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Por que Bolsonaro está preocupado com o telefone de Adriano?

Chagas: ele continua a pisar nas cascas de banana...
publicado 18/02/2020
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Por Helena Chagas, do blog Os Divergentes - Jair Bolsonaro conseguiu o feito inédito de unir contra si vinte governadores das mais diversas tendências e matizes políticos. A carta dos governadores tem como pano-de-fundo a sucessão de desentendimentos entre o chefe do Executivo e os titulares das administrações estaduais — a última, o desafio para que reduzam o ICMS dos combustíveis. Mas os signatários fizeram questão de mirar o ponto mais fraco do presidente da República: a relação com integrantes das milícias do Rio como o ex-capitão Adriano da Nóbrega, morto pela polícia baiana na semana passada.

Ao dar centralidade em sua carta à solidariedade ao governador petista da Bahia, Rui Costa, acusado por Bolsonaro pela suposta execução de Nóbrega, os governadores elevam o tema ao patamar de questão institucional. E expõem Bolsonaro como nunca.

Graças ao caso Adriano, o presidente da República deixou de lado seu comportamento habitual de apoiar a violência policial para formar ao lado de defensores dos direitos humanos — no caso, os direitos de Adriano, miliciano e amigo da família. Não que ele não tivesse direito e eles, como qualquer pessoa; o que se destaca aqui é a inflexão no discurso presidencial. Alguém já havia imaginado ver Bolsonaro esbravejando contra a execução de um “ bandido” ?

Mas isso é pouco. O presidente da República continua pisando na casca de banana que os governadores respeitosamente jogaram em seu caminho. Nesta manhã, no twitter, pediu uma “ perícia independente” sobre a possível execução, usando recurso e linguagem próprias da oposição e de quem questiona perícias oficiais, feitas por instituições públicas  como a Polícia, o Ministério Público, etc. Alguém já viu um presidente defendendo perícia independente da que dos órgãos do Estado?

Não contente, na sequência de tuítes de hoje pela manhã,  Bolsonaro trai sua enorme preocupação com o que pode ser encontrado nos telefones de Adriano: “quem fará a perícia nos telefones do Adriano? Poderiam forjar trocas de mensagens e áudios recebidos? Inocentes seriam acusados do crime?”.

Enquanto isso, no mundo lá fora, rola a greve dos petroleiros, a tentativa de fechar o texto da reforma da Previdência, os números débeis da economia, etc. Bem estranhas as preocupações desse presidente da República, e inevitável agora a curiosidade, depois que ele levantou a lebre: quem andou falando com Adriano?