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Sem radicalização, o tombo será da escada

As forças progressistas caíram quando Dilma desmobilizou o eleitorado. A queda será de cima se houver conciliação de classe
publicado 05/12/2017
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Conciliar com quem?

O magnífico artigo "Sem confronto, Lula está perdido", de nosso exclusivo colUnista Joaquim Xavier foi capaz, desde já, de produzir um salutar efeito: motivar a Maria Inês Nassif a escrever (bem, como sempre!):

Não é a mera vontade dos atores políticos, mas é a história que abre as portas para a ascensão (ou descenso) das forças progressistas e democráticas da sociedade. Se há um entendimento claro da História, a vontade das forças políticas é capaz de fazer a sociedade deter a marcha dos reacionários (na acepção das palavras, aqueles que reagem às mudanças), reconquistar conquistas (no atual momento, é esse o problema) e aprofundar a Democracia política e social. Se a vontade for contra a História, a força estará contra o inimigo.

Isso não é um manual comunista, mas a simples realidade num país que, em poucos anos de governos progressistas, reverteu uma História desigualdade de classes, tirou a fome do dicionário dos pobres, deu a eles perspectiva de futuro e avançou tecnologicamente em setores que seriam o grande impulso a uma economia que viveu na órbita do Imperialismo.

Isso, na verdade, é um manual de sobrevivência.

Em 2005, a Presidenta Dilma Rousseff – ainda Presidenta porque foi deposta por um golpe – apenas foi eleita porque houve radicalização na base. Ela foi obrigada a falar mais alto na eleição porque, mobilizadas pelas eleições, as classes sociais que tinham muito a perder com um governo tucano radicalizaram antes. Foi a mobilização dos setores progressistas que a levaram ao Palácio do Planalto novamente. Foi a radicalização das esquerdas que deteve a tropa da direita radicalizada.

Uma vez eleita, sem maioria no Congresso e com medo do agravamento da crise econômica, Dilma desmobilizou as bases e tentou empreender um programa que atraísse a Direita. Tirou dos seus pés o único pilar que a sustentava: a mobilização popular. A direita forçou o tombo.

Falar em conciliar agora é tirar a escada dos pés do pintor que tenta dar uma nova cor ao quadro político. A Direita faz testes das chances de inúmeros candidatos capazes de polarizar com Lula na disputa, mas isso está longe de significar que os artífices e os executores do Golpe estarão rachados lá na frente, na hora que as urnas se abrirem – ou não abrirem (isso vai depender do que acontecer até lá, porque a Direita está e continuará radicalizada e jura para as classes médias que o fantasma comunista, em desuso no mundo inteiro, está à espreita).

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva não vence; ou é proibido pela Justiça de concorrer; ou eleições não acontecem.

Esse é o quadro real para as forças progressistas se não houver radicalização do lado de cá, como há radicalização do lado de lá. Não haverá futuro para o Estado-Nação (que se dissolve nas mãos dos decretos de Temer que escancaram o Brasil para a Metrópole) e para os seus pobres (que voltam às ruas com fome, com as mãos postas para receber uma esmola e com os olhos sem esperanças).

E a radicalização é organizar bases de resistência e de conscientização. O discurso não poderia ser mais concreto: cada dia, a quadrilha que se instalou no poder suprime um direito conquistado em todo o período anterior da República.

Não é hora de falar em conciliação, simplesmente porque as classes não querem conciliar. É um chamado inglório, para quem o fizer, e desmobilizante.

Não se pode cometer duas vezes o mesmo erro em período tão curto de tempo.

Por ele, pagamos com um tombo. Agora, vamos cair da escada.

Maria Inês Nassif