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Dirceu aos estudantes: vamos à luta!

A Geração de 68 e a de 2018 impedirão o Golpe dos ricos: a supressão da eleição
publicado 15/02/2018
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Como não tem voto, querem impedir o povo de decidir (Reprodução: Nocaute)

Do Nocaute:

Zé Dirceu relembra 1968, o ano que incendiou o mundo


Olá, meus amigos e minhas amigas do Nocaute. Hoje eu quero prestar homenagem à geração de 68 que lutou contra a ditadura militar.

Os militares tomaram o poder, rasgaram a Constituição. Demitiram sete mil oficiais das Forças Armadas. Eram homens democratas, nacionalistas, progressistas. Expulsaram do serviço público dezenas de milhares de brasileiros e brasileiras. Fecharam catorze mil sindicatos, ligas camponesas, sindicatos urbanos e rurais. Reprimiram toda a oposição a ferro e a fogo. Inclusive, a oposição chamada liberal, burguesa, os políticos tradicionais, como o Jânio, como o Lacerda, Magalhães Pinto.

Impuseram a censura. Liquidaram com os partidos políticos. Puseram fim à eleição direta para presidente, governadores e prefeitos das capitais e as chamadas áreas de segurança nacional.

Era a ditadura, crua. Os estudantes se levantaram contra a ditadura. Em 65, ao chegar à Faculdade, eu encontrei o Centro Acadêmico fechado, até a Associação Atlética estava fechada. Era proibido fazer cineclube, teatro, feiras de livro.

Era um silêncio. Era a ditadura. Não havia liberdade. Nós estudantes nos levantamos contra a ditadura. Defendemos o direito de existir dos Centros Acadêmicos, da nossa organização civil, livre, democrática, eleita pelos estudantes, sustentada pela venda de carteirinhas de estudantes.

E fomos às ruas. Não aceitamos a proibição que a ditadura impôs à manifestação. Pelo contrário, defendemos a livre manifestação, a livre organização e o direito de protestar.

Enfrentamos a ditadura. Recebemos apoio de intelectuais, artistas, jornalistas, servidores públicos, de amplos setores da sociedade. Inclusive dos sindicatos que começavam a se reorganizar.

Foram anos de intensa luta e de grandes mudanças no Brasil. A geração de 68 fez uma verdadeira revolução social, de comportamento, costumes, cultural. Foi a música popular brasileira, o cinema novo, o teatro de vanguarda, era a nova literatura, uma nova forma de se expressar, era o direito à igualdade às mulheres.

Igualdade conosco, nas lutas, nas lideranças. O direito delas de decidirem o seu destino. O destino do seu corpo, o destino do seu futuro.

Era a geração de 68 no Brasil e no mundo lutando contra o autoritarismo. Mas havia a luta contra a ditadura, contra a privatização do ensino, contra a elitização do ensino.

Infelizmente, hoje, 80% dos estudantes universitários pagam para estudar. Caso único no mundo. E agora querem avançar sobre o ensino médio, sobre o chamado segundo grau. Privatizar, privatizar, é a palavra de ordem.

A geração de 68 se uniu aos operários quando ocuparam as fábricas em Osasco e Contagem. Os militares não podiam tolerar. Impuseram ao país o Ato Institucional 5, até porque reprimiu a toda e qualquer oposição, inclusive censurando a imprensa. E quando brasileiros e brasileiras se levantaram em armas contra o regime, ele deu um basta e fechou totalmente o sistema político do país.

Foi a época do silêncio, do medo. Mas por pouco tempo. Em 1973 voltavam as greves. Em 1974 a ditadura foi derrotada nas urnas. Em 1976, 1977 os estudantes voltaram a ocupar as ruas do país e a UNE foi reconstruída em 1979.

Em 1977, as greves no ABC, pela primeira vez, ouviram uma voz rouca gritar contra a ditadura. Era Lula que surgia.

Porque o povo se levantou apesar da repressão? Porque o modelo econômico da ditadura trouxe a carestia, a favelização. Porque houve uma corrida para as grandes cidades em busca de empregos e não havia investimento em saneamento, habitação, transporte, creches, em saúde.

E o povo começou a lutar nos bairros e periferias contra a carestia. Por creches, por melhores transportes, pelo saneamento, pelo direito à habitação. E nas fábricas, os trabalhadores, frente ao arrocho salarial e a manipulação da inflação cometida pela ditadura, se levantaram também em greves, em ocupações, em lutas.

Em 1978, a ditadura já perderia a eleição. Mas o que fazia a ditadura? Ia mudando o sistema eleitoral. Criou o senador biônico. Criou restrições a propaganda eleitoral. Criou inelegibilidades, criou domicílio eleitoral. Fez tudo para afastar o povo das urnas. De nada adiantou. Cresceu a luta pela Anistia, cresceu a luta contra a ditadura. E nós conquistamos a democracia e a Constituição de 1988.

A geração de 68 deixou a sua marca, deixou o seu exemplo. Muitos, inclusive, deram a vida pela liberdade e pela democracia.

Hoje, vivemos novamente um golpe e o crescimento do autoritarismo, a volta do preconceito, da censura, a volta da intolerância. O uso da violência na disputa política e principalmente o golpe parlamentar judicial que derrubou uma presidente legítima, eleita por 54 milhões de brasileiros.

Mas a política econômica que estão adotando no Brasil também está sendo repudiado pelo povo. Como eles não têm voto, como a ditadura não tinha, querem banir Lula das urnas. E querem falsear o sistema político eleitoral, tirando o povo da decisão com o semiparlamentarismo.

E agora autorizam que os candidatos ricos possam financiar suas campanhas. É o dinheiro comandando as eleições. Tudo isso para impedir que a esquerda, os democratas, os nacionalistas, vençam as eleições, que Lula possa ser candidato.

Essa luta vai continuar. Ela foi vitoriosa no passado, apesar da repressão. E será vitoriosa novamente. Vamos à luta.