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A verdade sobre o patético teatro de Guaidó na Assembleia Nacional

A que ponto chega o autoproclamado presidente...
publicado 06/01/2020
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(Reprodução/Twitter)

Via Revista Forum - Neste domingo (5), o deputado Juan Guaidó foi derrotado em sua tentativa de reeleição para a presidência da Assembleia Nacional da Venezuela, mas não caiu em silêncio: pouco antes da votação – que terminou com a eleição de Luis Parra, representante do setor mais moderado da oposição ao chavismo –, ele tentou entrar no edifício da Assembleia Nacional e as imagens o mostram discutindo com a polícia que resguardava o prédio.

O relato do “guaidoísmo”, e de boa parte da imprensa hegemônica, diz que Guaidó foi alvo de uma ação repressiva ordenada por Maduro, mas a verdade é bem diferente disso e mostra um deputado que armou um cenário para posar de vítima e disfarçar uma derrota que sofreu dentro do seu próprio setor.

Quem esclarece esta situação é a jornalista brasileira Fania Rodrigues, que mora na Venezuela, onde colabora com meios como o canal TeleSur, e que estava presente na Assembleia Nacional neste domingo.

Segundo ela, Juan Guaidó estava nas imediações da Assembleia Nacional desde antes do início da sessão e quem garantiu isso foi ele mesmo. “Durante a noite, depois do ato que ele realizou com seus correligionários, eu me aproximei e perguntei que horas ele havia chegado, e ele me respondeu que chegou às 10h, sendo que o início da sessão estava marcado para as 11h”.

Contudo, o horário marcado não foi respeitado justamente porque Guaidó se negava a entrar com seu grupo. Setores opositores ao chavismo, que são maioria da Assembleia Nacional, começaram a ficar nervosos e especular que ele não contava com os votos necessários para sua reeleição. Vale destacar que Guaidó proclamou a si mesmo como presidente em 2019, após ser eleito presidente da Assembleia Nacional, ou seja, precisava manter esse cargo para poder sustentar o relato da sua presidência.

Diante dessa situação, houve uma pressão de alguns deputados da oposição que já estavam descontentes com as posturas de Guaidó nos últimos meses e que tampouco aceitavam aquele enorme atraso gerado ele. Esse grupo já conformava todo um setor de opositores ao chavismo não alinhados com Guaidó.

A pressão dos parlamentares presentes fez com que a sessão fosse iniciada mais de 3 horas depois do previsto, com a presença de 104 parlamentares – de um total de 167. Segundo a constituição venezuelana, o mandato de Juan Guaidó como presidente da Assembleia Nacional ficou suspenso enquanto ele disputava sua reeleição, mas ele tinha sim o direito de presidir a sessão, como “deputado-líder”. Porém, devido ao enorme atraso, os opositores dissidentes aplicaram a cláusula que permite que a sessão fosse aberta sob a liderança do representante mais velho do Legislativo. Nesse momento, alguns parlamentares apoiadores de Guaidó estavam presentes no edifício, outra parte se manteve com ele, nas imediações.

É importante esclarecer que, neste momento, assim como durante toda a manhã e início da tarde, não havia nenhum obstáculo nas vias de entrada do edifício da Assembleia Nacional. Guaidó poderia entrar sem nenhum problema, na hora que quisesse, com fizeram todos os opositores naquele horário, como mostra o vídeo que a jornalista Fania Rodrigues publicou em seu Facebook, por volta das 12h deste domingo:

Pulando a grade
Uma vez iniciada a sessão, Guaidó resolveu organizar seu grupo e entrar no edifício. Porém, em sua comitiva havia 5 ex-parlamentares ligados à oposição que haviam sido cassados. Ao chegar à entrada, o deputado foi informado que seu ingresso estava permitido, mas não o dos convidados, até porque os suplentes dos mesmos eram deputados em exercício e alguns deles já estavam dentro do recinto.

Diante disso, Guaidó quis ordenar a entrada dos parlamentares cassados. Foi somente isso que foi negado pela polícia, segundo relato da jornalista Fania Rodrigues, que estava presente no local. “A polícia inclusive explicou a ele (Guaidó) que se quisesse entrar sem os deputados cassados, não haveria nenhum problema, mas ele disse que só entraria se seus acompanhantes pudessem acompanhá-lo”. Portanto, sua ação tentando pular o portão foi completamente desnecessária e teatral, já que sua entrada em nenhum momento foi impedida, e ele tampouco tentou fazer com que seus acompanhantes, que eram os verdadeiramente barrados, pulassem o portão com ele.

Enquanto Guaidó trepava no portão e seu grupo ajudava a fazer a confusão necessária ao seu redor para reforçar a imagem de que ele estava sendo barrado, a votação continuou. Duas chapas se inscreveram para a eleição da mesa diretora: uma representando o chavismo (que é minoria) e outra dos opositores não alinhados com Guaidó, liderada por Luis Parra, do partido Primero Justicia. O resultado foi contundente a favor de Parra, que teve 81 votos – precisava de 76 para ser eleito. O novo presidente da Assembleia Nacional terá mandato de um ano, até o primeiro domingo de 2021.

Há de se dizer que, para que se chegasse a esse placar, muitos chavistas desistiram de apoiar sua própria candidatura para votar no opositor moderado, e não só nele, todos os cargos da nova Mesa Diretora foram ocupados por esse setor. O chavismo não exigiu nenhum cargo em troca do apoio da maioria da sua bancada.

Uma vez derrotado, Guaidó adotou a postura de praxe desse setor mais agressivo da oposição venezuelana: não reconhecer a derrota. No final da tarde, Guaidó e seu grupo organizaram um ato no auditório que fica dentro da sede do diário El Nacional (de linha editorial antichavista). Segundo Guaidó, o evento contou com a presença de 100 deputados, mas não há uma lista que confirme os nomes que preenchem esse quórum. Ali, ele realizou a cerimônia que considera a verdadeira votação para a presidência da Assembleia Nacional, e que afirma ter sido vencida por ele, sem a presença de nenhum representante da minoria chavista, e também sem esclarecer o resultado da votação.

Isso aconteceu quando Luis Parra já havia sido nomeado novo presidente do Legislativo. Nesse sentido, pode-se dizer que o deputado Juan Guaidó passa a ser também presidente autoproclamado da Assembleia Legislativa, e autoproclamado presidente da Venezuela, embora o Executivo e o Legislativo venezuelanos – liderados respectivamente por Nicolás Maduro e Luis Parra – desconheçam sua autoridade.

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