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Brasileiro fica mais pobre para entrar no clube dos ricos

Fernandes: fim do abono salarial atinge 23 milhões de trabalhadores paupérrimos
publicado 21/03/2019
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Por Chico Caruso, no Globo Overseas, 21/III/2019

Por Maria Cristina Fernandes, no PiG cheiroso:

Um brasileiro mais pobre no clube dos ricos


O Brasil recebeu sinal verde para entrar no clube dos ricos no momento em que se prepara para tornar metade dos brasileiros que trabalham mais pobres. Não se trata do Benefício de Prestação Continuada, cuja mudança tem sido rechaçada em prosa e verso por condenar miseráveis à inanição. A redução no BPC, proposta na reforma da Previdência, atingirá menos da metade dos 4,8 milhões de beneficiários, visto que 56% deles são portadores de deficiência e, por pressão do ministro Osmar Terra (Cidadania), acabaram excluídos do corte. Já o fim do abono salarial abrange 23 milhões de trabalhadores, o que equivale à metade da força de trabalho formal. Só uma parcela de menos de 10% dos trabalhadores, que ganham um salário-mínimo, continuará a fazer jus ao benefício.

No primeiro aperto, o ministro da Economia, Paulo Guedes, jogou o ônus do BPC sobre o secretário Rogério Marinho. Quanto ao abono, reina o silêncio, até da oposição. O cálculo de seu impacto fiscal é uma das muitas omissões do governo sobre as contas que embasaram a proposta. O trilhão que Guedes quer economizar está para a Previdência como o milhão que Bettina Rudolph ganhou, em três anos, gerenciando R$ 1,5 mil. Ninguém sabe de onde vêm as contas.

O Instituto Fiscal Independente, do Senado, começou a fazê-las. Destrinchou o impacto do abono e aquele do BPC, colocados, pela equipe de Guedes, numa única rubrica de R$ 182,2 bilhões em dez anos. Nos cálculos do IFI, a mudança no BPC renderia R$ 28,7 bi e o abono, R$ 150 bi. Ou seja, para cada idoso de benefício reduzido, haverá três trabalhadores de renda mensal de R$ 2 mil que ficarão sem seu décimo-quarto salário.

Para a turma que já faz as contas do bônus do final do ano, o décimo-quarto é a concessão dos mais pobres pelo bem do Brasil. Que a Previdência precisa de uma idade mínima e da equiparação dos regimes público e privado, não parece haver dúvida. A conta que não parece fechar é como o Brasil pretende alavancar a economia com uma reforma que vai tirar muito mais que o iogurte de sua cesta básica. Como mostrou o Ibope, a popularidade do presidente cai na mesma velocidade em que se esvazia o carrinho de supermercado.

A tecnocracia parece iludida de que basta diminuir a proteção social e as amarras da regulamentação do trabalho que o mercado se encarregará de prover empregos e renda. A reforma trabalhista já caminha para completar dois anos sem ter feito cócegas num e noutro.

Nessa toada, a OCDE, clube dos ricos com o qual o Brasil passou a sonhar, vai ganhar um integrante diferenciado. A renda salarial média dos 35 países que integram o bloco é de US$ 40 mil anuais. A do Brasil, segundo o ValorData, é de US$ 8 mil (a partir do IBGE/2017). O brasileiro ganha metade dos ricos mais pobres, os mexicanos, aqueles que se compadeciam por estarem tão perto dos Estados Unidos e tão longe de Deus.

Ao Brasil cabe uma terceira graça, como resumiu Guedes em seu discurso na Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos. Saudado, por Bolsonaro, como o responsável pelos 100 mil pontos do Ibovespa, ele retribuiu dizendo que os investidores poderiam confiar na "bravura" do presidente da República e na índole do brasileiro: "É um povo pacato". Só sendo para merecer tão bravos dirigentes. (...)

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