Brasil

Você está aqui: Página Inicial / Brasil / Wanderley e Moro: por que só os trabalhistas?

Wanderley e Moro: por que só os trabalhistas?

“Não vem ao caso” não é nada católico – PHA
publicado 05/09/2015
Comments
charge bessinha tucanos santos

 

O Conversa Afiada reproduz texto de Wanderley Guilherme dos Santos, extraído de seu blog:

 

SINAL DA CRUZ

Os procuradores e autoridades conexas da Lava Jato se declaram profissionalmente católicos, isto é, de visão universalista, sem aversão aos recém-convertidos ao mundo da moralidade nem intimidados por altares poderosos. Do mais alto cume ao modesto montículo da montanha de autoridades, eles anunciam que extrairão a golpes de delações premiadas, indícios e sussurros, a morrinha da corrupção exalada pela Petrobrás e sua antiga auréola, agora penico, de empreiteiras. Esse radicalismo vertical ora se apresenta em discreto namorico com o ferrabrás princípio de que o fim justifica os meios, ora desconsidera pistas ao recusar que os mesmos meios possam justificar a descoberta de novos fins. Os agentes costumam desqualificar as suspeitas sobre a lisura de seus procedimentos por que se sustentam no valor de face do noticiário da imprensa. Negligenciam o detalhe de que um noticiário jornalístico fragmentado, além de parcial, é o que resta ao público interessado. Justificados pela transparência democrática, quando convém, e pela preservação da inocência de investigados não condenados, quando assim arbitram, os funcionários da Polícia Federal e do Ministério Público ora vazam trechos de delações, ora distribuem fotocópias de documentos sem contexto, ora informam que há novos depoimentos de delatores-arroz-de-festa e ora liberam balões batizados e crismados com nomes e apelidos de possíveis futuros presidiários. Tal política de comunicação condiciona a imprensa e, através dela, os leitores atentos, deixando-os à mingua de uma visão coerente da catadupa de informações desencontradas, dezenas de nomes que se atropelam para retornar mais tarde, repetindo-se à exaustão propagandística a tipologia dos crimes de que estariam sendo acusados. O parentesco com manipulação de informação e produção subliminar de consenso, negativo, no caso, é inegável.

O sempre surpreendente desenrolar do processo enfrenta a acusação de estar contaminado por preferências político-partidárias. Repelida com veemência, por vezes com petulância e grosseria, a acusação, contudo, se apoia em indícios genuínos, a limitação temporal da investigação sendo o mais óbvio deles. Despachos e justificativas oficiais poderão, no futuro, esclarecer porque só cabem no processo os ilícitos ocorridos durante governos trabalhistas. Ainda segundo o ralo estoque informativo de que se dispõe, mais de um delator, implicado, suspeito, indiciado, público ou privado, ofereceu confissões bastante abrangentes, partidária e temporalmente. São obscuras as razões da rejeição a esses capítulos confessionais. Pela crua lógica do fenômeno universal da corrupção, são os partidos no poder que aproveitam as oportunidades de predação e, aí, sim, constituiria transcendente novidade histórica a descoberta de grande número de representantes da oposição no condomínio da ilicitude. Era só o que faltava, diria Maquiavel. Sendo a presença de oposicionistas naturalmente raras, no período, muito mais incompreensível é a aversão de juízes, policiais e procuradores a denúncias que ultrapassem os mandatos do PT e seus aliados.

O radicalismo vertical da Lava Jato, punindo das mais notórias personagens ao entregador de envelopes com dinheiro sujo, está longe de ser um processo efetivamente católico. Distender o eixo horizontal do tempo livraria a investigação da suspeita de partidarismo vertical por oportunismo temporal. Para ser católico, o processo e seus agentes devem se render ao tempo cívico e completar o sinal da cruz.