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Saturnino: esse chanceler é um acinte!

Presidente e Ministro desfazem a competência do Itamaraty
publicado 06/04/2019
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O Conversa Afiada publica um iluminado Correio Saturnino, do grande brasileiro Saturnino Braga:

O ITAMARATY


O brasileiro em geral tem, reconhecidamente, um espírito crítico aguçado, que constitui sem dúvida uma virtude, mas tem o vezo de depreciar seu País com uma frequência que resvala para um comportamento algo doentia, a meu juízo.

Luto contra esta tendência, referindo sempre à grandeza do Brasil, em território, em população, em avanços tecnológicos, com o na Embrapa, na Petrobras, na Embraer, no enriquecimento do urânio, na fibra ótica e em outros setores.

Entre estes “outros setores” há um que se destaca no meio político, merece atenção especial da opinião pública em geral, espraiando-se pelo mundo em setores específicos. Refiro-me à competência brasileira no relacionamento internacional. Seja com os nossos vizinhos latino-americanos, seja com os países ricos da América e da Europa, seja com os africanos, e até mesmo em ralação às nações da Ásia e do Oriente Médio, nossa presença é bem vista e nossa relação é fácil, sem problemas graves, do presente e do passado.

A organização deste setor no nosso governo está no ministério, que é conhecido internacionalmente como o Itamaraty, nome do belo palácio onde funcionou por décadas no Rio de Janeiro. Com respeito lá fora e com regozijo entre nós, o Itamaraty é um exemplo de competência na atuação governamental brasileira. Entre parênteses, registro que há outro setor com semelhante reconhecimento, que é o BNDES (com orgulho meu, daí o registro).

Esta competência tem uma história, que remete ao rigor técnico e à sensibilidade política do Barão do Rio Branco, que deixou sua marca de edificador da casa. E o reconhecimento dela conferiu ao Itamaraty um certo grau de autonomia, obviamente enquadrado, por ele mesmo, na linha política principal do governo.

Há um cuidado de todo Presidente brasileiro na designação do Ministro e nas ações e decisões de política externa, em buscar e respeitar um certo consenso com o Itamaraty.

Daí a estranheza com o caráter quase acintoso da conduta do atual Presidente no relacionamento externo: um atirar-se infantil, sem certo comedimento, aos braços do presidente americano e do primeiro ministro israelense.

Deve ser o comportamento caracterizador da “nova política” que não cultiva muito respeito ao passado. Mas é importante reconhecer riscos consideráveis neste comportamento.

Presidente e Ministro estão a desfazer toda uma construção delicada e competente do Itamaraty durante décadas que nos permitiu desfrutar de uma situação invejável de reconhecimento de Nação de Paz, ou, melhor dizendo -- tendo em conta as dimensões do Brasil -- Potência da Paz.

A correta e amigável manifestação do Governo Palestino, nesta semana, em relação a esta nova versão da política brasileira constitui, sem dúvida, um dado muito relevante do que pode vir a acontecer no relacionamento nosso com um importante grupo de nações que, além da proximidade étnica com grande parte de nossa população, tem um peso relevante nas nossas relações comerciais com o mundo, especialmente quanto às nossas exportações.

Enfim, escutar com atenção e respeito pessoas de destaque no Itamaraty, que tiveram participação na construção deste excelente relacionamento externo de que o Brasil desfruta, é o mínimo que a experiência e o bom-senso recomendam aos nossos governantes de hoje.

Oxalá recebam, a tempo, radiações de boa inspiração e busquem assessoria de boa qualidade, que certamente existe no Itamaraty, dentro da linha política que, afoitamente adotaram.

Roberto Saturnino Braga