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31 de março de 2019

Xavier: o passado é hoje
publicado 31/03/2019
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O Conversa Afiada publica sereno (sempre!) artigo de seu colUnista exclusivo Joaquim Xavier: 

Sei que estou na contramão de muita gente que, comigo, enfrentou e sofreu as consequências do golpe militar de 1964. Só quem experimentou aqueles tempos, perdeu familiares, sacrificou anos de vida, estudo e juventude, foi vítima de atrocidades indescritíveis, pode ter ideia da brutalidade que é viver sob o tacão de um regime como o que regeu o Brasil de 1964 a 1985.

Não reivindico o chamado “lugar de fala”, expressão tão em moda nos dias atuais para interditar “narrativas” (argh!) contraditórias. Considero que mesmo quem não passou por aqueles tempos trevosos é capaz de entender o martírio daquela geração. Fosse diferente, a história de nada valeria. São mais do que justificados os protestos contra as iniciativas do governo de um militar desmiolado de celebrar uma data que envergonha a civilização.

Só que não se vive do passado. A ditadura de 1964 foi vencida graças à resistência popular. Se causa náusea a tentativa de vender a quartelada como “libertadora”, preocupa também a ênfase com que este assunto ocupa a mídia alternativa (com a oficial) num momento em que o país enfrenta problemas tão graves e urgentes.

Estou mais preocupado com o golpe de 2016, confirmado com a fraude escandalosa de 2018.

O Brasil hoje é o paraíso do Uber, a esconder nos números uma quantidade muito maior do que os 46 milhões de desempregados, desocupados, desalentados – chame-se do que quiser - estampados em estatísticas oficiais.

Viramos o país dos motoristas de bacanas endinheirados à base do suor do povo trabalhador.

Estou pouco preocupado com as bolsonarices de comemorar nos quartéis um golpe derrotado pela força popular. Alguém esperava o contrário?

Mas, estou bastante preocupado com o destino das milhões de famílias hoje encaminhadas ao matadouro de um país sem emprego ou perspectivas.

Os oposicionistas de plantão, mesmo os bem-intencionados, parecem pensar diferente. Gritam histericamente contra a apologia da ditadura morta, porém é sonolenta quando se trata da ditadura de fato em curso. A olhos vistos, está em marcha um movimento de liquidação do Brasil para transformá-lo em BraZil.

Mas não se vislumbra uma mobilização à altura deste risco. Mais cômodo falar do passado. O PT tem a maior bancada da Câmara. Com aliados, reúne uma bancada invejável de governadores. Uma musculatura com força para emparedar este governo reacionário com iniciativas capazes de frustrar golpes contra a democracia e a soberania nacional, seja de 1964, de 2016 ou de 2018.

Esse é o ponto. O resto é dormir na cama que é lugar quente.

Joaquim Xavier