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A farda e a toga (Moro) peitam Bolsonaro

Fernandes acha que o impeachment ficou mais claro...
publicado 01/11/2018
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Créditos: Seri

Por Maria Cristina Fernandes, no PiG cheiroso:

Bolsonaro encara a política de toga e farda


(...) Se aceito, o convite para que o juiz Sergio Moro integre o ministério cria outra trincheira em seus pelotões. Sob um governo Bolsonaro, a pasta da Justiça recuperaria a Polícia Federal, hoje sob o chapéu do Ministério da Segurança Pública, e teria um papel mais ativo no combate à corrupção.

Além da infraestrutura, os militares se insurgem com todos os poderes sobre o sistema de informações de toda a administração federal desde o decreto que, a 15 dias do segundo turno, criou uma super Abin. Mantida com esta estrutura, a agência, hoje sob o comando do general Sérgio Etchegoyen, encontraria na Justiça um poder concorrente.

A nomeação de Moro não deixaria Bolsonaro inteiramente nas mãos do entorno militar para a vigilância dos aliados do Congresso com quem venha partilhar cargos da máquina pública. Daria ainda ao presidente eleito a chance de usar a luta anticorrupção para eventuais debacles na popularidade decorrentes de uma economia que pode dar trabalho para reagir.

Desde que se iniciou, há quatro anos, a Lava-Jato tem funcionado como um elemento desestabilizador das relações entre Executivo e Legislativo. A ponto de ter inspirado a definição histórica do impeachment para-estancar-a-sangria de Dilma Rousseff. Moro ministro autorizaria Bolsonaro a dizer que não apenas manteve a Lava-Jato como a levou para dentro do governo. E ainda reforça a estratégia governista na relação com o Supremo, Corte que o juiz conhece palmo a palmo.

A ida para a Justiça abriria dois leques para Moro. O primeiro é o cumprimento do estágio probatório para uma nomeação ao Supremo, em 2020, a salvo da contestação de que pulou da primeira instância para a Corte máxima. O segundo é o ingresso na política eleitoral para a sucessão de 2022. Restaria a trinca sobre sua isenção e os propósitos da Lava-Jato: do empurrão no impeachment que catapultou a carreira do presidente eleito à prisão do seu maior adversário, passando pela delação de um dos principais ministros petistas às vésperas da eleição. Mas isso ficará para os livros de história que sobrarem da revisão curricular a ser promovida por Bolsonaro. No poder, Moro se aliaria àqueles que escrevem a história. (...)

Levar a farda e a toga para dentro do governo fortalece o presidente eleito mas não basta para dirimir os conflitos. O futuro ministro da Casa Civil já demonstrou que antagonizará com o superministro da Economia. Não apenas no ritmo das reformas como na mediação de interesses do setor produtivo. Uma semana antes do segundo turno, Onyx Lorenzoni levou a Bolsonaro um grupo de industriais signatários de uma carta em que pedem apoio a "políticas de desenvolvimento". Enfrenta a resistência de Paulo Guedes que quer defenestrar a pauta protecionista e acabar com o Ministério da Indústria e Comércio.

O dissenso extrapola o entorno bolsonarista. O governador eleito de São Paulo, João Doria, já deixou claro que será portador da pauta da indústria, posicionou-se contra o revisionismo que busca abrandar a ditadura e levantou a bandeira branca para unir o que restou do PSDB. Pela primeira vez em mais de duas décadas, São Paulo não está no centro de uma transição presidencial e tem um ocupante obcecado pelo Planalto Central. É o flanco mais desprotegido do capitão.