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O IBGE vai roubar as contas?

Cuidado, Paulo Rabello tem uma agência de risco!
publicado 26/04/2017
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O neolibelês (D) e um agente de risco (E) (Reprodução: Correio do Povo)

Como se sabe, um açougueiro desse tal neolibelismo, Paulo Rabelo de Castro, golpista presidente do IBGE, é (ou era) dono de uma "agência de risco", ou seja, uma empresa que diz ao cliente como se virar, diante de resultados do IBGE (entre outras malandragens, como as agências de risco americanas, que vendem "riscos" aos bancos...)

Agora, há a gravíssima suspeita de que o IBGE vai fraudar números como as concorrências para fazer publicidade do Bando do Brasil (revisor, não mexa!).

IBGE muda estatísticas: Contabilidade criativa?


O governo de Michel Temer parece ter finalmente encontrado a fórmula da recuperação da economia brasileira: mudar suas estatísticas econômicas. É o que o IBGE fez recentemente, para estranhamento do próprio sindicato dos funcionários do órgão público.

Na segunda semana de abril, o IBGE divulgou dados que mostraram uma forte revisão do desempenho do comércio e dos serviços em janeiro. Menos de 15 dias antes, o órgão nos informava que as vendas no varejo caíram em janeiro 0,7% em relação a dezembro. A queda foi pior no setor terciário (serviços), de 2,2%.

Isto apontava para o fato de que o governo Temer não tinha assegurado a recuperação da economia, a despeito da recomposição de estoques na indústria e da expectativa de uma safra agrícola recorde.

Supreendentemente, a revisão para janeiro apontou um crescimento mensal para o varejo de 5,5% (mais 6,2% que o dado original!) e, para serviços, de 0,2% (mais 2,4% que o original).

Por isso, a chamada prévia do PIB calculada pelo Banco Central, o IBC-Br, mostrou crescimento espantoso de 1,31% em fevereiro sobre o mês anterior, ainda que nem o crédito nem o emprego tenham se recuperado (pelo contrário).

Como para mostrar que não houve recuperação efetiva do varejo, a mesma pesquisa que revisou a queda de 0,7% para crescimento de 5,5% em janeiro apontou que, em fevereiro, o comércio caiu 0,2 em relação a janeiro, algo mais consistente com a tendência que se verificava até o súbito salto na revisão de janeiro.

O governo federal comemorou a revisão estatística, evidentemente sem explicar que a recessão só terminou, bem, estatisticamente...

Grandes grupos de comunicação ajudaram na propaganda política, sem fazer aquilo que se espera do jornalismo sério: checar informações e explicá-las à população.

Há algum indício de manipulação de dados no IBGE? Sim e não.

Não sabemos, por exemplo, se o presidente do IBGE indicado por Michel Temer, Paulo Rabello de Castro, interferiu para acelerar a mudança metodológica ou forçar a descontinuidade brusca da série estatística anterior.

Algo nesta linha parece ser sugerido pelo manifesto publicado no dia 20 de abril pelo Sindicato Nacional dos Trabalhadores do IBGE (ASSIBGE-SN):

“...a ASSIBGE-SN repudia qualquer ilação sobre 'manipulação' de dados e reafirma a seriedade e o compromisso do corpo técnico do IBGE. No entanto, alertamos que dúvidas sobre essas correções são levantadas, na medida em que a condução do Instituto está entregue a um Presidente mais preocupado em fazer propaganda do governo Temer do que em preservar a instituição”

Não há nada errado em mudar a metodologia para melhorá-la, e o órgão faz isto com frequência. O problema é a descontinuidade brusca da série estatística anterior e a baixa transparência com que a mudança vem sendo feita.

É de suma importância histórica entender e medir a profundidade da crise econômica brasileira. Ela já é a maior de nossa história. Não estamos em um momento qualquer, o que exige muito cuidado na transição de uma metodologia para outra.

Um problema central será o de datar o fim da recessão. Mês a mês, pode ser que, medida pelos novos critérios, a economia mal se recupere ao longo de 2017.

No entanto, os novos critérios vão determinar o fim estatístico da recessão quando o quarto trimestre de 2016 for comparado com o primeiro trimestre de 2017, pois este será avaliado pela mesma nova métrica que determinou o salto brusco na revisão de janeiro, enquanto 2016 continuará sendo avaliado pela velha métrica.

O IBGE vai misturar alhos com bugalhos.

Informação x propaganda

Para maioria dos que interessam mais em informação precisa do que em propaganda governamental, é importante datar corretamente o fim da recessão, que na antiga métrica do IBGE tinha se agravado nos dois últimos trimestres de 2016.

O correto é que a série antiga continue sendo divulgada durante um período de transição ou, o que é mais difícil, que todos os dados desde 2014 sejam revistos pela nova métrica.

Para fazer isto, o IBGE pode entregar os dados para pesquisadores externos.

Ou melhor: sua própria direção deveria autorizar seus funcionários públicos de carreira, certamente plenos de compromisso institucional e de sua missão pública (iluminar os brasileiros sobre sua vida social), a apresentarem a série antiga junto com a nova.

O corpo técnico pode aperfeiçoar a metodologia, mas é a presidência do IBGE que pode determinar que a série anterior seja descontinuada ou não.

Em reunião fechada com economistas e analistas de mercado no dia 18 de abril, contudo, a direção do órgão teria se recusado a apresentar a série antiga junto com a nova, alegando dificuldades técnicas, segundo fontes que pediram confidencialidade (sob pena de não serem novamente convidadas).

Quando solicitada a entregar os dados para que os próprios analistas de mercado fizessem os cálculos, a diretoria do órgão teria respondido que cada um dos analistas deveria solicitar a informação privadamente e que, se possível fosse (não é), seria exigida uma cláusula de confidencialidade para evitar a publicação das informações. Teria se seguido um bate-boca.

Isso ocorreu exatamente assim? Como saberemos? Por que a reunião foi fechada a convidados que podem não voltar se falarem demais? Por que a imprensa não estava presente? Por que o IBGE não chamou uma audiência pública? Ela precisará ser chamada pelo Congresso Nacional?

A nomeação do atual presidente do IBGE causou apreensão quanto a um possível conflito de interesses por ser proprietário de uma consultoria privada.

Depois dizer-se licenciado, ele causou grande insatisfação entre o corpo de funcionários ao sugerir a cobrança no acesso aos dados do IBGE, como se o órgão público fosse uma consultoria privada ou, na analogia que usou, um “pesque-pague” de informações.

Até segunda ordem, o IBGE é um órgão público e suas informações devem ser públicas. Ele não pode vir a ser gerido como um aparelho de propaganda do governo Temer ou, pior, como uma consultoria privada.

Não surpreenderá que funcionários de carreira do IBGE façam à revelia da presidência o que a missão do órgão público, criado em 1942, os obriga: tornar públicas as informações que parecem não interessar a todos.
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