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Intervenssão Tabajara mata 12 num mês na Rocinha

Globo pediu e agora cospe no Exército que chamou
publicado 31/03/2018
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Do Globo Overseas:

Viúva de homem morto na Rocinha acusa PMs de terem atirado


A viúva do ajudante de pedreiro Davidson Farias de Sousa, de 28 anos, morto com um tiro, na Rocinha, na tarde de quinta-feira, quando estava com o filho de seis meses no colo, acusou ontem homens do Batalhão de Choque de terem confundido o bebê com uma arma. Aos prantos, Adriana Santos da Silva contou (...) que o marido costumava deixar o menino apoiado num dos antebraços, voltado para cima, o que pode ter causado a impressão, para policiais que estavam a cerca de 150 metros, de que Davidson segurava um fuzil. A morte do ajudante de pedreiro, baleado quando estava na varanda da casa da mãe, é a 12ª registrada este mês na Rocinha, comunidade que sofre com uma guerra desde setembro do ano passado. Somente no último sábado, oito pessoas foram assassinadas na favela.

A revolta de Adriana é ainda maior porque os policiais militares, que segundo ela atiraram contra Davidson, tinham armas com lunetas, que ajudam a identificar melhor os alvos, mesmo à distância.

— Como confundir uma criança com uma arma? Não tem lógica. Por que atiraram lá de baixo numa pessoa que estava no alto? Além do meu marido e do meu filho, tinha mais duas pessoas na varanda, o irmão do Davidson e um senhor. Se viram os três adultos, não perceberam que um deles estava com uma criança no colo? Hoje em dia veem um guarda-chuva e já confundem com arma. Mas confundir um bebê? Será que lá de baixo não deu para enxergar? Eles tinham lentes, como não se deram conta? — disse Adriana, em estado de choque, mas precisando manter a calma para cuidar de seu bebê. (...)

— Quando ele foi atingido, caiu com a cabeça para dentro da sala. Tivemos que usar o tapete para arrastá-lo. Os tiros continuaram. Pegamos logo nosso sobrinho do chão. Ele estava muito assustado e chorava — dizia um dos irmãos [Davidson], enquanto outro mostrava marcas de tiro de fuzil num estabelecimento próximo ao imóvel. (...)

Do mesmo Overseas:

Com 54 mortes em seis meses, Rocinha vive guerra mais letal em 4 anos


A Rocinha vive nos últimos seis meses seu período mais violento desde que as estatísticas criminais da área passaram a ser concentradas na 11ª DP, instalada na favela em dezembro de 2013. De janeiro de 2014 para cá, 91 pessoas foram assassinadas, segundo os registros dessa delegacia. Desse total, 54 — 60% — foram mortes violentas ocorridas de setembro do ano passado, quando teve início mais uma guerra do tráfico, até ontem. Atualmente, as facções pararam de se enfrentar, e os confrontos, agora, se dão principalmente com a polícia. Alguns moradores da Rocinha acusam agentes do Batalhão de Choque da Polícia Militar, que faz ação continuada na comunidade, pelas mortes de oito jovens na saída de um baile funk, no último dia 23, e de Davidson Farias de Sousa, na quinta-feira.

Dados do aplicativo Fogo Cruzado revelam que, de janeiro até ontem, o Rio teve 280 horas de tiroteios. De acordo com os números, a Praça Seca, na Zona Oeste da cidade, é a que mais sofre, com 67 horas e 56 minutos de disparos envolvendo milicianos, traficantes e policiais. (...) Em segundo lugar no levantamento ficou a Rocinha, do outro lado da cidade, na Zona Sul, com 44 horas e 22 minutos de disparos, somados todos os registros feitos no aplicativo, uma plataforma colaborativa que reúne informações de cidadãos, da polícia e da imprensa.

Apenas este ano, 28 pessoas morreram nos confrontos praticamente diários na Rocinha, que, segundo o Censo das Favelas, produzido em 2010 pelo governo do estado, soma 100 mil habitantes — o número do IBGE (70 mil moradores) é desacreditado pelos próprios recenseadores do órgão que atuam na região.

Pode-se dizer que é o período mais sangrento da história da Rocinha. Em outro período muito violento, em 2004, quando traficantes do Vidigal disputavam as bocas de fumo da favela vizinha, 12 pessoas chegaram a ser mortas num espaço de duas semanas. Agora, o mesmo número de vítimas foi alcançado nos últimos oito dias. Se foram assassinadas 28 pessoas nos primeiros três meses deste ano, em 2004 morreram 27 em oito meses. (...)

Em tempo: sobre a Intervenssão - aqui também chamada de Intervenção Tabajara - favor consultar o imperdível ABC do C Af.