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O ficcionista Temer

Dias: Joesley "doou" R$ 300 milhões nas eleições de 2014!
publicado 08/07/2017
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O Conversa Afiada reproduz o artigo de abertura de Mauricio Dias na imperdível "Rosa dos Ventos", na Carta Capital.

Michel Temer, agora amparado pelo criminalista Antonio Claudio Mariz de Oliveira, tenta transformar fato em ficção. Fracassa também nesse caso. A tese, no entanto, foi bem acolhida pelo advogado cuja natureza do ofício o obriga, às vezes, a dar dribles na verdade em defesa do cliente.

Não pode ser esse, no entanto, o papel de um presidente da República, mesmo se chegado ao poder valendo-se de um golpe. Como é o caso. Temer pensa que está vestido. A sociedade sabe que está nu.

Na quarta-feira 5, Mariz entregou na Câmara dos Deputados a sustentação da defesa de Temer, de quase cem páginas, em contraposição à acusação assinada por Rodrigo Janot, procurador-geral da República.

Na noite daquele mesmo dia, em programa de televisão, Janot falou da reação que teve ao ouvir a famosa gravação que botou Temer de cócoras: “Eu fiquei chocado e senti náusea”. O desabafo do sorumbático procurador-geral, se não for cena, é inédito publicamente.

Onde está a honestidade? Com Temer, que nega, ou com Janot, que afirma? Convém valer-se do refrão da música de Noel Rosa, inspirada pela mesma ironia e semelhante inquietação: E o povo já pergunta com maldade: onde está a honestidade? Onde está a honestidade? Noel Rosa ainda se refere ao dinheiro que “nasce de repente”. Ou seja, o enriquecimento rápido tão bem praticado no Brasil desde priscas eras.

Em busca do riso da plateia, Mariz equiparou o trabalho do procurador-geral a uma “peça de ficção”. Sorridente, insistiu em negar a existência de crime no diálogo entre o presidente e o empresário Joesley Batista, da Friboi, travado nos porões do Palácio do Jaburu.

Batista é, como se sabe, dono da maior exportadora de carne bovina do mundo. Em números oficiais, doou mais de 300 milhões de reais a candidatos e partidos nas eleições de 2014, segundo trabalho da Fundação Getulio Vargas, com números extraídos do Tribunal Superior Eleitoral. Em cifras arredondadas, Batista foi seguido pelas construtoras Andrade Gutierrez (10,4 milhões), Queiroz Galvão (8,8 milhões), OAS (7 milhões) e UTC (6,8 milhões). Choveu dinheiro. Isso, sem contar com o reforço do caixa 2.

O presidente foi forçado a buscar novos rumos, desde que se viu prisioneiro na armadilha preparada por Joesley, que considera que Temer é “o chefe da quadrilha mais poderosa do Brasil”.

Indômito, o presidente convocou um perito para desmascarar a gravação. Fracassou, após enfiar a grana no bolso. Depois de um mês de trabalho, a Polícia Federal desmontou com eficiência as afirmações de que a gravação tinha sido editada, como Temer insistia em sustentar.