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Bláblárina é a candidata do mal estar

O que apoiou Bláblárina foi o sombrio, a desqualificação, a desmontagem do adversário empreendida pelo Cerra.
publicado 18/02/2013
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Amigo navegante de devastadora memória envia trechos de entrevista de Gabriel Cohn ao jornal Valor, o PiG (*) cheiroso, em 2010, depois da eleição no primeiro turno:


ENTREVISTA - Gabriel Cohn



Valor: Marina teve votos de ambientalistas, de evangélicos e daqueles que rejeitam Dilma e Serra. Como distinguir essas tendências?

Cohn: Essas várias dimensões não se excluem. Uma parcela dessa votação vem de eleitores mais jovens, cansados da clivagem PT-PSDB e insatisfeitos com as políticas do governo, mas também com a suposta alternativa de Serra. Além do mais, são pessoas sensíveis à questão ambiental. O programa de Marina - e é Marina, não o PV - tem um aspecto pouco político. Uma mistura de principismo com religião, com apelo para setores autoritários. Estamos falando de uma pessoa, não de um partido, embora ela tivesse, sim, uma possibilidade programática à disposição. No longo prazo, o ambientalismo é questão fundamental, e Marina perdeu a oportunidade histórica de colocar a questão no debate. O que acabou pesando foi o lado "sombrio" que a apoiou. O lado "radioso" são os eleitores preocupados com questões de longo prazo. O sombrio é a desqualificação, a desmontagem do adversário, que pesou sobre Dilma e deixou Serra incólume.

Valor: O discurso conservador continua forte na política brasileira?


Cohn: Continua, mas com argumentos primários. É um sinal preocupante, mas não surpreendente. O surpreendente é a rapidez das transformações. Em prazos curtíssimos, o Brasil se transformou muito. Temos uma campanha presidencial em que um dos principais partidos apresenta uma candidata, uma mulher. É notável que a sociedade brasileira, tão conservadora, tenha absorvido a figura de uma mulher sem colocá-la liminarmente em segundo plano. Essa mulher concorre por um partido que tem 30 anos. Trata-se de uma espantosa aceleração da história. Novas forças sociais estão emergindo de todos os lados.

Valor: A distribuição dos votos do lado "sombrio" e do lado "radioso" é decisiva para o resultado. Quem pesa mais?

Cohn: A transferência é problemática para ambos os candidatos. Imagino que o lado sombrio se transfira mais para Serra. O lado radioso não gosta de nenhum dos dois, mas Dilma tem mais chance de os capturar. O que ela não conseguirá capturar são os pura e simplesmente anti-PT. É uma parcela razoável.

Valor: Marina é personagem duradoura?

Cohn: É difícil saber se ela vai se consolidar como liderança. Nesta eleição, desempenhou papel atípico, que ela mesma certamente não esperava. Galvanizou uma série de forças que não tinham para onde se orientar. É um fenômeno pessoal, não do PV. Talvez tenha papel no debate daqui por diante, mas sem capilaridade política. O espantoso é que o fenômeno Marina é fundamentalmente não político. Ela disse que governaria por princípio, não faria alianças. Em termos de jogo político, é um contrassenso. Ela se coloca à margem da política e, com isso, exerce um fascínio enorme sobre muitos que também estão à margem. É gente que tem desconfiança da política e a vê negativamente. Também há muitos que querem participar, mas acham insatisfatória a posição dos grandes atores políticos. Marina é uma espécie de candidata do mal-estar.


(*) Em nenhuma democracia séria do mundo, jornais conservadores, de baixa qualidade técnica e até sensacionalistas, e uma única rede de televisão têm a importância que têm no Brasil. Eles se transformaram num partido político – o PiG, Partido da Imprensa Golpista.