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Sousa Santos: Golpe é para minar força do Brasil nos BRICs

É preciso defender a Democracia nas ruas!
publicado 05/06/2017
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O sociólogo português Boaventura de Sousa Santos esteve em Porto Alegre na semana passada para participar de um debate sobre os desafios da Democracia. Ele concedeu entrevista ao portal Sul21 e o Conversa Afiada reproduz trecho que trata do Golpe no Brasil:

(...) Sul21: Como você avalia a situação do Brasil hoje, cerca de oito meses após o afastamento da presidenta Dilma Rousseff?

Boaventura de Sousa Santos: Eu penso que o está acontecendo no Brasil hoje é o caso paradigmático de uma intervenção externa. Acho que foi fundamental no que ocorreu o fato de que o Brasil era uma das forças importantes dos Brics, em aliança com China e Rússia, que tentavam construir uma articulação alternativa ao capitalismo global sob dominação dos Estados Unidos. A China é um parceiro no qual não se pode tocar porque é um grande credor da dívida pública norte-americana. Tenta-se neutralizar a Rússia pontualmente quando for necessário. E era preciso eliminar a ameaça vinda do Brasil. Isso foi feito através do golpe institucional. Não estou dizendo que não houve erros internos, mas houve uma pressão externa muito grande em favor das reformas.

Só quem é muito inocente não vê que estava tudo preparado. A esquerda é que foi inocente e muito descuidada. As leis e medidas tomadas no dia seguinte ao golpe, quando Michel Temer assumiu, mostraram que tudo isso estava sendo preparado há muito tempo com a mesma orientação. Certamente, algumas delas nem deve ter sido redigidas aqui no Brasil, mas sim em Washington.

Em certo momento, em razão dos desdobramentos da Operação Lava Jato e de outros acidentes de percurso, começou-se a pensar que Michel Temer não teria força suficiente para aprovar as reformas Trabalhista e da Previdência. Cogita-se a hipótese de outro governo terminar esse serviço. Mas é possível que ele permaneça até 2018. Ninguém pode dizer o que vai acontecer. Neste momento, estão exagerando as notícias sobre uma suposta retomada da economia para mostrar que a crise é política e não econômica. Se ele tiver condições de tocar as reformas naturalmente será usado para isso. Caso contrário, tentarão outra forma. Farão isso a menos que o povo brasileiro através de seus movimentos e partidos acorde e não deixe que isso ocorra.

Será um momento de luta, de luta pacífica espero, mas luta de rua. No próximo período, será preciso defender a democracia no Brasil, mas, devido ao comportamento das instituições, será preciso defendê-la nas ruas. As instituições têm que ser pressionadas a partir da rua. Os partidos de esquerda que estiveram no poder nos últimos 13 anos desabituaram-se da luta de rua, da organização pacífica dos movimentos. Por isso temos esse momento de, digamos, pausa, na reorganização dos movimentos. Penso que o que vamos assistir nos próximos tempos é a reorganização da resistência e a luta política é que vai definir o futuro. O que queremos é que isso se dê dentro dos marcos democráticos, que já estão muito abalados pelo golpe institucional, e que não se chegue a uma confrontação do tipo da que está ocorrendo agora na Venezuela, com luta de rua violenta. Espero que isso não aconteça aqui no Brasil, mas é bom que as forças democráticas estejam atentas.

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