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"Bolsonaro não é burro ou louco. Ele segue uma racionalidade", diz Marcos Nobre

Cientista político disseca a gênese do bolsonarismo
publicado 01/06/2020
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Crédito: O Globo

O presidente do Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento), o cientista político Marcos Nobres, diz ser um erro tratar o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) como burro ou louco.

Para ele, que acaba lançar o e-book “Ponto Final- A Guerra de Bolsonaro contra a democracia” (Editora Todavia, 80 páginas), há uma racionalidade política nos atos do presidente. 

" Normalmente, no início, políticos autoritários não são levados a sério. São tomados como bufões, burros, loucos até que fazem o estrago quando conseguem implantar o autoritarismo que perseguem. Chamá-lo de burro ou louco reforça o Bolsonaro, na medida que o projeto dele é desobrigar as pessoas de pensar. Também o desresponsabiliza, porque um burro ou um louco não é responsável pelos seus atos. Por fim, reforça a imagem que o Bolsonaro tenta passar de ser um não-político. Eu tento demonstrar no livro que ele segue uma racionalidade política, mas tétrica. A gente precisa fazer um esforço para entender essa racionalidade para tentar combatê-la", afirmou em entrevista ao Estadão

"Como todo líder antissistema autoritário, o objetivo dele é destruir o sistema, e não geri-lo. Uma característica importante do Bolsonaro é que, para ele, o sistema é a mesma coisa que a democracia. O sistema, para ele, é de "esquerda"; a democracia é de "esquerda". Para ele, a verdadeira democracia é a democracia da ditadura militar. Esse é o paradoxo para tentar entender o vocabulário dele na reunião ministerial de 22 de abril. Quando ele diz que quer livrar o Brasil da ditadura, o que ele quer dizer é que quer livrar o Brasil da esquerda, do sistema e da democracia. Quando surge a pandemia, você precisa gerir o sistema como se estivesse numa situação de guerra, reorganizar os ministérios, a produção industrial, fazer um plano que envolva todos os poderes. Mas, se ele fizesse isso, ele abriria mão do seu projeto autoritário que estava só no início até a chegada da pandemia. Na minha leitura, o primeiro mandato seria de destruição das instituições democráticas. Num segundo mandato, ele iria implantar, de fato, o autoritarismo", continuou Nobre.

Na opinião do cientista político, a pandemia do novo coronavírus impediu um movimento que estava em curso de organização nacional das polícias militares.

O objetivo, segundo Nobre, é confrontar as Forças Armadas ou chantageá-las a seguir rumo a um regime autoritário.