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Lava Jato via Alexandre Ramagem como corrupto e ligado ao PT

Novo diretor-geral da PF, Ramagem é amigo de Jair Bolsonaro
publicado 28/04/2020
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Por Rafael Neves, no The Intercept - O DELEGADO ALEXANDRE RAMAGEM ainda nem assumiu o comando da Polícia Federal, como pretende Jair Bolsonaro, e já enfrenta resistência devido à intimidade que cultivou com a família presidencial. Mas essa proximidade não é a única nuvem sobre a indicação. A força-tarefa da Lava Jato desconfia do policial, atual diretor da Abin, há quase cinco anos.

Para os procuradores do Ministério Público Federal em Curitiba, Ramagem era um nome ligado ao PT que estaria buscando “melar” a operação. Além disso, se preocupavam com a amizade que o nome de Bolsonaro para a Polícia Federal mantinha com um procurador preso e denunciado pela venda de informações de investigação ao grupo JBS.

Essas duas suspeitas foram compartilhadas por Deltan Dallagnol, coordenador da Lava Jato no Paraná, em conversas no aplicativo Telegram que foram entregues ao Intercept.

A desconfiança surgiu em 2015, quando Deltan Dallagnol dividiu uma preocupação com os colegas do MPF sobre um delegado oculto até aquele momento.

Já naquela época a Lava Jato vivia em guerra com o delegado Mario Fanton, que havia acusado seus colegas paranaenses de manipulação de provas e que acabou denunciado por violação de sigilo funcional.

Horas depois, no mesmo dia, Dallagnol retornou ao grupo com a identificação do suspeito: Alexandre Ramagem.

Em paralelo, Dallagnol repassou a informação a Januário Paludo, um dos veteranos da força-tarefa no Paraná.

É ele que batiza os grupos de chat no Telegram Filhos do Januário, que estão entre os mais usados pela força-tarefa (no final do ano passado, Paludo passou a ser investigado pela acusação de receber propina do doleiro Dario Messer em troca de proteção).

“O nome do Delegado de Brasília, que seria ligado aos políticos eh : Alexandre ramagem rodrigues”, escreveu Dallagnol a Paludo no dia 21 de julho. Paludo chegou a responder no dia seguinte, afirmando que acionaria seus pares em Brasília, mas o assunto não foi adiante.

A desconfiança sobre Ramagem ficou submersa e atravessou o fim do governo Dilma Rousseff para ressurgir, quase dois anos depois, no episódio mais devastador para a gestão do sucessor Michel Temer.

Em 18 de maio de 2017, procuradores de todo o país amanheceram com a notícia de que um colega, Ângelo Goulart Villela, havia sido preso por suspeita de ter vendido informações sigilosas de investigação a Joesley Batista, dono da JBS.

No dia anterior, vinha à tona a informação de que Joesley havia gravado Temer, no Palácio do Jaburu, dando um dúbio aval ao empresário para comprar o silêncio de Eduardo Cunha.

Três dias depois da prisão, Dallagnol entrou em contato com o procurador Anselmo Henrique Cordeiro Lopes, então coordenador da Operação Greenfield, que mirava fundos de pensão. Era a operação em que Villela, preso na véspera, atuava na época. Dallagnol repassou a Lopes uma mensagem recebida de um denunciante que ficou anônimo:

Não é claro se Dallagnol sabia disso, mas Villela e Ramagem de fato haviam trabalhado juntos em Roraima de 2008 a 2011. Cada um por seu órgão, haviam atuado na investigação das contas de candidatos ao governo do estado, em 2010.

Duas fontes ouvidas pelo Intercept que pediram anonimato afirmam que a relação dos dois era íntima: o procurador teria dividido casa com Ramagem em Boa Vista e convidado-o para o casamento dele, em 2013, uma festa de luxo no Copacabana Palace, no Rio.

O delegado realmente não trabalhava na Operação Greenfield. Naquele mesmo ano, contudo, Ramagem atuou na equipe da Lava Jato junto ao Tribunal Regional Eleitoral da 2ª Região, no Rio, e comandou a Operação Cadeia Velha, uma movimentação colossal da estrutura da PF que prendeu empresários do transporte público sobretudo no Rio de Janeiro.

Foram cumpridas conduções coercitivas de Jorge Picciani, então presidente da Assembleia Legislativa do Rio, e de Paulo Melo, deputado estadual e ex-presidente da Alerj, além de seis prisões preventivas e quatro temporárias e de 21 ações de busca e apreensão.

Ramagem permaneceu na Lava Jato até 2018, quando assumiu um trabalho administrativo na PF. Foi só após a facada que Bolsonaro sofreu durante a corrida eleitoral, em setembro, que o delegado assumiu a coordenação da segurança da campanha.

Pedimos à força-tarefa da Lava Jato em Curitiba uma posição dos procuradores a respeito das afirmações sobrede Ramagem. Em resposta, a assessoria do Ministério Público Federal no Paraná disse que “o site prejudicou o direito de resposta ao não disponibilizar o material para análise da força-tarefa”.

Diz a nota, ainda, que “a força-tarefa Lava Jato em Curitiba não reconhece as mensagens que lhe têm sido atribuídas”. “O material é oriundo de crime cibernético e sujeito a distorções, manipulações e descontextualizações”.

As afirmações são incorretas. O contexto das conversas foi informado aos procuradores, como de hábito. O Intercept não distorce, manipula ou descontextualiza as conversas.

O delegado Alexandre Ramagem também foi procurado. Ele não fez comentários até a conclusão deste texto. Sua manifestação será incluída assim que for entregue.