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Ciro: Lula só sai da cadeia se a gente assumir

Tem que botar a Justiça na caixinha
publicado 25/07/2018
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O Brasil não aguenta um outro poste! (Convenção nacional do PDT, Brasília, 20/VII - Créditos: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

O Conversa Afiada reproduz do PiG cheiroso e do Estadão, em comatoso estado, declarações de Ciro Gomes.

Ao Estadão, segundo Gilberto Amendola:

Lula 'só tem chance de sair da cadeia se a gente assumir o poder', diz Ciro


Em entrevista concedida ao programa Resenha, da TV Difusora, no Maranhão, no dia 16 deste mês, o candidato do PDT à Presidência da República nas eleições 2018, Ciro Gоmes, afirmou que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, condenado e preso na Operação Lava Jato, só teria chance de sair da cadeia se ele (Ciro) fosse eleito.

"Só tem chance de sair da cadeia se a gente assumir o poder e organizar a carga. Botar juiz para voltar para a caixinha dele, botar o Ministério Público para voltar para a caixinha dele e restaurar a autoridade do poder político", afirmou Ciro.

A frase foi dita no contexto de uma resposta ao jornalista Itevaldo Júnior em que o pedetista tentava explicar a estratégia do PT em insistir na candidatura de Lula — mesmo após a condenação em segunda instância da Justiça e prisão. “Estão cansados de saber que eles não vão deixar o Lula ser candidato, pela Lei da Ficha Limpa que o próprio Lula botou pra valer (...)”.

Na resposta, Ciro descreve aquilo que o PT estaria pensando: “Nós vamos manter a candidatura do Lula, continuar dizendo que ele é candidato, e lá pelo meio de setembro, que a Justiça disser que o Lula não é candidato, o Lula então diria assim: 'Então se não vão deixar eu vai ser fulano.'"

O pedetista também afirmou que o Brasil “não aguenta um presidente por procuração a uma altura dessas” – referindo-se a um presidenciável que fosse escolhido por Lula.

“Eu gosto muito do Lula, mas só porque gosto muito, ele vai apontar outra Dilma (Rousseff). “O Brasil está em um momento muito difícil, precisando de pulso, liderança, autoridade até para corrigir a carga...”

Ao se referir à “carga”, Ciro diz: “Você imagina se com um cabra desse do outro lado (candidatos do campo da direita), o Lula tem alguma chance de sair da cadeia”. Para continuar dizendo que o ex-presidente só teria chance de sair da prisão se ele (Ciro) assumisse o poder.

Ao se referir aos possíveis nomes impostos pelo PT, no caso de Lula não ser candidato, Ciro afirma: “Com uma tragédia só resta eu – porque ninguém inventa de um dia para a noite. Se inventa, mesmo dando certo acaba dando errado."

Ciro foi confirmado candidato do PDT em convenção do partido realizada na sexta-feira, 20. A assessoria de imprensa da campanha do pedetista já foi procurada pela reportagem, mas ainda não respondeu os questionamentos sobre o teor da entrevista dada à TV maranhense.

Ao Valor, em entrevista a Maria Cistina Fernandes, Ricardo Mendonça, Cristiane Agostine e César Felício:

É Lula quem orienta Valdemar, diz Ciro sobre chefe do PR


(...) Valor: Disseram que houve veto do Valdemar ao seu nome devido ao que o senhor falou sobre ele.

Ciro: Ninguém acredita nisso. Valdemar está sendo orientado pelo [ex-presidente] Lula. Então, num certo momento, o Lula preferia que ele fosse para o [Jair] Bolsonaro. E ele quis ir para o Bolsonaro. Lá pelas tantas, a turma do Bolsonaro criou uns casos na questão do Rio, o próprio filho dele chamou o Valdemar de corrupto. Deu um azedume. Aí o Valdemar volta e começa a conversar com o Centrão, quando sou afastado da conversa.

Valor: O senhor demarcou muita distância com o grupo. Primeiro teve aquela fala da hegemonia moral dos partidos de esquerda. Depois o senhor atacou o vereador Fernando Holiday, do DEM de São Paulo. Por que fez isso tudo?

Ciro: Por isso. É porque eu disse: "Negociação, ok. Mas dentro de princípios". Na questão do Holiday eu falei de princípios. Por que atacar? Por quê? É porque eu me senti mal com aquilo. Não é que violentou. Mas chega ali uma conversa, uma conversa estranha... Repare, eu não sou recém-chegado no ambiente. Eu conheço todos eles, de longa data. E muito bem. O Paulinho [da Força, SD] é um velho amigo; o ACM Neto é neto do ACM, que fui colega e amigo e briguei; já briguei com ele [Neto] e tal. Então, assim, não é minha turma. Eu quis mostrar que tenho essa habilidade para conversar, fui lá, com muitas testemunhas. A outra conversa foi na casa do [empresário] Benjamin Steinbruch... Eu, se fossem gravadas esses conversas e se tivesse que ligar aqui, estaria tudo certo.

Valor: O senhor falou do Lula, que orienta o Valdemar. Então o senhor acha que ele está atuando para prejudicar o senhor? É isso?

Ciro: Não. Ele está atuando para si. Não é para me prejudicar. Na minha mente, a burocracia do PT, menos o Lula, não está preocupada com o Brasil. A burocracia do PT está preocupada em manter a hegemonia no campo progressista no país. E para eles, qualquer negócio vale. Vamos supor que o senso comum tenha razão: que não vão deixar o Lula ser candidato em função da Lei da Ficha Limpa. Então o que eles estão planejando? Uma espécie de enganação. Para, no limite, explorar um sentimento de frustração da população simpática a eles, com razão, simpática ao Lula, e aí fazer um presidente por procuração. O Brasil aguenta isso?

Valor: O senhor acha que o PT pode estar jogando na hipótese de colocar o Jaques Wagner candidato?

Ciro: Eles [o PT] não têm limites de nenhuma natureza. Até porque já foram com todos eles. Quem botou o Michel Temer na linha de sucessão foi o Lula. Quem acertou-se com o MDB, [com os senadores] Romero Jucá, Renan Calheiros... Não é antes. Porque todo mundo pode ser traído. É depois. Depois de tudo o que aconteceu, o PT votou no [senador] Eunício Oliveira [para presidente do Senado]. O Lula abraçou-se na caravana com Renan Calheiros em Alagoas.

(...)

Ciro: (...) a prática do PT não tem nada a ver com esquerda. Você tem um caudilhismo exacerbado, que nada guarda coerência com a esquerda, não há um projeto, um legado. Segundo ponto. Não tenho uma retórica de esquerda. Questão nacional? No mundo do petróleo, 80% da petróleo do mundo é estatal. Depois tem a Embraer. Acaba de amadurecer um projeto de um super cargueiro que tem um mercado identificado de US$ 20 bilhões; acerta um pacote tecnológico inédito no capitalismo de transferência tecnológica para produzir uma plataforma global de caças, com todo componente de propulsão, de microeletrônica. E aí vem a Boeing e leva por US$ 5 bilhões? Isso é crime de lesa-pátria. Não é ser de esquerda ou de direita.

Valor: Sobre o petróleo, o senhor defende o quê?

Ciro: Defendo que seja como a Lei de Partilha definiu. Nós reservamos 30% para partilha; 70% está livre para você conceder ao setor estrangeiro. E o conteúdo nacional? Ou, refraseando, por onde a América do Norte se transforma na maior potência tecnológica do mundo? Não seria isso se não fosse a compra governamental a pretexto da defesa, da corrida aeroespacial.

Valor: O senhor disse que o PT está mais preocupado com a hegemonia da esquerda do que com o país. E o PSDB? Como definiria a posição do PSDB com o reforço do Centrão?

Ciro: O PSDB organicamente virou um partido de direita, completamente entreguista ao financismo, ao rentismo, e cínico em relação à sorte do povo. Até ressalvo o Alckmin, que é um pouco diferente dessa média. Na medida em que entra nessa agenda, que privilegia a fisiologia, o PSDB vira o MDB. É o novo MDB. O Centrão não tem organicidade. O único cimento do Centrão é tentar imitar o MDB, pressionando juntos para dividir o butim separados. A chave para um possível entendimento com eles é jamais dar a eles organicidade. Alckmin comete esse erro mortal.

Valor: Por quê?

Ciro: Alckmin não relativizou nada, não discutiu um programa, uma indicação de rumo, absolutamente nada. Eu tentei impor a eles uma regra na minha conversa.

Valor: O que senhor acha que vai funcionar contra o Bolsonaro?

Ciro: Só funciona uma coisa: ele ser exposto. Tem debate, sabatinas. Vou fazer uma profecia. Acho que a campanha tende a um grande empate dos candidatos ao redor de 14%, com margem de erro de três pontos percentuais. Alckmin, Bolsonaro, Marina, eu e [Fernando] Haddad ou [Jaques] Wagner. Lula não vai estar na campanha.

(...)

Ciro: (...) É tudo pretexto para entregar. Sabe quanto esses caras botaram o preço da Eletrobras? Sete churrascarias Fogo de Chão.

Valor: Não deve privatizar a Eletrobras?

Ciro: Nem a pau. Privatizar no Brasil significa internacionalizar. O Brasil tem sua matriz energética em base hidráulica e é um sistema complexo e sofisticado. Os regimes de água são distintos e você tem o interesse público orgânico, que a regulação não resolve. Nenhum país do mundo entrega seu regime de água à gestão do regime do capital estrangeiro.

Valor: Sobre a reforma tributária, como viabilizá-la?

Ciro: A ideia é de introduzir um IVA federal com alíquota minúscula e que tenha estratégia de transição de 50 anos. Além disso, pretendo introduzir o tributo sobre lucros e dividendos. Rodrigo Maia me apoiou. Inclusive se ofereceu para tentar passar isso antes da posse, para livrar o princípio da anterioridade. Outra medida é um tributo federal sobre heranças e doações.

(...)

Valor: Mas o Centrão tem o Congresso nas mãos. Qual é sua estratégia para dobrá-los?

Ciro: Trazê-los para meu lado. Formar maioria com três atenuantes para a lógica do impasse e um fusível.

Valor: Quais os atenuantes?

Ciro: Primeiro, propor antes. Levar bordoada, ser mal entendido e escapar. Se escapar, escapo eu e a ideia. Vou explorar ao máximo o conteúdo plebiscitário do presidencialismo. Tentando não ser mais um caudilho, com um conjunto de ideias, valores e alternativas. E vou levar muita pancada das elites. Segundo, usar as lições da história. Do general Dutra até hoje, todos se elegeram com minoria e tiveram poderes imperiais nos seis primeiros meses. Terceiro, o pacto federativo dilacerado oferece oportunidade. Porque o eixo do pacto federativo não está em Brasília. Está na federação.

(...)

Valor: E qual é o fusível?

Ciro: É o plebiscito. Se persistir impasse na questão tributária e da previdência, vou para o plebiscito. Coloco o povo para votar.

Valor: E aí corre o risco de não passar...

Ciro: O impasse será só na Previdência. O resto passa. No caso dos Estados, por exemplo, se faço um swap na dívida do Rio Grande do Sul, mediante o apoio do Estado ao conjunto de providencias que vão resolver o problema do país, faço o mesmo com Minas. E não é contabilidade criativa. É romper com uma fraude que está aí. Como é que se contabiliza uma dívida que vai vencer daqui a 20 anos como despesa presente? Tudo para gerar excedente pra banca.

Valor: O senhor mantém a controvérsia sobre a Venezuela?

Ciro: O que devia guiar a política externa são os princípios do Barão do Rio Branco: autodeterminação dos povos, não intervenção, solução pacífica para os conflitos. O problema da Venezuela é da Venezuela. Brasil e Venezuela há cinco anos tinham US$ 5 bilhões de relação comercial bilateral de superávit para a gente. Aí passamos a fazer o serviço sujo dos Estados Unidos. Com isso os russos e os chineses baixaram lá como mediadores, no lugar que era nosso. Para completar, Estados Unidos convidou a Colômbia para entrar na OTAN.

Valor: O Supremo precisa de controle externo?

Ciro: Não, já tem. Quem está precisando de controle externo é o Ministério Público, que passou de qualquer limite. O Conselho deles é corporativo e tem que mudar.

Valor: O senhor vai estabelecer mandato no Supremo? Ciro: Não. Um erro que aconteceu foi a chamada PEC da Bengala, não faz sentido postergar a aposentadoria até os 75 anos.

Valor: PT e Bolsonaro propõem mudar a indicação dos ministros do STF. O senhor também? Ciro: E por que o PT, que indicou quase o Supremo todo, agora pensa diferente? A sociedade não deveria tolerar o aparelhamento partidário do Judiciário.
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