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Agência de risco elogia Dilma

Agora, risco mesmo é acreditar nas agências de risco.
publicado 10/09/2014
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Se você, amigo navegante, fosse americano e acreditasse nas agências de risco, teria ido à falência em 2008.

Porque as agências de risco consideraram "AAA' os derivativos podres que levaram à quebra de Wall Street.

Mas, aqui, na imensa província pigal, onde ainda se acredita no FMI (e em seu evangelista, o FHC), os idiotas do tripé levam as agencias de risco a sério.

Nessa quarta-feira (10/9), o PiG (*) se estrebucha com uma reavaliação da Moody's, que o pessoal lá no morro do Alemão pensa que é lateral esquerdo da Alemanha.

Se deu mal:


Moody's rebaixa a nota do Brasil #SóQueNão



A agência americana de classificação de risco Moody’s revisou de “estável” para “negativa” a perspectiva da nota dos títulos do governo do Brasil. As alegações da agência são de que tal decisão refletiu "o risco crescente de que o contínuo baixo crescimento e a piora dos indicadores de dívida sinalizem uma redução na qualidade de crédito do Brasil, os quais poderão implicar uma migração em sentido declinante em seu rating de crédito." Ao mesmo tempo, a agência manteve a nota de crédito atual, que foi reafirmada em “Baa2”


Primeira pergunta que saltou aos nossos olhos: por que a Moody's rebaixou a perspectiva de nota mas reafirmou a nota? A resposta, disponível na página já lincada, é quase inacreditável.


Ao mesmo tempo, a Moody's afirmou o rating dos títulos do governo brasileiro em seu nível atual Baa2, levando em conta a contínua resiliência do país a choques financeiros externos, dado seu colchão de reservas internacionais; vulnerabilidade limitada do balanço patrimonial do governo a mudanças abruptas no apetite global por risco em relação aos seus pares; e [a nossa preferida] os benefícios subjacentes derivados da economia extensa e diversificada do Brasil.

Podemos entender esse texto como "olha, a gente até queria rebaixar a nota do Brasil, mas os fundamentos econômicos do país vão tão bem que a gente teve que segurar a onda!"


Agora explica, Moody's, por que essa alteração de perspectiva de nota do Brasil? Segundo a agência, a alteração deve-se a três fatores: redução do crescimento econômico, com pouco sinal de retorno ao potencial de curto prazo, deterioração do sentimento do investidor e desafios fiscais.


Hummm... então o problema é com investimento em curto prazo e sentimento dos investidores? Mas e os índices de desemprego, os níveis dos salários e a distribuição de renda entre os brasileiros, contam para esse rating?


Voltamos ao documento da Moody's, demos CTRL+F e digitamos: desemprego / salário / distribuição de renda. Faça você também esse teste! Note que, no quadro de busca no canto superior direito, a ocorrência das palavras buscadas é sempre 0.


Então, parece que a grande preocupação da Moody's ao revisar a perspectiva de nota de classificação é a rentabilidade dos títulos brasileiros no bolso dos grandes investidores. A perspectiva econômica para os trabalhadores em geral não interessa ao rating da agência. Portanto, a qualidade de vida dos trabalhadores brasileiros não é relevante ou importante para o rating (nessas horas a gente esquece de classificação, capricha no R retorcido pra falar rating).


Mas vamos em busca de críticas construtivas nesse texto?


A Moody's acredita que níveis fracos da confiança do empresariado e do investimento irão impor obstáculos para uma recuperação econômica, diante de prospectos limitados de uma reversão no sentimento dos investidores [parece até aquela candidata falando...]. Na ausência de investimento privado mais forte é improvável que se desenvolva uma recuperação sustentada da atividade econômica.


Então, a agência classificadora concorda com a presidenta Dilma Rousseff que em diversas ocasiões também criticou o pessimismo sobre a economia do Brasil, e o comparou ao pessimismo com relação à Copa do Mundo, que ao final das contas não se concretizou. Parece ser uma espécie de jogo combinado: a oposição e parte da grande imprensa tentam construir um quadro de incertezas e pessimismo, enquanto o mercado rebaixa parâmetros de perspectivas, tentando dar substância a esse quadro.


E por falar em concreto/volátil, nunca é demais lembrar que, durante as eleições de 2002, diante da perspectiva - real - de Luiz Inácio da Silva vencer o pleito e tornar-se o primeiro metalúrgico presidente do Brasil, todas as agências internacionais de risco rebaixaram a nota do Brasil. O dólar chegou a valer R$ 4,00, por causa das "alta dívida pública aliada às incertezas eleitorais".   No final das contas, o quadro não passou de especulação especulação. Vale seguir observando para verificar se o desfecho da história também vai se repetir.



(*) Em nenhuma democracia séria do mundo, jornais conservadores, de baixa qualidade técnica e até sensacionalistas, e uma única rede de televisão têm a importância que têm no Brasil. Eles se transformaram num partido político – o PiG, Partido da Imprensa Golpista.