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MP sabe e não age: outra mineradora destrói Brumadinho!

Mineração Ibirité usa dinamite a poucos metros de residências!
publicado 27/01/2019
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Créditos: Ricardo e Rejane Moraes/Movimento pelas Serras e Águas de Minas

O Conversa Afiada reproduz trechos do vídeo-denúncia “MIB - Um Pesadelo de 10 Anos”, do canal do YouTube do Movimento pelas Serras e Águas de Minas.

O vídeo apresenta a luta do casal Ricardo e Rejane Moraes, moradores de Brumadinho-MG, contra a empresa Mineração Ibirité Ltda. O casal afirma que as operações da mineradora - como a utilização de máquinas pesadas e o uso irregular de explosivos - danificaram a estrutura da casa.

A denúncia foi publicada no YouTube em 4 de janeiro de 2019 - três semanas antes de outro incidente provocado por uma outra mineradora em Brumadinho.

O jornal O Tempo, de Belo Horizonte, falou sobre o caso em reportagem de 2/IV/2014:

Moradores reclamam de explosões de mineradora


Alheio aos transtornos vividos por dezenas de famílias do distrito de Córrego do Feijão, em Brumadinho, na região metropolitana de Belo Horizonte, o Conselho Estadual de Política Ambiental (Copam) revalidou ontem a licença de operação da Mineração Ibirité Ltda (MIB), ampliando ainda a sua área de atuação. Além do risco de doenças respiratórias, os moradores reclamam que as atividades da mineradora vêm, aos poucos, destruindo suas casas.

A ampliação pleiteada pela MIB no processo de licenciamento ambiental deverá manter o mesmo nível de produção atual, de 1,5 milhão de tonelada por ano de minério de ferro e a pilha de rejeito ocupará uma área de 2,40 hectares. Os danos provocados nos imóveis pelas vibrações das explosões constantes de dinamite foram constatados na tarde de ontem pela reportagem de O TEMPO. A casa da aposentada Maria Marques dos Santos, 57, as rachaduras saltam aos olhos. Segundo ela, todo final de tarde, os estrondos provocam a sensação de terremoto. “A gente pensa que a casa vai se partir ao meio, mas não podemos fazer nada. Somos pobres e a mineradora é poderosa”, lamenta.

A cozinheira Diomar Custódio Silva, 52, é mais uma a lamentar a impotência da comunidade. Morando há 13 anos no local, hoje com três netos pequenos sob o mesmo teto, ela aponta, em cada canto de sua casa, rachaduras que se alastram pelas paredes. “Já tivemos reuniões com representantes da mineradora, mas sempre somos humilhados. Eles dizem que nossas casas são malfeitas e por isso estão nesse estado”, conta.

A vigilante Francis Natália da Silva, 28, é mais uma a temer por um desabamento súbito de sua casa. “As fendas nas paredes daqui de casa passam um dedo com folga. O que tenho gastado por mês para cimentar esses buracos está desequilibrando completamente o meu orçamento”, diz. Aos 64 anos, dona Leonídia de Assis, que nasceu no lugarejo, já perdeu as esperanças de reviver os tempos em que a natureza era intocada e a paz reinava na região. “Hoje todos vivem sobressaltados, com medo de uma tragédia repentina”, afirma. (…)

A situação de Ricardo e Rejane também foi abordada em reportagem de Júlia Rohden, estudante da jornalismo da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) em 2016:

Ilhados pela mineradora


(...) Ricardo e Rejane Moraes mostram a foto do neto pequeno plantando pau-brasil no sítio em Brumadinho, cerca de 60 quilômetros da capital Belo Horizonte. A propriedade tem 550 jabuticabeiras, 65 pés de manga e 151 espécies de árvores diferentes. “Tudo o Ricardo plantou”, diz Rejane orgulhosa, lembrando também a criação de mogno, árvore de madeira nobre que pretendem deixar de herança para os netos. Em 1990, compraram o terreno e há nove anos a mina de ferro da Mineração Ibirité (MIB) se instalou nas redondezas. Começaram as explosões nas rochas, a poeira e o barulho das máquinas. Os constantes conflitos com a empresa transformaram a vida do casal de aposentados.

A mineradora é obrigada a enviar com antecedência um aviso de quando haverá novas detonações, no qual recomenda que os moradores fiquem dentro de casa, com janelas e portas fechadas. As paredes da casa de Ricardo e Rejane estão trincadas e o telhado amarrado com cabo de aço, “se ficar dentro, a casa pode cair em cima de nós e se sair para o quintal, voa pedra”. Rejane agarra o celular para mostrar alguns vídeos gravados em dias de detonação: o barulho ecoa pela sala, os cachorros latem e as luzes apagam. Ela relata que a sensação é de estar em um avião aterrissando, “treme tudo”. Segundo eles, as explosões acontecem a cada quinze dias, com mais de duas toneladas de dinamite. “O Carandiru foi destruído com 250 quilos de dinamite. Aqui são dez vezes mais”, compara Ricardo. Os dois passaram a gravar vídeos no celular para anexar como provas da ação que ajuizaram contra a empresa para receber indenização por danos morais e materiais.

A mina está praticamente no portão do quintal da casa deles e as máquinas podem ser vistas da varanda.

Rejane diz que em maio deste ano [2016], a MIB teve autorização para ampliar o empreendimento. “Vão minerar a 100 metros da minha porta e a 200 metros farão a pilha de rejeito.” As propriedades vizinhas foram compradas pela mineradora, isolando o casal. Eles contam que a MIB tentou comprar o sítio por um preço muito baixo, sem revelar o valor. Rejane diz que não quer dinheiro, “eu quero é sossego, é minha casa, minha vida está aqui. Nós não temos obrigação de vender, nós não construímos a casa para vender, mas para viver. É um direito nosso”. Ricardo complementa: “Eu moro aqui faz quase 30 anos, tudo do o que tenho está aqui, tudo, meu sonho, meu dinheiro, minhas coisas”. (…)

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