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Contra os pobres, o Nazismo!

Classe média replica os campos de concentração para segregar os miseráveis
publicado 08/08/2017
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A varanda onde funcionava um restaurante na Rua Dias Ferreira, no Leblon, foi fechada por tapumes, porque o lugar estava sendo ocupado por mendigos (Créditos: Antonio Scorza/O Globo)

Do Globo Overseas, um dos principais responsáveis pela obscena desigualdade de renda no Brasil e no Rio:

Sem solução da prefeitura, prédios tomam medidas para afastar morador de rua


RIO - Um dos mais evidentes problemas sociais do Rio está nas calçadas, coberto por trapos e pedaços de papelão, à vista de qualquer um. Mas nem todos querem ver, muito menos de perto. Até mesmo as autoridades têm fechado os olhos. Assim como o Edifício Roxy, em Copacabana, que instalou uma espécie de chuveirinho na marquise, outros prédios têm adotado estratégias para afastar moradores de ruas. Arame farpado, tapumes, grades, creolina, ameaças e agressões são alguns dos “métodos” usados por comerciantes e condôminos para evitar que adultos, jovens e crianças durmam em suas portas. Enquanto a população de rua cresce — são 14.279 em toda cidade —, a prefeitura ainda estuda o que fazer para superar esse desafio.

Nesta segunda, após fazer uma vistoria no prédio onde fica o cinema Roxy, o Instituto Rio Patrimônio da Humanidade informou que vai determinar a retirada do chuveirinho. O motivo não é o fato de o equipamento molhar as pessoas que costumam dormir ali, mas por a construção ser tombada desde 2003 e, por isso, necessitar de autorização para fazer qualquer modificação. A Secretaria municipal de Urbanismo deverá aplicar uma multa.

O dispositivo que joga água na calçada foi instalado na última sexta-feira. O síndico diz que seria para molhar um jardim, que ainda será feito. Ele não quis informar se vai retirar a tubulação:

— Enquanto o jardim não chega, a gente vai usar para lavar a calçada, até porque os moradores de rua quando saem daqui deixam lixo, fezes e urina. O mau cheiro incomoda. Não instalamos isso para atingir as pessoas, até porque a água quando cai escorre pelo canto e corre pela calçada.

Reações conflitantes

O uso do chuveirinho provocou reações diferentes. Moradores da região dizem que foi a melhor solução encontrada pelo síndico e pelos condôminos do edifício. Além de ocupar as calçadas, as pessoas que vivem sob a marquise usam drogas, fazem sexo explícito, ameaçam as pessoas com pedras e deixam fezes e urina.

— São homens, mulheres e crianças que fazem de tudo. Imagina os idosos que aqui vivem se deparando com um homem se masturbando ou um casal fazendo sexo aqui na calçada? É o que acontece corriqueiramente de dia ou à noite. É claro que isso incomoda. Esse chuveirinho tirou eles daqui com bom senso e respeito — defendeu a professora aposentada Gloria Habib, de 61 anos.

O taxista Martinho Lutero, de 66 anos, que trabalha no ponto em frente ao Roxy há duas décadas, disse que a presença de moradores de ruas aumentou muito no último ano. O motorista aplaudiu a ideia do chuveirinho e confessou que ele mesmo tomaria alguma atitude se a situação não mudasse.

— Os taxistas começaram a ter problemas, porque passageiros preferiam tomar o táxi na rua a caminhar até o ponto. Tudo para não ter que passar perto daquele grupo. Eu mesmo já pensei em jogar algo ali para evitar aquela aglomeração. Agora, acho que vai melhorar 100%. Todos querem ter o direito de ir e vir.

(...) Moradores da Rua Bolívar, onde fica o Edifício Roxy, não são os únicos a se incomodarem com a presença dos moradores de rua. Na Avenida Nossa Senhora de Copacabana, o Edifício Surubim, um dos percussores do chuveirinho, optou por também usar uma velha barreira já conhecida dos cariocas: as grades. Um porteiro do prédio, que preferiu não se identificar, disse que a estrutura foi instalada há dois meses e já tem resolvido os transtornos em frente ao prédio.

— Antes, havia muita confusão. Usavam a marquise para se proteger, mas também assaltavam quem passava por aqui — contou o funcionário.

Até o ano passado, Copacabana ficava atrás apenas do Centro em número de moradores de rua. Eram 928 pessoas em situação de vulnerabilidade, segundo levantamento feito pelas pelas equipes de abordagem da Secretaria municipal de Assistência Social e Direitos Humanos. O número representa 6,5% do total contabilizado em 2016. (...)