Política

Você está aqui: Página Inicial / Política / Lula mais do que nunca

Lula mais do que nunca

Xavier:​ por que só agora? O Barrocal abriu a portal do covil há muito tempo...
publicado 30/03/2018
Comments
bessinha.jpg

O Conversa Afiada publica sereno - como sempre - artigo de seu colUnista exclusivo Joaquim Xavier:

As prisões de assessores do núcleo duro do fantoche golpista michel temer ensejaram manifestações de júbilo de muita gente na oposição. Já há quem faça prognósticos sobre quanto tempo temer ainda ficará confinado no Jaburu. “Agora vai”, comemoram os mais apressados.

Por mais que o cenário político incandescente convide a tais arroubos, um pouco de reflexão é benvinda. Até o madeirame corroído pela maresia do cais do porto de Santos conhece as falcatruas decenais operadas por temer e sua quadrilha, com direito a mulheres enganadas, roubos de documentos, compra de juízes e muito, muito dinheiro rolando mar adentro.

Justiça seja feita, muito do mérito deste trabalho de exumação da maré de roubalheiras deve-se ao trabalho exemplar de André Barrocal, um jornalista digno desse nome e que trabalha na Carta Capital. Barrocal fez o básico. Cavocou a raiz dos fatos, em vez de se acomodar em conchavos com procuradores instrumentalizados. Suas reportagens são irrepreensíveis. Sobretudo acenderam a luz sobre papéis conhecidos há muito tempo, mas mantidos na escuridão pela máfia do grande capital com o conluio de juízes, políticos, bandoleiros e tantos outros que se mantêm no poder e agora o assumiram de vez.

A primeira pergunta é por que só agora as prisões foram decretadas, se o cheiro de estrume exala há décadas. Os argumentos do ministro Luiz Barroso, um notório debutante em questões de direito elementar, saltam aos olhos pela fragilidade. “Provas podem ser destruídas”. Respeite nossa inteligência, meu senhor.

O caso se arrasta há décadas, há anos bate na trave de donos de jornais e editores acovardados, fazendo prever que mais dia, menos dia, subiria à tona. Além de temer, alguns dos nomes mais vistosos do caso, o coronel “Laranja” Lima, é irmão de sangue e caixa de temer desde tempos imemoriais. José Yunes é da mesma cepa. Serviu até como mula para transportar dinheiro de corrupção. Na cara dura. Como diria o gatinho Moreira Franco angorá, especialista em cofres alheios, decididamente aqueles dois integram o grupo não-amador de pistoleiros profissionais espoliadores do país.

Alguém em sã consciência acha que tais delinquentes tarimbados já não tomaram há tempos providências para eliminar pistas cruciais de seus malfeitos? Parece claro que o motivo e sobretudo o timing das prisões está muito mais afeito à decomposição irreversível do judiciário, às revanches fratricidas entre rábulas capturados por interesses particulares e deslumbrados com sua própria insignificância __ muito mais por tudo isso do que por súbita sede de justiça. Certo, sempre há um ou outro rastro a escapar. Mas o essencial, ou boa parte dele, há muito virou pó.

Há um efeito colateral superlativo, porém. Desesperados com a possibilidade real de Lula disputar a eleição –esse será sempre o centro do problema!--, a tal ala penintenciarista (coincidentemente a mais celebrada pela Rede Globo) quer mostrar que “ninguém está acima da lei.” Ora, se correm atrás de temer (ou melhor, por enquanto fingem que vão, com décadas de atraso), por que aliviar com Lula? Por trás dessa aparente simetria, revela-se por inteiro a assimetria inolcutável, de classe social. Sacrificar a esta altura um personagem imprestável como temer, odiado como radiativo, líder mundial em rejeição, derrotado na principal reforma prometida aos seus senhorios –o fim da aposentadoria—é chutar cachorro morto. Mas o embrulho tentaria ser vendido à opinião pública como moeda de troca para guilhotinar Lula em nome da “imparcialidade.”

Nada disso implica poupar temer, o vampiro ladrão. Longe disso. Ninguém é louco a este ponto (talvez nem o alucinado Marun), nem os ministros que batem em retirada na velocidade da luz. Temer já deveria estar respondendo por sua capivara há bastante tempo. Punguista desclassificado, nunca deveria ter assumido o governo. Aliás, nunca assumiria não fora por um golpe calhorda.

Detalhe não menos importante: sintoma deste isolamento irremediável mesmo entre acólitos, da força do povo organizado e que passou quase despercebido, foi a derrota acachapante do plano de liquidação da aposentadoria dos servidores em São Paulo. Manifestações gigantescas enfrentaram a polícia para atropelar maioria de 44 a 11 que Dória (PSDB) –temer (MDB) cantarolavam na Câmara de São Paulo, sepultando os planos de destruição da previdência municipal.

Mas as minúcias do jogo político ainda jogam peso decisivo nessa hora. Por isso apoiar histericamente que se faça um processo sumário para “finalmente pegar o presidente" custe o que custar, sem o devido processo legal que hipocritamente querem negar a Lula, é cair no jogo do inimigo.
Isso não exclui que a precipitação dos fatos imponha ritmos mais ou menos velozes. Como se diz por aí, não vivemos tempos normais, ou vivemos tempos estranhos.

A caravana de Lula está aí para provar. Desagregada por suas próprias contradições e interesses mesquinhos, a elite não controla nem suas tropas. Por pouco, um grupo de fanáticos e covardes proto-fascistas, após o assassinato de Marielle e do motorista Andrerson, tentou fazer o mesmo com Lula sob os olhares cúmplices da polícia federal e governadores pró-golpistas. Quase conseguiu. E sem que a presidenta Cármem Lúcia, do STF, soltasse uma única nota oficial de repúdio ao banditismo político.

Quando as coisas chegam a este patamar, fatos imponderáveis e incidentais são fios desencapados prontos a desencadear incêndios. Ambiente para isto existe; veja-se, a propósito, o fiasco retumbante da semi-quartelada no Rio e o canibalismo político da direita em busca de candidatos. Mas continuam a ser fatos imponderáveis e incidentais. Naquilo que a política oposicionista pode agir com reflexão -não acomodação!-, acima de tudo a luta fundamental continua sendo assegurar a liberdade de Lula, garantir eleições democráticas com a presença do ex-presidente na urna e construir uma ampla e sincera frente de oposição ao golpe de 2016, o maior responsável pelo clima de faroeste antipopular que a elite apodrecida quer espalhar no país para cancelar o pleito presidencial. E fazer isso sem nunca dar trégua a temer e sua gang ou oferecer a outra face aos coveiros das liberdades, da democracia e da soberania nacional.

Em tempo: não deixe de assistir à TV Afiada "O Supremo é um campo de batalha"