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Sarney: se Lula não concorrer, cadê a legitimidade?

Maria Cristina: Lula pode ser o maior cabo eleitoral, se não for candidato
publicado 07/12/2017
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Crédito: Ricardo Stuckert

Por Maria Cristina Fernandes no PiG cheiroso

O conselho de Sarney

(...) (Sarney) Diz que Lula está para atingir um patamar que levaria sua exclusão a manchar de ilegitimidade a disputa eleitoral, além de aumentar a insegurança da legião de investigados que batem ponto na capital federal. Se Lula ficar de fora, como Aécio Neves, Romero Jucá, Renan Calheiros poderão disputar? Se o petista puder concorrer, que ficha corrida estará impedida de se candidatar?
Lembrado de que, numa eleição com Lula, tudo pode acontecer, até o ex-presidente ganhar, pondera que sua rejeição não lhe permite ser considerado imbatível num segundo turno. Afastado do petismo desde o final do primeiro mandato de Dilma Rousseff, quando foi flagrado por um fotógrafo na cabine eleitoral em cena que sugeria voto em Aécio Neves, Sarney faz uma conta de padeiro. É a mesma que todos os postulantes, de Minas Gerais para cima, já conhece. Lula até pode não ter votos para voltar à Presidência da República, mas será o maior cabo eleitoral de 2018. Tome-se, por exemplo, o que pode vir a acontecer no Maranhão com a família Sarney se o petista for excluído da campanha.

O patriarca quer a filha Roseana (PMDB) no quinto mandato à frente do Estado, contra a reeleição do governador Flávio Dino (PCdoB). O ministro do Meio Ambiente, José Sarney Filho (PV), condenado a disputar eternamente a Câmara dos Deputados pela precedência da irmã, também teria a oportunidade de concorrer, pela primeira vez, a uma vaga no Senado. Até o filho Fernando, hoje vice-presidente da CBF, poderia estrear nas urnas como suplente de senador se o pai resolver encarar mais uma disputa majoritária no Amapá. Nada como esperar o dia amanhã com um foro privilegiado.

O palanque de Lula no Estado é o de Flávio Dino (PCdoB). Um dos autores da Lei da Ficha Limpa, o governador conhece como poucos o trâmite da impugnação eleitoral dela decorrente. Pela sucessão de recursos dos quais Lula pode vir a lançar mão, Dino dá por certo que o ex-presidente, no mínimo, manteria sua candidatura até o fim de agosto. O governador acaba com convergir com seu principal adversário: "No pior das hipóteses, se confirmaria um processo de exclusão ilegítima".

Ouviu de uma eleitora de seu Estado, que o 'velhinho' deve voltar, sinal de que Lula repetiria o queremismo de Getúlio Vargas, embalado, em 1951, pelo jingle de Francisco Alves ("Bota o retrato do velho outra vez, bota no mesmo lugar"). Da classe média que se descolou do lulismo, Dino diz que os efeitos de reformas governistas como a trabalhista se encarregará de devolver os votos. Reconhece que os desempregados mais pobres podem preferir um trabalho intermitente a nada, mas cita a demissão em massa nas faculdades Estácio de Sá, para recontratação sob as novas regras, como exemplo com potencial de atração do eleitor de classe média lulista desgarrado. É difícil imaginar que o professorado seja este eleitor desgarrado do petismo, mas a moda pode pegar no resto da economia.

Nada disso pode reverter uma decisão judicial em última instância e sem possibilidade de embargos ou recursos. Mas se o caldo for de insatisfação e Lula ficar impedido, seu potencial de transferência de votos, que já é o maior do mercado, ficaria potencializado. A opção do ex-presidente pelo ex-prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho, para disputar o governo de São Paulo, apenas sacramenta a ideia de que o ex-prefeito da capital, Fernando Haddad, é mantido como reserva estratégica do lulismo. A lei permite a troca do candidato do partido até 20 dias antes da eleição.

É este o cenário que parece preocupar Sarney. Nos Estados em que Lula é mais popular, o governo Michel Temer não tem como esperar que seus aliados possam vir a comemorar sua exclusão. Tirante Jair Bolsonaro, que faz surgir comitês espontâneos no Nordeste, os demais candidatos custam a empolgar, ainda que seja cedo para dizer que Marina não possa vir a crescer como terceira via. A ex-senadora correu para se lançar na esteira da desistência de Luciano Huck e buscar o partido (PPS) que oferecera abrigo ao apresentador. É uma candidatura que enfraqueceria o grupo do PSB favorável ao ex-ministro Joaquim Barbosa. Ao visitar Pernambuco em data que o governador, Paulo Câmara (PSB), estava em viagem, o governador Geraldo Alckmin explicitou as dificuldades em ter o PSB ao seu lado. Se, além de São Paulo e Pernambuco, o PT também acenar com apoio ao PSB no Distrito Federal, ficará mais difícil tirar o PSB do lado de Lula. Com o apoio, em graus variados, dos senadores Renan Calheiros (AL), Eunício Oliveira (CE) e Ciro Nogueira (PI), os petistas rumam para lacrar o Nordeste.

O governador do Maranhão tem vice tucano, mas não duvida que o PSDB terá palanque próprio no Estado. Torce para que Temer conclua o seu, em torno de Roseana, e lhe transfira toda sua popularidade. Daí porque Sarney tem estimulado tantas candidaturas governistas que, somadas, não alcançam dois dígitos. Dissipa o vínculo dos candidatos da base aliada com o governismo e evita que o antilulismo ricocheteie e os atinja.

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