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Uma craca chamada Temer

"Apoio condicionado" cheira a traição
publicado 25/06/2017
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O Conversa Afiada reproduz o artigo de abertura da imperdível Rosa dos Ventos, de Mauricio Dias, na Carta Capital, onde se encontra, também, a afiada denúncia do Jessé Souza:

Michel Temer insiste e resiste. Daqui não saio. É possível traduzir assim o sentimento dele. Por duas vezes, empolgado pelo aconchego do poder, chegou a ameaçar: “Não renuncio”. Posteriormente, reafirmou: “Só saio se me matarem”. Dramático sobre sua própria situação, é bom resguardar o manto da dúvida.

O Congresso, no qual ele se apoia, já manda fortes sinais de rebeldia, como o ocorrido na derrota sofrida pelo governo durante a votação da reforma trabalhista na Comissão de Assuntos Sociais do Senado. “Vamos ganhar no plenário”, foi esta a resposta curta de Temer para explicar o fracasso. Para evitar outro revés, Temer usou a truculência, a sinalizar para quem votar contra ele, seja deputado, seja senador, e ordenou a caça aos funcionários indicados por parlamentares infiéis. O presidente ilegítimo agarra-se ao poder assim como as cracas no casco do navio, com poder para retardar a navegação.

Dá-se, porém, que Temer já não sabe mais se pode contar com a solidez da base governista. O Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap) fazia a seguinte análise: o governo conta com 413 deputados divididos em duas categorias, 240 na de apoio consistente e 173 de apoio condicionado. No Senado, o governo conta com 65 nomes, sendo 54 de apoio consistente e 11 de apoio condicionado. Apoio condicionado, como se sabe, ameaça trazer ao nariz um vago odor de traição.

Incide sobre os aliados a pressão da opinião pública, alcançada pelos reflexos das delações à Lava Jato e do longo e patético diálogo travado à noite entre Michel Temer e Joesley Batista, da JBS, no porão do Palácio do Jaburu. O encontro, gravado pelo empresário, virou delação e contém várias passagens condenáveis por lei. E deu no que deu.

Serviu-se dela Rodrigo Janot, o procurador-geral da República que anda à espera de o STF julgar o pedido de prisão para Aécio Neves e enquadra Temer nos crimes de organização criminosa, corrupção passiva, prevaricação e obstrução da Justiça. Em ação contrária às cracas, há ratos pulando do navio.

Temer aposta na perspectiva da eleição de 2018 para manter o PSDB sob controle, mas os tucanos estão desunidos, como se sabe, em relação à continuidade de seu apoio. Até o prefeito paulistano interferiu. João Doria Junior invocou o “termômetro da agonia” do governo, que numa escala de 1 a 10 “hoje seria 8”.

Temer não ouviu o alerta. Com um discurso otimista, sem convencer quase ninguém, postou nas redes sociais uma mensagem antes de viajar para fora do Brasil. Nela afirma: “Os criminosos não ficarão impunes no País”. O professor professa sua fé no paradoxo. Ou Freud explica?