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A classe “C” não quer ser “A”. Quer ser ela mesma, o vizinho

O Conversa Afiada tem o prazer de reproduzir entrevista que Renato Meirelles, sócio-diretor do Instituto Data Popular
publicado 15/11/2010
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O Conversa Afiada tem o prazer de reproduzir (com uma certa liberdade ...) a entrevista que Renato Meirelles, sócio-diretor do Instituto Data Popular, deu à RecordNews e será exibida nesta terça-feira, às 21h15.

São três as razões que explicam por que as classes “C”,  “D” e “E”  vieram para ficar – explicou o Meirelles.

Primeiro
, o “bônus demográfico”: mais gente que produz do que gente que gasta sem produzir. Ou seja, quando há mais pessoas em idade de trabalhar do que idosos e crianças.

As classes “C”, “D” e “E” se beneficiam deste “bônus”.

As classes “A” e “B” têm mais idosos e crianças do que gente em idade de trabalhar e produzir.  

Segundo
, é a lei do “vamos em frente que atrás vem gente”.

Quem passou a dar iogurte ao filho não quer voltar a dar leite C.

As classes “C”, “ D” e “E” não querem voltar pra trás.

E querem consumir.

Eles seguiram a sugestão do Lula, quando houve a crise de 2008, aquela crise da urubóloga Miriam Leitão, e o Lula mandou o povo “gastar !”.

O povão foi lá e gastou.

E tem mais: se aparecer um governante que queira mudar as regras do jogo e obrigar a classe “C” a reduzir o padrão de consumo, o eleitor vai lá e troca de governante.

Terceiro, as chamadas condições “macro-econômicas”, ou como dizia este ordinário blogueiro, como “o Lula vai pendurar o FHC no pescoço o Serra”.

O aumento real do salário mínimo.

A distribuição de renda.

O Bolsa Família, que joga todo ano R$ 12 bilhões na economia e beneficia 45 milhões de pessoas.

O programa “Minha Casa Minha Vida”, por exemplo, observou o Meirelles.

É importante não só porque dá acesso à casa própria, mas porque emprega mão de obra das classes “C”, “D” e “E”.

Resultado: sete de cada dez cartões de crédito são de pessoas das classes “C”, “D” e “E”.

E a inadimplência no cartão está em queda.

Em resumo, diz o Meirelles, o voto obrigatório ajuda a classe “C”.

Clique aqui
para ler sobre a entrevista que este ordinário blogueiro também fez para a RecordNews com o professor Durval Albuquerque: “o PiG engrossa o preconceito contra o nordestino”.

Classe “D” é aquela que tem renda mensal entre um e três salários mínimos.

A classe “D” tem um poder de consumo maior do que o da classe “A” e o da “B” – só perde para a “C”.

As classes “C”, “D” e “E” são mais jovens que as classes “A” e “B”.

Para cada adulto da classe “A” há 4 das classes “C”, “D”, e “E”.

Para cada criança da classe “A”, há 10 – veja bem, amigo navegante, 10 para as classes mais pobres.

Na classe “C”, 50% são não-brancos.

Na classe “D”, não-brancos são mais de 50%.

Pergunto ao Meirelles se a indústria da publicidade do Brasil sabe dessas coisas.

Não, ele diz.

A maioria dos publicitários vem da elite e tende a fazer publicidade com o público de classe “A” e “B” na cabeça.

Eles não gostam de rap, não frequentam Orkut.

Meirelles vai mais longe: a publicidade brasileira acha brega a alegria, o colorido, o barulho, a extravagância, o São João, o exagero, Carnaval, o frevo, o artesanato popular das classes “C”, “D” e “E”.

Mas, as grandes empresas começaram a se mexer em direção à base da pirâmide de renda.

A Nestlé passou a vender porta-a-porta.

Qual a vantagem disso ?

No supermercado, ninguém explica as características do produto.

O vendedor na porta de casa, não: ele conhece o que vende.

A TAM passou a vender passagens nas Casas Bahia.

Até julho de 2011, em doze meses 8,7 milhões de passageiros das classes “C”, “D” e “E” vão viajar de avião.

Que horror, diria o Jabor (a observação foi do entrevistador e, não,  do entrevistado).

E quem vai viajar ?

O migrante que vai do Sul, Sudeste para visitar a família no Nordeste.

Sabe quantos migrantes nordestinos moram na Grande São Paulo, Paulo Henrique ?, perguntou o Meirelles.

Sabe ?, amigo navegante ?

São migrantes: não são filhos de migrantes.

Sabe quantos ?

5,5 milhões !

É a maior cidade nordestina do  Brasil.

São Paulo é a maior cidade nordestina do Brasil e não sabe (ou não quer saber – diz este ordinário blogueiro).

E os publicitários pensam que os Jardins ficam perto da Avenida Paulista.

E se esquecem do Jardim Ângela, diz o Meirelles

E do Jardim Romano, lembrou este ordinário blogueiro.

(Jardim Romano é aquele que a inépcia do Serra deixou alagado uns seis meses – PHA).

E quem é o “tipo ideal” da classe “C” e “D” ?

Quem eles querem imitar ?, perguntei.

A classe “A” ?

Negativo !, respondeu o Meirelles.

Eles não querem ser ninguém.

Querem ser eles mesmos.

Eles não querem imitar a classe “A”.

Eles querem ser o vizinho que deu certo !

Resumo da história, segundo o Meirelles: empresa que não for líder nas classes “C” e “D” dança.

Em tempo: este ordinário blogueiro lembrou que, durante a campanha, dizia que o Serra e o FHC pensam que “classe “C” fica entre a Executiva e a Primeira.

Paulo Henrique Amorim