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José Augusto Ribeiro: quer eleição? Então derrube o Temer!

Cancelar o pleito é "desdobramento necessário" do Golpe
publicado 11/04/2018
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O Conversa Afiada reproduz texto de José Augusto Ribeiro, jornalista e historiador:

Quem vai garantir a eleição deste ano?


Na tarde de sábado, pouco depois do discurso em que Lula anunciou sua disposição de entrar na cadeia de cabeça erguida, para dela sair de peito estufado, o site UOL registrou os primeiro sinais de inquietação, na casta política anti-Lula, com um possível recrudescimento da Lava Jato, desta vez para o outro lado.

- Agora a Justiça vai ter de entregar alguma cabeça coroada do outro lado – diziam os porta-vozes não identificados desse receio, tomando cuidado para não falar em Lava-Jato e sim em “Justiça”. Entre as cabeças mais ameaçadas pelo alfange vingador e agora giratório da cruzada pretensamente anticorrupção, estariam as de Temer e Aécio Neves. A de Temer, porém, estaria mais à altura de Lula, não por qualidades pessoais ou popularidade, mas por ser, como se diria na época do regime militar, uma cabeça quatro estrelas

Temer conseguira sobreviver aos grampos de Joesley Batista e a duas denúncias do ex-Procurador-Geral Rodrigo Janot, mas não sobreviveria a uma terceira denúncia, da nova Procuradora-Geral, Raquel Dodge, insuspeita e insuspeitável de parcialidade contra ele.

Na alucinante velocidade com que as coisas estão acontecendo no Brasil, vamos supor que Temer não se aguente e acabe deixando a Presidência. Já não podemos achar que tal desfecho seja impensável, depois da prisão de Lula e do golpe que foi o impeachment de Dilma. Quem, hoje, além da dalagnólica proponente do impeachment, levará a sério aquela cruza de mula-sem-cabeça com monstro do Lago Ness das tais pedaladas fiscais? No caso Temer, qualquer vacilo de seua amigos investigados vai ressuscitar e revalidar a carga explosiva da conversa com Joesley.

Até recentemente suspeitávamos que a Ministra Cármen Lúcia, Presidente do Supremo, era candidata à vaga de Temer, a ser eleita pelo Congresso para completar o mandato que o país conferiu a Dilma em 2014. Agora devemos suspeitar igualmente de outro propósito embutido nessa jogada: depois da investidura de Cármen Lúcia viria o que aconteceu em 1964, em seguida à derrubada do Presidente João Goulart. O Marechal Castelo Branco foi eleito pelo Congresso em abril, prometendo realizar a eleição presidencial prevista para 1965, mas já em julho teve seu mandato prorrogado até o início de 1967. Em junho, por via das dúvidas, a linha dura civil-militar tinha forçado Castelo a cassar o ex-Presidente Juscelino Kubitschek, que derrotaria qualquer candidato nessa eleição, assim como Lula na eleição de 2018. Ainda em 65, o AI-2 acabou com a eleição presidencial direta.

Por vários motivos, o cancelamento da eleição deste ano tornou-se um desdobramento necessário do impeachment de Dilma.

Temer, em primeiro lugar, não conseguiu (nem tentou) retomar o crescimento da economia e reduzir o desemprego, e seu governo logo caíu em descrédito, com medidas suicidas como a PEC dos gastos, a reforma trabalhista, a reforma da Previdência e o metódico e criminoso desmantelamento da Petrobrás – além do envolvimento dele mesmo e de vários de seus homens de confiança em casos de corrupção a que a mídia teve de dar grande destaque, para manter seu público iludido quando ao verdadeiro objetivo da cruzada contra Lula.

Em segundo lugar, a suposta liquidação das esquerdas nas eleições municipais de 2016 não aconteceu, porque num instante alguns dos maiores vencedores estavam desmoralizados, sobretudo, e contagiosamente, o sôfrego Doria, que já assumiu pensando em deixar a Prefeitura de São Paulo para disputar a Presidência da Repúblia e agora não tem certeza nem de chegar ao segundo turno como candidato ao governo de São Paulo.

Em terceiro lugar, a cruzada midiática e judiciária contra Lula, iniciada com sua condução coercitiva em março de 2016, encarregou-se com a maior competência de promover sua ascensão nas pesquisas eleitorais. Em maio de 2017, Lula chegou já com 30% a seu interrogatório pelo então imbatível Sérgio Moro, e continuou crescendo depois da condenação. Se qualquer dos institutos não incluir seu nome nas próximas pesquisas, a pretexto de Lula estar inelegível, podemos ter certeza de que ele cresceu ainda mais.

Com tantas razões para adiar a eleição presidencial, nem é preciso perguntar por que trocar Temer por Cármen Lúcia. Prorrogar Temer, pendurado no 1% de seu apoio nas pesquisas e na iminência de nova denuncia criminal? Prorrogar Cármen Lúcia, sim, coroando sua dedicação à cruzada da Lava Jato.

A prorrogação de Cármen Lúcia seria justificada e engolida com os mesmos argumentos da prorrogação de Castelo em 64 – a necessidade de um freio de arrumação para restabelecer a ordem no país, pacificá-lo e prepará-lo para um debate eleitoral saudável em 2019, depois de exaurida a onda de radicalização e descontrole destes dias.

O projetado upgrade de Cármen Lúcia a Presidente da República foi abortado nas últimas semanas pela crise do Supremo. Hoje nem ela mesma desconhece isso. Mas é preciso que Temer caia, não porque ele tenha condições de opor qualquer resistência ao adiamento da eleição, e sim porque a eleição só será adiada com um simulacro de bons modos se tivermos na Presidência alguém prorrogável, o que o Presidente da Câmara, Rodrigo Maia, também não será.

Quem, então, na Presidência? Se as forças interessadas na prorrogação já estiverem cogitando de alguém, será bom que as forças interessadas na eleição – as de Lula, Manoela D’Ávila, Guilherme Boulos, Ciro Gomes, Henrique Meirelles, Joaquim Barbosa, Marina Silva e até Bolsonaro - comecem a pensar em alguém para o lugar de Temer, na eventualidade de sua queda.

Se olharmos de saída para o plenário do Supremo, tão visível pela TV nas últimas semanas, talvez não seja preciso olhar para outro cenário, porque vamos encontrar na cadeira de decano o Ministro Celso de Mello, que cresceu muito nas últimas sessões do tribunal, tanto pela firmeza de sua posição constitucionalista quanto por enfrentar como enfrentou a entrada em cena do General  Villas Boas, Comandante do Exército.

Nem Sérgio Moro, cujo poder de veto chegou tão longe, terá condições de vetar Celso de Mello, depois de o ter colocado, em sua recente entrevista ao programa “Roda Viva”, como um modelo de ministro do Supremo. O próprio General Villas Boas  terá visto na censura a sua intromissão o pulso firme necessário a um Comandante em Chefe das Forças Armadas

Com a Presidência da República nas mãos de alguém que se credenciou tão apropriadamente na mais grave crise política do país desde 1964, creio que a eleição deste ano ficará muito menos ameaçada.
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