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Lula é a nova esquerda

Mírians Leitões, Pérsios Aridas, Pallocis, Gianettis, Cristóvam Buarques, Gabeiras​ - essa "nova esquerda"... ​
publicado 08/04/2018
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Trabalhadores carregam Lula depois de seu discurso no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo (SP), na tarde deste sábado, 7/IV (Crédito: Danilo Quadros)

​O Conversa Afiada tem o prazer e publicar sereno (sempre!) artigo de seu colUnista exclusivo Joaquim Xavier:​

Após a prisão de Lula, nada mais desmoralizante que voltar a ouvir das mais diferentes vozes pregações sobre a necessidade de “uma nova esquerda”, “mudar referências”, “transformar a política” e outras platitudes igualmente “geniais”. Gente até de bem repercute esses chavões com elegância postiça, de fato apenas para lavar as próprias mãos e aliviar consciências incomodadas pelos erros e covardias.

Já tivemos vários exemplos de onde foi parar a experiência de “nova esquerda.” Demetrios Magnolis, Reinaldos Azevedos, Mirians Leitões, Persios Aridas, Antonios Pallocis, Eduardos Gianettis, Cristovam Buarques, Fernandos Gabeiras –a lista é infinita. Todos eles se dizem egressos de grupos marxistas e assemelhados (alguns até foram, certamente por acidente antropológico). Até descobrir que o valor do dinheiro, para eles, fala mais alto que idiossincrasias de caráter ou ideologia. Para não pegar mal, auto​-​intitulam-se “progressistas”, “conservadores do bem” ou qualquer outro rótulo patético recolhido na estante de sebos.

A praga não se resume a nomes. Mundo afora, agremiações elegeram a internet, redes sociais e outras tralhas eletrônicas como a salvação definitiva. O trabalho estava feito. Não é mais preciso mobilizar as pessoas, convencer o colega ao lado, discutir idéias, debater, organizar. Fazer política enfim. Basta meia dúzia de clicks num celular ching ling para conquistar a “transversalidade” universal. Não passou muito tempo para se ver no que deu.

A Primavera Árabe, eleita como símbolo destas “revoluções eletrônicas”, mergulhou rapidamente num outono sem fim pela falta de um programa de transformações. Partidos como o grego Syriza mal esperaram chegar ao poder para entregar a Grécia numa bandeja à troika do FMI, Banco Central Europeu e Comissão Europeia. O Podemos espanhol, que se rejubilava de plebiscitos intermináveis em redes sociais para tomar decisões, recolheu-se à irrelevância. Sobre a finada Rede de Marina Cintra nem vale a pena falar, até por compaixão.

Faltasse lápide para enterrar tais “experiências inovadoras”, ela surgiu recentemente quando se demonstrou que o Facebook não passa de um comércio de intimidades a serviço do dinheiro grosso. É este que dita a tal democracia eletrônica, hoje para eleger Trump, ontem para fabricar Dorias, amanhã para eleger Bolsonaro e quem sabe até um Meirelles e um Temer! Tudo emoldurado com fotos de gatinhos excêntricos, selfies insossas e recuerdos familiares totalmente sonolentos.

A digressão, embora longa, vale a pena para espantar de vez as cretinices em voga privilegiando os meios em desfavor das mensagens que eles difundem. Ninguém desconhece que a propaganda em massa é um instrumento poderoso, poderosíssimo. E que por isso deve ser utilizado em todas as suas possibilidades –veja-se o que faz a Rede Globo. Mas isso é apenas parte da história. Parte.

O caso Lula é um grande exemplo. Seu destino não tem sido ditado por tramoias eletromagnéticas –até porque o PT é um fiasco consumado de comunicação. Fosse assim, Lula não seria imbatível, como é, em todas as pesquisas. A maior parte dos seus eleitores mal têm acesso às traquitanas vendidas a preço de banana na Santa Ifigênia. Votam em Lula por razões muito claras: o progresso social que ele proporcionou, os empregos que ele criou, a comida que ele pôs em pratos antes vazios, o acesso ao estudo, a eletrificação que ele patrocinou, a água que ele fez jorrar onde a seca predominava.

Isso tudo é que torna Lula insuportável para a elite apodrecida que governa o Brasil há séculos. O nome disso é velho, falta-lhe o charme das bobagens acadêmicas (o papel aceita tudo), não é “muderno” e tampouco sensibiliza iluminados que a cada gole pensam descobrir a pólvora.

Chama-se luta de classes.

Os personagens podem mudar, as circunstâncias têm suas diferenças, os ritmos e prazos certamente variam, as táticas mudam, mas a essência continua a mesma. A mesma essência que, repito mais uma vez, no Brasil e em São Paulo venceu de forma categórica a tentativa de liquidar a aposentadoria, conquistou moradia para mais de oito mil famílias acampadas no ABC e derrota no combate do dia a dia a extinção da CLT.

Esse é o caminho, da luta política organizada, do povo mobilizado. Resta saber se os partidos e entidades que dizem falar em nome do povo estarão à altura disso, deixando de lado suas mesquinharias eleitoreiras para garantir eleições democráticas com o direito de Lula ser candidato.

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