Economia

Você está aqui: Página Inicial / Economia / A neolibelês, o retrovisor e a Cegonhóloga

A neolibelês, o retrovisor e a Cegonhóloga

"Recuperação será lenta" - quá, quá, quá!
publicado 08/03/2017
Comments
Pedrim.jpg

Como se sabe, o açougueiro do neolibelismo, aquele que, dizem, dizem..., o Delfim chama de "vendedor de seguro" proclamou: a maior depressão da História, a colossal queda do investimento, tudo isso é culpa da Dilma.

É como olhar a Economia pelo retrovisor, diz o funcionário do BankBoston.

A Cegonhóloga instituiu o mantra "a recuperação será lenta" para descrever a notável administração neolibelês em curso.

De novo, Monica de Bolle, notável neolibelês do Estadão e da Johns Hopkins University (EUA) espinafra "as analises corriqueiras de conjuntura" da Cegonhóloga.

Sem falar do tal retrovisor: como advertiu o Spielberg, no Parque dos Dinossauros, "objetos no retrovisor estão mais perto do que parece"...

Veja o que diz a notável neolibelista Monica de Bolle (*):

O tal do retrovisor


Agora temos as reformas, a recuperação, a safra recorde, avante. Avante?

“O legado de Dilma Rousseff finalmente ficou para trás.” Foi mais ou menos assim que as autoridades brasileiras optaram por descrever o catastrófico resultado de 2016. O PIB encolheu 3,6%. A taxa de poupança fechou o ano em míseros 13,9% do PIB. A taxa de investimento foi de apenas 16,4% do PIB. O encolhimento no ano passado não poupou nenhum setor produtivo e nenhum componente da demanda. A vermelhidão foi geral, hemorrágica. Mas, esse é o passado, dizem. Agora temos as reformas, a recuperação, a safra recorde, avante. Avante?

(...) a recuperação para valer, aquela que trata de níveis, não de taxas de crescimento apenas, aquela que diz algo sobre em quanto tempo a economia brasileira terá retornado aos anos pré-crise, não está logo ali. Se tudo correr bem, retornaremos ao PIB per capita de 2013 daqui a muitos anos, não no ano que vem, nem no próximo. E, isso exige pausa para reflexão. Exige sair da euforia dos mercados, das análises corriqueiras de conjuntura. Isso exige pensar o que se fará para que o País consiga crescer de forma sustentável a uma taxa modesta ao longo dos próximos vários anos.

As reformas ajudam, mas não fecham questão. Como mostram as projeções do IBGE, entre 2016 e 2030, a taxa de crescimento da população terá diminuído de 0,8% para apenas 0,3%. Nós perdemos o bônus demográfico, a janela de crescimento populacional que poderia ter impulsionado o crescimento brasileiro caso tivéssemos dado atenção a alguns determinantes fundamentais da produtividade, como a educação. Ainda temos tempo de explorar outras vias para a melhoria do avanço tecnológico, como a abertura ao comércio internacional. Para tanto, é preciso que o Brasil comece desde agora a ter participação ativa nas discussões sobre o que será das relações globais com o provável fechamento e isolamento dos EUA.

Infelizmente, não há muito espaço para isso. O ambiente tóxico que continua a caracterizar a política nacional não permite que se olhe além da reforma da Previdência e da necessidade de proteger os políticos do ralo iminente.

Retrovisor. Recuperação do PIB per capita apenas daqui a sete anos não se presta à ideia de retrovisor. Os que não estão prestes a ser sugados pela Lava Jato deveriam estar não falando em retrovisores, mas explicando como mesmo seremos capazes de voltar a 2013.

*Economista, pesquisadora do Peterson Institute For International Economics e professora da Sais/Johns Hopkins University