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Podcast com Requião: Bolsonaro não tem viabilidade

Foi a Globo que desmoralizou os políticos e a política!
publicado 17/10/2018
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PHA: Eu entrevisto o Senador Roberto Requião e começo perguntando: Senador, o que foi que aconteceu no dia 7 de outubro de 2018, na eleição do primeiro turno?

Requião: Paulo, um tsunami. Foi o resultado de uma guerra híbrida, uma narrativa de desmoralização da política, de criminalização absoluta do PT e um movimento apoiado fortemente pela internet. Uma manifestação claríssima dos efeitos de uma guerra híbrida interna e externamente trabalhando no país. 

PHA: Por que externamente?

R: Porque eu acho que há evidências muito claras de que essa batalha, fundamentalmente do Whatsapp, foi deflagrada de fora para dentro. Plantando fakes, distorcendo notícias... E, ao lado disso, todo esse trabalho de desmoralização contra os políticos. Uma luta do bem contra o mal.

PHA: E quem fez esse trabalho de desmoralização da política e dos políticos?

R: Esse trabalho foi feito pela Rede Globo, pela grande mídia sistematicamente nos últimos tempos. A criminalização e, principalmente, a criminalização dos políticos progressistas. E eu não estou dizendo que boa parte deles não merecessem as punições e os processos, mas foi uma coisa dirigida. 

PHA: O senhor atribui parcela dessa culpa ao Juiz Moro?

R: O Moro foi um dos instrumentos, foi um dos instrumentos desse processo. Foi capturado pela vaidade, por uma verdadeira paixão pelos Estados Unidos - ele vai uma vez por mês, duas vezes por mês para os Estados Unidos. Foi um dos instrumentos. O Moro, uma parte do Ministério Público e a mídia, apoiando e estimulando a vaidade dessas pessoas que brilhavam quando agiam muitas vezes, inconscientemente, contra o Brasil.

PHA: Como o senhor explica o que aconteceu no Paraná e a sua derrota?

R: Eu em todos os trackings das vésperas eleitorais tinha entre 43 e 45% dos votos. Em alguns até 55. O Ibope, na véspera da eleição, publica um resultado de 39. Eu fui dormir Senador da República reeleito e acordei derrotado. Agora, o que o Ibope fez? O Beto Richa já havia sido completamente desmoralizado em função das ultimas acusações, da sua prisão, da sua família e do seu grupo de governo quase que integralmente. Mas o Ibope põe o Beto Richa com 21, como o segundo Senador a ser eleito pelo Paraná, e desencadeia o voto útil. "O Requião está eleito"... O Brasil inteiro dizia que eu seria um dos Senadores com maior voto do país proporcionalmente ao estado. O maior percentual. Vamos votar então no (Flavio) Arns ou no Oriovisto para eliminar o Beto Richa. O Richa não tinha mais nada. No nosso tracking ele tinha 6;  o Ibope apresentou com 21. Criou a ideia do voto útil. Mas eu também passei a ser, no Whatsapp, agredido de todas as formas. E um promotor irresponsável aqui do Paraná, que prendeu o Beto Richa, disse que a corrupção no pedágio passou pelos Governos do Lerner, do Requião e do Beto Richa. Não disse que corrupção havia no meu governo e eu fui um guerreiro contra esse roubo no Paraná e no Brasil. Imediatamente se apropriam disso para dizer que o Requião estava envolvido na corrupção. O promotor não disse, mas abriu a porta para quem quisesse dizer. Ele instrumentalizou a sua apresentação dando base a uma acusação desse tipo.

E passaram a fazer o diabo. Publicaram boletins de ocorrência, frios evidentemente, em que eu agredia a minha mulher e ela tinha reclamado em uma delegacia de polícia. Paulo, eu e você sabemos que quem apanha em casa as vezes somos nós. É uma coisa absolutamente ridícula. E aí me desmancharam a candidatura.

PHA: Você acha que o Ibope agiu deliberadamente para prejudicá-lo?

R: A mim não. A tirar mais um Senador desenvolvimentista e nacionalista do Congresso Nacional. Eu tenho dito sempre que quando eu quero comprar pão, eu vou numa padaria; peixe eu compro na peixaria; e pesquisas, num instituto de pesquisas. 

PHA: Existe a possibilidade do senhor ter pago um preço por defender o Lula até o fim?

R: Eu acho que sim. Eu acho que essa identificação foi colocada com uma insistência brutal. Agora você veja, se ela não existia até a véspera da eleição, como é que ela se consolida e se cristaliza em algumas horas? Eu acho o seguinte, Paulo: o Lula, o Requião, todo mundo pode ser objeto de investigação e não pode ter privilégio nenhum. Mas é evidente que aquela história do apartamento do Lula é uma falseta, né? 

Ela não tem nenhum suporte jurídico. Se o Lula tem outras culpas, que se levassem as culpas, processem e condenem o Lula, mas aquilo foi uma jogada para tirá-lo da disputa eleitoral.

Mas não foi tirar o Lula... Eu defendo o Brasil, não defendo o Lula. Eu defendo um projeto nacional, o nosso processo civilizatório... Não vai existir nação brasileira com entrega de terra, entrega de petróleo, com aviltamento do trabalho. Como é que pode haver desenvolvimento sem salário? Como é que pode haver desenvolvimento sem banco público?

Agora esse boneco falante do Bolsonaro diz: "vamos privatizar tudo"... O Banco do Brasil, a Caixa Econômica Federal, a Petrobras... Eles querem acabar com o país e nos transformar em uma espécie de de potência de quinta categoria, associada e subordinada a outros interesses. É uma vergonha o que está acontecendo no Brasil.

R: Paulo Henrique, eu não vejo um "preciso do Bolsonaro". O que eu vejo é um desencanto da sociedade brasileira, uma perda total de crédito dos políticos que foram... tiveram a sua imagem destruída pela narrativa da grande mídia. E esse desencanto é o mesmo que levou o Hitler ao Governo da Alemanha e lhe deu a condição de eleger um número fantástico de deputados e de ter o Chanceler. Agora, o Bolsonaro é o Bolsonaro. Eu convivi com o Bolsonaro no Senado esse tempo todo. É um deputado menor. 

PHA: Ele diz que vai preservar as empresas estratégicas, isso tranquiliza o senhor? 

R: Ele disse isso um dia e no dia seguinte o Paulo Guedes disse que não vai ser assim. E o Paulo Guedes é o Posto Ipiranga dele. 

PHA: Dele e de outros...

R: Dele e de outros... Veja, eu não vejo viabilidade no Governo do Bolsonaro. A mídia construiu essa imagem da falta absoluta de credibilidade na política. Você crê, Paulo, que algum parlamentar que conheça o Bolsonaro vá respeitá-lo como Presidente da República? Pessoalmente, que tenha convivido com ele esse tempo todo? Ele e as suas briguinhas de lavadeira com mulheres aqui e ali, discutindo no Salão Azul, no Salão Vermelho e dizendo estultices absolutas... O Bolsonaro nem fascista é. Ele tem uma visão preconceituosa, mas fascista não. Não é possível que o Brasil ceda à ganância internacional. Eu lia outro dia um artigo do Miola, interessante, que dizia que essa opção Bolsonaro se marca desde o seu batismo no rio Jordão de Israel, na tradição Judaico-Cristã. Seria uma aliança Estados Unidos e Israel, o Judaísmo clássico e fundamentalista e os Estados Unidos... Mas o Trump não está nessa, mais. O Trump está fazendo uma política reacionária, grotesca, mas nacional. Ele não está nem aí com a globalização e o domínio do capital financeiro. Ele está brigando por emprego nos Estados Unidos. 

PHA: Agora, Senador, com a sua responsabilidade política, o que o senhor acha que a oposição ao Bolsonaro, que é provavelmente o futuro Presidente... O que a oposição deve fazer? Como agir? Que bandeiras levantar? 

R: Eu acho que as bandeiras fundamentais são as bandeiras nacionais. Brasil Nação, projeto nacional de desenvolvimento. Nós temos que nos inspirar em países que saíram de crises muito maiores que a nossa. A Alemanha dos anos 30 e os Estados Unidos dos anos 30. Alemanha com Horace Greeley Hjalmar Schacht e Estados Unidos com Roosevelt e depois o apoio e a codificação das medidas do Keynes. Nos Estados Unidos, por exemplo, o Roosevelt, por sugestão do Henry Ford, diminui por lei a carga horária dos trabalhadores para por mais gente trabalhando e por lei aumenta o salário mínimo. Porque o Ford disse a ele quando ele tentou condecorá-lo em função da linha de montagem. O Ford, baseado nas ideias do Taylor, de que a produtividade aumenta com a especialização do trabalho, havia colocado esta tese na linha de montagem. Os trabalhadores especializados, em menor tempo, produziam mais e com mais qualidade. Então um grupo forjava um motor, outro grupo usinava, outro grupo montava uma caixa e isso se espalhou na economia americana, que era complexa, também como é a nossa hoje. E o Roosevelt resolve condecorar o Ford. Diz: "você está nos salvando, saindo da crise", e ele diz "não aceito, Presidente. Não aceito a homenagem porque nós estamos acabando com a economia americana e eliminando a possibilidade de desenvolvimento". "Mas por quê, Henry?" diz o Roosevelt, e o Ford explica: "porque nós estamos aumentando a produtividade e não temos consumo. Não tem quem compre." "Então qual é a saída?". E o Ford dá a saída: "diminua o tempo de trabalho por lei, aumente o salário e recupere a capacidade de demanda do país". Foi assim que começou a saída do New Deal, do Novo Pacto. Depois disso, Paulo, o que ocorreu? Grandes investimentos públicos, as hidrelétricas do Estado, as novas estradas (como na Alemanha fizeram as Autobahn, o acordo entre os grandes empresários alemães na reconstrução da infra-estrutura do país). Na Alemanha acabaram com o desemprego em seis meses e com a inflação em sete dias. Nós estamos fazendo o contrário. Nós estamos aviltando todo o processo civilizatório brasileiro e entregando ao comando dos interesses do grande capital financeiro nacional e internacional. Veja a equipe sugerida ou exposta pelo tal Paulo Guedes. Todos, praticamente todos com graduações e pós-graduações em universidades liberais de Chicago, nos Estados Unidos. 

PHA - Tudo Chicago Boys... 

R: ... Sem sentido de patriotismo, de fraternidade. São operadores do capital financeiro. E o Brasil tem que se livrar disso, ou agora na eleição... Eu vi hoje, na internet, o programa do Haddad batendo nessa violência, na tortura, que é essa a característica básica do Bolsonaro, pelo menos no seu discurso de boa qualidade, mas essa luta não pode parar na eleição. Você sabe, com o nosso Haddad, eu teria muita divergência. Eu fui oposição ao Governo quando o Meirelles mandava. E fui oposição ao Governo da Dilma quando o Levy era o condutor da economia. A minha postura, Paulo, é nacional-desenvolvimentista. Eu acredito no Brasil, nos brasileiros, nos nossos empresários e conheço a história econômica do mundo, a ponto de não aceitar em hipótese alguma esse modelo absolutamente estúpido de liberalismo econômico, aviltamento do trabalho e escravização de um país. É isso o que está em jogo, mas a narrativa nos leva a uma posição que não entende isso e imagina que estamos entre o bem e o mal. É o desespero, a falta de esperança que alimenta o voto no Bolsonaro, não é o Bolsonaro. Ninguém pode votar no Bolsonaro ouvindo o que ele diz, como ele fala e como se comporta. 

PHA: Agora, Senador, uma última pergunta...

R:... Talvez tenha sido um dos mais precários deputados das últimas legislaturas. 

PHA - Última pergunta, Senador. O que o cidadão Roberto Requião vai fazer a partir de 1º de janeiro? 

R: Eu sou militante político, Paulo. Perdi a minha posição no Senado. É claro que sinto isso. Sinto porque ajudei a segurar muita barbaridade no Senado, defender o Brasil, defender os nossos trabalhadores, defender os nossos empresários. Sinto porque me preparei a vida inteira para isso, estudando História, Sociologia, estudando Economia, e a minha participação seria uma participação interessante como foi nesse último período, mas sou um militante político. Continuo presente na luta política. Amanhã, convoquei uma grande reunião na sede do MDB, que eu presido no Paraná. É uma reunião a favor do Brasil. Eu, provavelmente, com o Haddad no Governo seria oposição ao Haddad. A minha posição é muito diferenciada a essa posição exposta pelo Haddad. Embora reconheça nele um cara sério, mas ele é um professor da USP...

PHA: O senhor preferia o Ciro?

R: ... Escola Fernando Henrique Cardoso. 

PHA- O senhor preferia o Ciro? 

R: Agora, nós não podemos aceitar isso. É votar no Haddad porque ele é a perspectiva do Brasil se rediscutir, do povo poder participar da grande discussão dos caminhos que nós vamos ter daqui pra frente na economia, na estrutura social, na organização administrativa. Momento trágico e difícil do Brasil. Mas, nós temos que tomar posição, porque o Brasil não começou ontem e não acaba dia 28. 

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