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Bingo! Apareceu quem vai embolsar o gás!

Com Langoni e Guedes, não tem con$ulta de graça!
publicado 05/05/2019
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Na foto, os que con$ultam os esperrrto$ do gá$!

De Marlla Sabino, no Poder360:

Plano de Guedes para mercado de gás obriga Petrobras a abrir mão de ativos


A Petrobras deverá abrir mão de receitas para que o mercado de gás natural tenha 1 “choque de energia barata”, como promete o ministro de Economia, Paulo Guedes. Para tentar quebrar o monopólio no setor, o governo deseja que a estatal venda todos os gasodutos e participações em distribuidoras de gás estaduais.

De acordo com 1 estudo preliminar ao qual o Poder360 teve acesso, seria imposto à petroleira a liberação da condição de carregador único –jargão do mercado para designar o dono do gás natural que está sendo transportado no gasoduto. Em alguns casos, a exclusividade da Petrobras tem vigência até 2020.

Leia a íntegra do documento, de fevereiro de 2019, em análise pelo governo.

A empresa teria também de vender todos os gasodutos nos quais é acionista e 100% das participações nas distribuidoras de gás. Enquanto não concluir as vendas, a Petrobras ficaria proibida de “indicar membros da Diretoria Executiva ou Conselho de Administração, evitando a assimetria de informações com outros agentes”.

Hoje a Constituição garante monopólio aos Estados na distribuição de gás. Vários governadores enxergam nessas empresas uma boa oportunidade para fazer caixa. Mas se a Petrobras sair do negócio e o governo federal defender o fim do monopólio estadual, os ativos perdem valor.

Segundo o estudo ao qual o Poder360 teve acesso, o processo de saída da Petrobras do mercado de distribuição seria por meio de 1 TAC (Termo de Ajuste de Conduta) entre a estatal, o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) e a ANP (Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural, Biocombustíveis).

O estudo reconfigura totalmente o mercado de gás natural. Restam dúvidas de como a Petrobras, empresa com ações em Bolsa, no Brasil e nos Estados Unidos, aceitaria as medidas sem prejudicar os interesses de seus acionistas.

Mesmo que o Cade tome uma decisão unilateral obrigando a petroleira a sair no negócio de distribuição de gás, a empresa estará obrigada pelas regras do mercado a recorrer até a última instância na Justiça –sob pena de depois enfrentar ações em cortes nos EUA e no Brasil, por parte dos acionistas.

A seguir, a reprodução da 1ª página do estudo preparado a pedido de Paulo Guedes:


O paper tem o timbre da FGV. Não fica claro, entretanto, se a instituição endossa totalmente o que está escrito ali.

O Poder360 apurou que a implantação do plano de maneira unilateral deve provocar uma enxurrada de ações judiciais, com impacto semelhante ao desarranjo provocado pela ex-presidente Dilma Rousseff quando tentou implantar na marra 1 novo modelo para o setor elétrico.

Os autores do plano
A análise foi encomendada por Guedes ao seu amigo Carlos Langoni ainda em novembro de 2018, logo após a vitória de Jair Bolsonaro nas urnas. Da turma dos Chicago Oldies, Langoni é ex-presidente do Banco Central e diretor do Centro de Economia Mundial, ligado à FGV (Fundação Getúlio Vargas).

O economista ganha a vida presidindo a empresa Projeto Langoni Consultoria Econômica, que está com site inativo. Em nota (íntegra) ao Poder360, ele disse que a consultoria tem foco em análises macroeconômicas com avaliação da perspectiva de risco-país para 1 grupo “seleto de empresas dos mais diferentes setores, sem ênfase no setor de óleo e gás”.

Para elaborar o plano, Langoni convidou João Carlos de Luca, ex-presidente do IBP (Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás e Biocombustíveis) e 1 dos donos da Barra Energia, empresa de exploração e produção de petróleo com participação no campo de Atlanta, no pré-sal da Bacia de Santos. O 3º integrante do time é Marco Tavares, sócio-fundador da Gas Energy.

Entre os clientes da consultoria de Tavares estão grandes petroleiras como Shell, Repsol, BP; distribuidoras de gás da Bahia, Minas Gerais e Santa Catarina; além de empresas do setor elétrico; instituições financeiras; e associações.
Da esq. para a dir., Langoni, Tavares e Luca: os 3 redigiram a proposta para reformular o mercado de gás no Brasil (Créditos> Carlos Langoni – Reprodução/Britcham e Marco Tavares – Reprodução/MME e João Carlos de Luca – Reprodução/Inae)

O trio apadrinhado por Guedes é responsável por apresentar o prato feito ao ministro almirante Bento Albuquerque (Minas e Energia), aos técnicos do MME, à Petrobras, ao Cade e aos governadores estaduais.

O almirante Bento Albuquerque não teve voz na escolha do presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco –que foi escolha direta de Paulo Guedes. Agora, recebeu 1 plano já formatado para reformular o mercado de gás.

Além de reuniões com o chefe da equipe econômica, Langoni, Tavares e Carlos de Luca foram convidados para 1 encontro reservado na 2ª feira (29.abr.2019), no MME. O Poder360 recebeu cópia da lista dos presentes, que foi enviada por e-mail a todos os que participariam do encontro:



Tavares havia participado de 1 seminário sobre gás natural e setor elétrico, promovido pelo MME, na 2ª feira (29.abr.2019), pela manhã. Aí ocorreu algo curioso: ele foi identificado pelo ministério como representante da Gas Energy, mas quando falou o consultor usou apresentação com o logotipo da FGV durante o evento.

Ao Poder360, ele afirmou que o material foi elaborado em parceria com Langoni. “É 1 trabalho em conjunto que foi apresentado pelo Centro de Economia Mundial ao governo.”

Em nota (íntegra), Langoni disse que Tavares e Carlos de Luca são consultores técnicos dos estudos preparados para Guedes há meses. Afirmou, porém, que “as opiniões de Tavares emitidas sobre o assunto são pessoais, uma vez que é 1 técnico do setor de gás”.

FGV: sob suspeita
Ser apresentado como integrante da Fundação Getúlio Vargas, do Rio de Janeiro, já não garante tanto lustro como no passado.

A renomada FGV-RJ tem colecionado algumas encrencas nos últimos anos. A mais recente foi uma citação de Sérgio Cabral, ex-governador do Rio de Janeiro, dizendo que a FGV era usada como forma de desviar recursos para consultorias.

Em depoimento, Cabral afirmou que a Fundação era usada para dar cobertura legal a contratos estaduais que envolviam pagamentos de propina. De 2007 a 2014, os órgãos estaduais teriam pago ao menos R$ 115 bilhões, de acordo com portal da transparência do Rio.

A Fundação nega irregularidades e diz que 1 depoimento não deveria “servir de base para se desconstruir uma história que se confunde com a própria evolução do Brasil”.

Por que o gás importa
O gás natural é a energia da transição. O petróleo será aos poucos abandonado (isso ainda levará muitos anos). Energias renováveis serão produzidas de maneira sustentável em algum momento no futuro.

O gás natural fará a ponte no período de transição do petróleo para outras fontes renováveis.

O mercado de gás no Brasil investiu aproximadamente US$ 20 bilhões em 2018.

O ministro da Economia, Paulo Guedes, tem repetido em público o que está no estudo encomendado a Langoni, Tavares e Luca: diz pretender entregar o gás na costa brasileira a US$ 5 por milhão de BTU –unidade de medida internacional do gás (como está no início do documento obtido pelo Poder360).

Tomada pelo valor de face, a declaração é ótima. Hoje, o custo do gás está na redondeza de US$ 12 a US$ 13 por milhão de BTU. Ocorre que em seguida é necessário refletir que esse gás mais barato prometido por Paulo Guedes será benéfico para quem está no litoral brasileiro.

E o restante do país? Guedes não explica.

A intenção do ministro esbarra na falta de infraestrutura de transporte e escoamento de gás no país. A didática apresentação do IBP indica que o Brasil tem 9.400 km de gasodutos. A Argentina conta com 16.000 km. Os EUA, incríveis 497 mil km.

Os mapas abaixo mostram o deserto de gasodutos que é a região Centro-Oeste do país, celeiro do agronegócio, e que não tem nem terá tão cedo acesso ao gás natural do pré-sal pelo preço prometido por Paulo Guedes para quem está na costa do Sudeste.



Gasodutos nos EUA e Europa e os do Brasil: a imagem acima explica de maneira inequívoca o grau do atraso da infraestrutura do país do pré-sal: tem gás, mas não se preparou para transportar o combustível (Créditos/IBP)

Hoje, parte do gás natural extraído do pré-sal é reinjetada nos poços ou queimada. Não há infraestrutura para levar o combustível para a terra, para processar o gás e depois distribuí-lo de maneira eficaz.

Esse é 1 tema complexo. Move montanhas de recursos e interesses. Por enquanto, o plano que está em debate no Ministério das Minas e Energia não responde a todas as demandas que o mercado de gás tem. Também há 1 excesso de segredo, com pouco sendo divulgado ao público –como esse documento hoje publicado pelo Poder360.

Em tempo: Carlos Langoni é presidente da Projeta Langoni Consultoria Econômica, que presta serviços para empresas como Brookfield, Norsk Hydro, Pricewaterhouse, White Martins, Visa, Bradesco, SKY e Organizações Globo.

Em tempo2: João Carlos de Luca é um dos sócios-fundadores da Barra Energia. Foi Presidente do IBP – Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás e Biocombustíveis por 14 anos e presidente da Repsol YPF no Brasil por 11 anos.

Em tempo3: Marco Tavares fundou a Gas Energy - a maior consultoria brasileira na área de gás natural - em 2005. Entre os clientes, estão BG Group, British Petroleum, Chevron, EcoPetrol, El Paso, HRT, OGX, Nexen, Shell, Repson, Odebrecht, Queiroz Galvão, CDGN, CEG, Sulgás, Supergasbras, SCGás, ItaúBBA, CNI, Firjan, FIESP, AES, Duke Energy, EDP, Endesa, SunEdison, BHP, Dow, Elecnor, Gerdau, LanXess, Mitsubish, Monsanto, Petroperu, Vale, Votorantim, Samarco... A lista completa está disponível no site da empresa.

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