All Normies, da pesquisadora americana Angela Nagel, que fez um levantamento sobre como atua essa direita alt-right.

Não é uma disputa onde um político que mostrasse despreparo e apresentasse dados falsos perderia votos. A realidade tem que ser destruída do ponto de vista simbólico para que eles tenham chance de debate. Para destruir os direitos mínimos que foram alcançados no Brasil, vão ter que convencer as pessoas que isso é bom. Não dá para convencer, porque é ruim, então o caminho é os factoides, com mentiras, ‘kit gay’ e perseguição.

Por que o Moro, que não era do grupo do Bolsonaro, virou? Porque ele se adequa. Ele é uma correia de transmissão para destruir a economia nacional. Agora, ele vai perseguir os sindicatos e as universidades, que são os centros que vão oferecer resistência a essa política de desmonte do país.

(...)

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