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JB: risco de o Brasil voltar para o Mapa da Fome é enorme!

Graziano, da FAO: ampliar o Bolsa Família e reduzir o desemprego!
publicado 12/08/2018
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De Lenise Figueiredo, no Jornal do Brasil:

O brasileiro José Graziano da Silva, diretor-geral da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), está no seu segundo mandato à frente do organismo da ONU, obtendo na sua reeleição o maior número de votos da história da agência - 177 dos representantes de 182 países. Agrônomo, professor e escritor, José Graziano foi ex- ministro do governo de Luiz Inácio Lula da Silva quando ajudou a criar o programa Fome Zero no Brasil. Com o sucesso do programa, Lula fez, pessoalmente, campanha junto aos chefes de Estado em todo o mundo para eleger Graziano para o mais importante órgão internacional de combate à fome e à desnutrição da humanidade. 

Desde que assumiu a posição como diretor geral da FAO, Graziano da Silva promoveu grandes mudanças dentro da organização. Definiu o foco da agência com o objetivo de erradicar completamente a fome e a desnutrição até 2030. Um  desafio diante da demanda alimentar de 7,3 bilhões de pessoas que habitam o planeta, sendo que 800 milhões de pessoas, a maior parte na zona rural, não tem o que comer. A cada 3-4 segundos se registra uma morte por fome no mundo. 

No Brasil, a partir de 2014 a crise econômica fez dobrar o número de pessoas em condição de miséria extrema. Segundo o IBGE, essa crítica situação atinge 13 milhões de brasileiros. José Graziano defendeu ao JORNAL DO BRASIL na sede da FAO, a reativação de políticas públicas de combate à miséria.

(...) Qual foi o maior resultado do programa Fome Zero que o senhor implantou em 2003 no Brasil?

O grande mérito do programa Fome Zero foi mostrar que muitas pessoas não tinham acesso aos alimentos simplesmente porque não tinham dinheiro para comprá-los. Isso porque não tinham emprego, emprego de boa qualidade, ou ganhavam salários muito baixos. Como legado, o Fome Zero comprovou que é possível, sim, a erradicação da fome. Para tanto, é preciso uma gestão articulada de diversas ações e programas sociais do governo, desde educação e saúde, passando pela agricultura familiar. Entre as principais características do Fome Zero estava a coordenação das ações de governo por uma equipe multidisciplinar. A nossa grande inspiração foi a promessa feita pelo ex-presidente Lula ao tomar posse, de que toda cidadão brasileiro faria, pelo menos, três refeições ao dia. A lógica por trás do Fome Zero era a de que a pobreza e a fome só poderiam diminuir com a intervenção do Estado. Seguindo essa lógica, ao longo do tempo, o Fome Zero foi aperfeiçoado pelo governo federal tomando a forma dos demais programas e ações no combate à exclusão social. 

Quais são os critérios da FAO para um país ser incluído no  Mapa da Fome?

O Mapa da Fome é um indicativo da fragilidade da segurança alimentar dos países. Eu costumo esclarecer que não existe uma punição aplicada pela ONU aos países onde persiste a fome. Quando nos deparamos com casos de insegurança alimentar grave, e isso ocorre na maior parte das vezes nos países da África, nossa recomendação é de, paralelamente, aumentar a  disponibilidade de alimentos e assegurar acesso da população a esses alimentos.

O país corre o risco de voltar ao Mapa da Fome, do qual tinha sido excluído em 2014? 

É importante lembrar que o Mapa da Fome da FAO utiliza como fonte de dados as pesquisas conduzidas pelos governos nacionais, no caso brasileiro, o IBGE. Dados mais recentes do IBGE já estão sendo analisados pelas equipes da FAO e indicam, preliminarmente, que metade das famílias em situação de extrema pobreza está, hoje, mais sujeita à insegurança alimentar e nutricional. Os motivos são a recessão econômica, desde 2015, com desemprego crescente e o cortes nos gastos de governo com as políticas sociais. Se o Brasil não voltar a crescer de forma contínua para promover uma retomada no mercado de trabalho, e se não forem não apenas mantidos, mas claro, ampliados os programas sociais, em particular os de transferências de renda, como o Bolsa Família, compras da agricultura familiar para a merenda escolar e a aposentaria rural, corremos o sério risco de voltar ao Mapa da Fome.