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Igreja reage a grampo bolsonário

Posição da Igreja está na encíclica Laudato Si
publicado 11/02/2019
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Papa no Brasil: ele acusou os ricos de depredarem a Amazônia. Imagem: Buda Mendes/Getty Images

O Conversa Afiada reproduz do Jornal do Brasil: 

Reação do Planalto ao Sínodo surpreende a Igreja

A Igreja Católica reagiu com surpresa à informação de que o Palácio do Planalto a vê como potencial opositora ao governo Jair Bolsonaro. Segundo reportagem do jornal "O Estado de S.Paulo", o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) estaria preocupado com a repercussão internacional de eventuais críticas a serem feitas pelo episcopado à política do governo para o meio ambiente. O foco de preocupação seria o Sínodo da Amazônia, previsto para outubro, em Roma.

Os organizadores do evento recordam o seu lançamento foi feito em outubro de 2017 pelo Papa Francisco, quando Bolsonaro não imaginava que seria presidente da República. "Não há a menor conotação político-partidária no Sínodo. Qualquer consideração que seja feita pelos bispos durante o evento terá como base as escutas territoriais dos povos. Esse é o apelo do Papa Francisco, que ouçamos o clamor dos povos e prestemos atenção às necessidades da amazonia", comenta a irmã Irene Lopes, assessora da Comissão Episcopal para Amazônia da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), uma das organizadoras do Sínodo no Brasil.

Ela lembra inclusive, que as discussões extrapolam o Brasil já que contarão com a participação das conferências episcopais de nove países que integram a Rede Eclesial Pan-amazônica (Repam).

A irmã lembra ainda que o posicionamento da Igreja a respeito das questões ambientais e indígenas já estão colocadas no documento preparatório ao evento e na Encíclica Laudato Si, de Francisco, que trata do meio ambiente. "O Sínodo pretende verificar, a partir das escutas territoriais, como será possível preparar um futuro tranquilo para as novas gerações que vivem na Amazônia".

Liderança do PT com maior ligação com a Igreja Católica, o ex-ministro Gilberto Carvalho disse que a decisão do governo Bolsonaro de monitorar os bispos que vão participar do Sínodo da Amazônia expõe o Brasil ao "ridículo internacional". Segundo ele, é errado supor que a Igreja é um "braço do PT", como pretendem setores do governo. Para Carvalho, ao mirar nos bispos, o governo, que tem forte influência evangélica, estimula a divisão religiosa no Brasil e tenta encobrir os problemas ocorridos no início da administração Bolsonaro.

"Como brasileiro, fico envergonhado", disse Carvalho. "O Sínodo é uma iniciativa da Santa Sé que articula bispos de toda a Amazônia que vai muito além do Brasil. Tem o Peru, Colômbia, Venezuela, Equador", concluiu o ex-ministro. Dizendo esperar que os militares "com bom senso" revejam o que ele chama de "tentativa de criar um Estado policialesco", Carvalho considera perigosa a ofensiva do governo amparado por evangélicos contra a Igreja Católica.

"Uma notícia dessas ridiculariza o Brasil, além de mostrar a pretensão de criar um Estado policialesco. Ao mesmo tempo põe lenha na fogueira dessa guerra religiosa que eles tentam criar no Brasil. É perigoso separar católicos de evangélicos. Este governo tem um setor evangélico com muito peso e isso é ruim para a laicidade do Estado, para a liberdade religiosa", afirmou

O alerta ao governo veio de informes da ABIN e dos comandos militares.O ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno Ribeiro, confirmou a "preocupação" do Planalto com as reuniões e os encontros preparatórios do Sínodo sobre a Amazônia, que ocorrem nos Estados."Há muito tempo existe influência da Igreja e ONGs na floresta", disse. "A questão vai ser objeto de estudo cuidadoso pelo GSI. Vamos entrar a fundo nisso."

Como parte de uma estratégia para combater a ação do que chama de "clero progressista", o Planalto recorrerá à relação diplomática com a Itália, que vive um bom momento desde a prisão de Cesare Battisti. A equipe de auxiliares de Bolsonaro tentará convencer o governo italiano a interceder junto à Santa Sé para evitar ataques diretos à política ambiental e social do governo brasileiro durante o Sínodo.

A ação diplomática terá várias frentes. Numa delas, o governo brasileiro quer procurar os representantes da Itália e do Vaticano no Brasil - Antonio Bernardini e d. Giovanni D'Aniello, respectivamente - para pedir a ajuda deles na divulgação dos trabalhos brasileiros nas áreas social, de meio ambiente e de atuação indígena. Serviria como contraponto aos ataques que o governo está certo que sofrerá no Sínodo, por ver influência de partidos de esquerda nesses setores.

Os embaixadores do Brasil na Itália e no Vaticano também terão a missão de pressionar a cúpula da Igreja para minimizar os estragos que um evento como esse poderia trazer, dada a cobertura da mídia internacional.