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Paim: o momento é de garantir que se dê oportunidades aos negros como dão aos não negros

Na sombra da mesma árvore eu quero ver brancos, negros e índios
publicado 20/11/2019
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(Crédito: Moreira Mariz/Agência Senado)

Via Mídia 4P - O Portal Mídia 4P, site voltado especificamente para a questão racial, propôs, no Dia da Consciência Negra, que personalidades negras refletissem sobre a data. Para todos os (as) entrevistados (as) foram encaminhadas as mesmas perguntas. Abaixo, seguem as respostas do senador Paulo Paim (PT):

4P – O Dia Nacional da Consciência Negra é comemorado há 16 anos. Nesse intervalo, o que mudou?

Paulo Paim – Mudou muito pouco, a não ser a política de cotas, que foi fundamental para que a gente ampliasse o número de negros na universidade. Pelo outro lado, o quadro é muito parecido nas últimas duas décadas. O número de negros assassinados, especialmente jovens. De cada dez, oito são negros. O salário continua… aumentou, inclusive, a concentração nesse período. Há tempos atrás, era 30% menos do que o dos brancos no local de trabalho. Hoje está em torno de 40% e as mulheres chegam a ser mais de 50% (a diferença salarial). Espaços, oportunidades para os negros em cargos executivos da iniciativa privada e mesmo do Legislativo são raras exceções, quer seja como ministro, por exemplo, quer seja no Judiciário, no Executivo e também no Legislativo. No Legislativo a gente não tem nenhuma dúvida de quantos negros assumidos no Senado. A não ser no meu caso, quais são os negros assumidos e que lutam pelas causas raciais? Claro, avançamos com o Estatuto da Igualdade Racial. Foi uma construção que nós fizemos a partir do momento em que eu fui na África do Sul com uma delegação – Caó, Benedita, Edmilson, Leonelli e outros – para pedir a libertação de Mandella. Foi polêmico na época (o estatuto), mas foi promulgado. Como disse o Lula na época: “Vamos promulgar agora porque daqui a alguns anos vocês vão ver que nunca mais vão ter chance de aprovar um estatuto como esse”.

4P – O que ainda precisa avançar?  

Paulo Paim – Eu diria que hoje no Legislativo e no Executivo há uma distância grande entre os negros e os que não são negros. Poderia dar meu exemplo no Senado, mas vemos isso também na Câmara. O que temos na Câmara? Quinze por cento, 20% no máximo? E os negros são 54% da população. Vamos olhar os partidos políticos. De executivo ao de ponta, de presidente, vice-presidente, secretário-geral, dá para contar nos dedos. Nos cerca de 30 partidos que temos, onde estão os negros? Vamos ver nas próximas campanhas eleitorais qual vai ser o percentual dado a negras e negros para fazerem a disputa.

Claro que quando se fala de um momento como esse, o principal investimento deve ser em educação, mas não tem só educação, mas saúde, segurança, moradia e salário decente para que eles possam viver de uma forma melhor, possam, ao longo da sua caminhada, ampliar seus conhecimentos e ocupar espaços. Ninguém me diga que não existem intelectuais negros aqui. A eles não se tem dado oportunidade. Existem centenas e centenas, pra não dizer milhares de pessoas preparadas a quem não se dá oportunidades. Então, o momento é de garantir que se dê oportunidades aos negros como dão aos não negros. Eu não acredito que esse país possa ser um dia de primeiro mundo sem fazer essa construção. Como dizia Martin Luther King, na sombra da mesma árvore eu quero ver brancos, negros e índios sentados na mesma mesa e desfrutando do mesmo pão. 

4P – Sobre qual aspecto da questão racial você acha que a sociedade precisa refletir mais?

Paulo Paim – Combate ao racismo. Claro, falo de discriminação ao povo negro, mas também de outros segmentos. A agressão religiosa, que é uma vergonha, o preconceito contra as religiões de matriz africana. Também podemos falar das mulheres, LGBTs, idosos, feminicídios, crianças, enfim, essa violência que existe no nosso país.

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