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Dias e a inteligência burra

“Em vez de as polícias serem acionadas para garantir as manifestações e proteger os manifestantes, o foram para reprimi-los com rigor. Deu no que deu”.
publicado 27/07/2013
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O Conversa Afiada reproduz a imperdível "Rosa dos Ventos", de Mauricio Dias, na Carta (que também traz afiada análise do Marcos Coimbra: Dilma cai, mas seus adversarios efetivos nao subiram)


A Inteligência burra



Apesar de pequenas gafes e deslizes do policiamento encarregado de protegê-lo no Brasil, o papa Francisco saiu ileso. Nem sempre os erros são pequenos assim. Normalmente são graves e repetitivos, com mortos e feridos, como tem ocorrido nas manifestações de rua, nos últimos dois meses, em várias cidades do País.

Os equívocos são muitos e começam de um ponto banal, como aponta o professor Jorge da Silva. “A polícia brasileira, em geral, confunde as atividades de investigação com as de inteligência. A investigação, como é sabido, visa elucidar os fatos a posteriori e apontar culpados. A inteligência é o armazenamento de informações gerais que circulam na sociedade e no cruzamento e análise dessas informações, com a finalidade de prever acontecimentos futuros”, esclarece o professor, que é doutor em Ciências Sociais e ex-chefe do Estado-Maior da Polícia Militar do Rio de Janeiro.

“No início, as autoridades demonstraram total desconhecimento do que viria à frente. Minimizaram as manifestações e rotularam os manifestantes de baderneiros e vândalos”, diz .

“Por que as polícias teriam se surpreendido pela ação de grupos ideológicos anarquistas que agiram conforme anunciaram em rede? Como não sabiam? E como não tinham uma estratégia específica para enfrentá-los?”, pergunta Jorge da Silva, surpreso com a surpresa dos serviços de inteligência sobre a existência do movimento anarquista.

“Desconhecem que grupos ideológicos como o Black Bloc, com simpatizantes também no Brasil, agem de forma idêntica, roupa preta, capuzes, máscaras, com a estratégia de infiltrar-se em manifestações e protestos para praticar atos de vandalismo e destruição?”


Ele não consegue evitar o tom de ironia ao falar do “serviço de inteligência” que havia detectado a infiltração de traficantes e milicianos nas manifestações. “Estranha conclusão. O objetivo de traficantes e milicianos é financeiro, é dinheiro. O dos anarquistas é outro. É ideológico, contra as estruturas. A não ser que traficantes e milicianos tenham aderido ao objetivo dos anarquistas de mudar a sociedade.”

No Rio, as hipóteses se misturam aos boatos. Um deles é o de que o vandalismo seria uma orquestração contra o governo com o propósito de desestabilizá-lo.

Para Jorge da Silva há uma perigosa inversão do papel da polícia, ocorrida principalmente em São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília, onde, “em vez de as polícias serem acionadas para garantir as manifestações e proteger os manifestantes, o foram para reprimi-los com rigor. Deu no que deu”.

Qual seria a forma adequada de ação das polícias? “Parece-me fácil concluir o que se deve fazer. Esse assunto não se resolverá apenas com a força, como sempre foi a tônica na nossa história. Não dá mais.”

Dilma em questão I
Não tem consistência a afirmação de que a queda na popularidade e, principalmente, a avaliação do governo da presidenta Dilma Rousseff seja resultado das manifestações de rua nos meses de junho e julho. As primeiras manifestações retumbantes, de 6 e 7 de junho, em São Paulo, foram feitas pouco antes do campo da pesquisa CNI/Ibope de 8 a 11 daquele mês. Tempo curto para refletir os protestos paulistanos e a data da sondagem de âmbito nacional.

Há uma queda de 8 pontos na avaliação do governo no item “ótimo/bom” em relação à pesquisa de março.

Entre junho e julho, a avaliação do governo despencou de 55% para 31%.

Dilma em questão II
As manifestações e a queda não estão refletidas no juízo feito sobre as políticas públicas do governo federal (tabela 1).

Entre março e julho, os índices de reprovação da saúde, educação e segurança têm pouca variação. A saúde tem sua variação negativa elevada em 4 pontos.

Segurança e educação, ao contrário, têm boa elevação positiva. A primeira cai de 66% para 40% e a segunda baixa de 50% para 37%.

Nesses cinco meses, de março a julho, o único solavanco nesses casos é a reprovação da política de combate à inflação, que entre março e junho subiu de 47% para 57%.

Esse é o sinal mais forte e aparentemente capaz de alterar a opinião.


Política e protestos
Surge, porém, um curioso complicador nessa hipótese.

A pesquisa faz uma pergunta aos entrevistados (tabela 2) sobre razões que os levariam a novos movimentos de protesto.

A resposta disparada é por maiores investimentos em saúde, 43%, seguida por “contra a corrupção”, com 35%.

Surpreendentemente, somente 14% dos entrevistados se dispõem a se manifestar “contra os políticos em geral”. O porcentual desaba para apenas 4%, se o objetivo for protesto contra o governo federal e a presidenta. Número igual aos governos estaduais e aos prefeitos.

Contra os partidos, vetados nas manifestações, a mobilização atrai 3% das respostas.

Veja e Juquinha
Na semana passada, na edição nº 758, foi publicada nesta coluna a notícia sobre o alto índice de reprovação do governador Sérgio Cabral.

A nota fazia referência a um episódio recente, desgastante para ele. O flagrante de um helicóptero oficial transportando sua família para um fim de semana na mansão de Cabral, em Mangaratiba (RJ).

Sugeri, como ilustração, a foto do embarque do cão do governador.

A produção da revista recebeu a seguinte resposta de um funcionário do detentor das fotos: “A Editora Abril informou que não podemos licenciar imagens de Veja para a CartaCapital”.

Por um lado, decisão surpreendente em operações comerciais. Por outro, os leitores deixaram de conhecer Juquinha, o cãozinho tibetano da raça shih-tzu.

Atos e fatos
Recentemente, a presidenta Dilma Rousseff convidou e recebeu, no Planalto, representantes do mundo jurídico para debater as manifestações nas ruas.

Joaquim Barbosa, presidente do STF, falou aos repórteres, por quase uma hora, sobre o encontro aparentemente amigável.

Na segunda-feira 22, JB foi cumprimentar o papa Francisco, no Palácio Guanabara, no Rio, em cerimônia com a presença da
presidenta.

Após apertar a mão do papa, ele, ostensivamente, recusou-se a saudar Dilma. Depois emitiu um comunicado desmentindo o que as câmeras mostraram.

Como explicar a desfeita a uma senhora que, além disso, preside a República?

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