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"Tira a chave do caminhão e sai fora!"

Repórter da Piauí entrou no Whatsapp dos caminhoneiros
publicado 26/05/2018
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A greve continua: caminhoneiros ocupam o acostamento da Régis Bittencourt, no início da manhã de sábado (Créditos: Felipe Rau/Estadão)

Da Piauí:

Falta combinar no Whatsapp

Por 24 horas, nossa repórter acompanhou quatro grupos de caminhoneiros no aplicativo; viu minuto a minuto eles se insurgirem contra as forças federais, desprezarem o acordo de Temer e se negarem a encerrar a paralisação

Um grupo de líderes do movimento de caminhoneiros, vestidos de terno e gravata, se reuniu com os ministros do governo Temer em frente às câmeras de tevê para endossar um acordo que prometia acabar com a paralisação que tomou conta do país. A reação imediata, longe de ser tranquilizadora, espalhou-se em grupos de WhatsApp de caminhoneiros: vídeos e áudios indignados, sindicatos desmentidos, governo execrado. A conclamação para uma manifestação ainda maior e mais duradoura foi feita. “Desde quando autônomo tem sindicato?”, dizia um caminhoneiro no grupo “Lutar pelo Melhor”. “Acabou coisa nenhuma. Esse sindicato não vale nada”, dizia outro, com telefone de São Paulo. “Isso é mentira. Não acabou, não. Não atingiu nosso objetivo”, escreveu um terceiro, também paulista.

Quando o governo anunciou, depois, que acionaria forças nacionais para liberar as estradas ocupadas, a reação também foi de resistência nos quatro grupos de caminhoneiros no WhatsApp dos quais a piauí participou, desde a tarde de quinta-feira. “A orientação dos advogados é a seguinte: se o Exército chegar é pra sentar no chão e botar a mão na cabeça, em sinal de rendição”, disse um caminhoneiro no grupo “Brasileiros/Caminhoneiros”, com 252 integrantes de São Paulo, Minas Gerais e Pernambuco. “Tira a chave do caminhão e sai fora, deixa rolar”, postou outro. As mensagens demonstravam uma intenção de evitar enfrentamentos, mas de não sair das estradas nos próximos dias.

Nos grupos, os próprios participantes da negociação com o governo eram desqualificados pelos caminhoneiros. (...) Em outro grupo, “Caminhoneiros pelo Brasil” – com cerca de 200 participantes, de Santos, Minas e do Nordeste – uma foto de um jornal regional que falava do “fim da greve” era tratado como “fake news”. O anúncio do acordo deixou os caminhoneiros desses grupos ainda mais inflamados. Muitos perfis começaram a usar como foto de apresentação uma tarja com “Greve Continua” ou a hashtag #somostodoscaminhoneiros.

Uma das conclusões do acompanhamento minuto a minuto das mensagens nesses grupos é que a liderança dos mais de dois milhões de caminhoneiros do país está longe de se encerrar nos oito representantes que se reuniram com os ministros. São centenas de líderes, não necessariamente ligados a sindicatos. “Cada bloqueio tem o seu líder”, disse à piauí o caminhoneiro conhecido como “Ferro Velho”, um dos organizadores dos bloqueios em Jacareí, em São Paulo, na Rodovia Presidente Dutra, que liga São Paulo e Rio de Janeiro. A declaração dá a medida do desafio que será desmontar a paralisação. Em Chorozinho, perto de Fortaleza, o líder Jaime enviou um vídeo, no grupo “Lutar pelo Melhor”, mostrando que nada mudou em função do anúncio do acordo de Temer com os representantes. “O que eles vão fazer agora é usar esse acordo contra nós, ameaçando com multas”, disse Jaime. (...)
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