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FHC, chanceler ad hoc da Bláblá

Se o Covas tivesse deixado, ele teria sido chanceler do Collor ... - PHA
publicado 26/09/2014
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Por sugestão da amiga navegante Elizabete, o Conversa Afiada republica imperdível artigo do Dario Pignotti,na Carta Maior:


FHC, chanceler ad hoc de Marina


Como em 1990, quando tratou de ser ministro das Relações Exteriores de Collor, o dirigente tucano viajou aos EUA na condição de chanceler ad hoc de Marina

Dario Pignotti

As reincidências de Fernando Henrique Cardoso. Do mesmo modo como fez em 1990, quando procurou ser ministro de Relações Exteriores de Fernando Collor de Mello, agora o dirigente tucano volta a apostar em uma personagem outsider, uma paladina da não política como é Marina Silva. No caráter de chanceler ad hoc da candidata, Cardoso viajou aos Estados Unidos. FHC fez proselitismo "marineiro" ao falar diante de banqueiros em Nova York e em uma entrevista dada a um jornal ultradireitista de Miami.

Desde agosto, quando uma tragédia matou Eduardo Campos dando vida à candidatura de Marina e deixando Aécio Neves quase de fora da disputa (salvo algum giro imprevusto), FHC deu asas às suas fantasias de recuperar influência e poder.

Com sua vaidade ferida (a qual é inversamente proporcional à sua popularidade), FHC foi deixado de lado, e até mesmo escondido, pelos candidatos presidenciais tucanos desde 2003 (Serra 2002 e 2010, Alckmin 2005), inclusive pelo próprio Aécio, que o mostra pouco em sua campanha, apesar de reivindicar o legado dos dois governos de FHC.

Paradoxalmente, foi Marina, no contexto de seu alinhamento com as elites financeiras e midiática, quem proferiu palavras favoráveis a FHC e prometeu consultá-lo se fosse a vencedora das eleições de outubro.

Gostando dos elogios recebidos de Marina, o pragmático Fernando Henrique se desentendeu com a campanha de Aécio para preconizar o voto útil da candidata ecológica liberal e promovê-la no exterior. E foi na condição de fiador de Marina que ele viajou a Nova York para assegurar, diante de uma plateia de investidores que, com ela, defensora da independência do Banco Central e do ajuste ortodoxo, poderão fazer bons negócios.

O café e os croissant do café da manhã de Nova York foram comprados com dinheiro do JP Morgan, banco organizador da reunião em que Cardoso reconheceu a vitória de Marina que, apesar de desejada, não é certa, pois Dilma é uma candidata temível.

Primeiro parêntese: anos atrás, o JP Morgan contratou a filha de José Serra e atualmente continua ligado, segundo informações da imprensa especializada, à Gavea Investiments, onde atua o ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga, tucano que, como FHC, anunciou sua disposição para pular no barco de Marina quando o navio de Aécio acabar de afundar. Nesta semana, FHC e Fraga tiveram um encontro com investidores brasileiros em São Paulo, expressando seu apoio a Aécio ma non troppo.

Segundo parêntese: JP Morgan pagou apenas os croissant e o café consumidos durante o café da manhã de FHC e dos investidores em Nova York? Quem pagou o hotel e a passagem aérea? Se foi o banco de investimento que emite a classificação de risco sobre o Brasil, seria completamente legal, é preciso reconhecer. Mas convenhamos que parece pouco ético que um banco financie uma viagem pouco menos proselitista a favor de Marina, que até hoje não revelou quem pagou suas palestras de um milhão de reais.


Velha diplomacia


Os elogios de FHC para Marina, sem partido e defensora de uma nova política reservada apenas para “homens novos”, lembram os primeiros meses de 1990, quando o sociólogo tucano agia nos bastidores a favor de outro político outsider, Fernando Collor de Mello.

FHC não apenas aspirava ser o chanceler do “caçador de marajás”, como também era uma espécie de conselheiro informal dele. Os dois tiveram diversas reuniões particulares, conta como a jornalista francesa Brigitte Hersant Leoni na biografia “Fernando Henrique Cardoso. O Brasil do possível”,  publicada em 1997 pela editora Nova Fronteira.

Voltemos ao presente. O périplo norte-americano de FHC terminou com uma entrevista ao jornalista Andres Oppenheimer, do jornal El Nuevo Herald, de Miami.

Essa publicação é conhecida como um dos baluartes da direita fundamentalista norte-americana, cujas páginas apoiam as campanhas contra o governo cubano, a desestabilização na Venezuela, assim como os movimentos conspiratórios contra os governos da Bolívia e do Equador.

Nas declarações de FHC ao jornal da Flórida, há momentos em que surgem ecos de um discurso anticomunista clássico, combinados com a exaltação a Marina, uma predestinada escolhida pelo destino para reinstalar a velha diplomacia aplicada entre 1995 e 2003. “A visão prevalecente (no governo Dilma) é antiquada, terceiro-mundista, dos anos sessenta ou setenta, acredito que Marina Silva não tenha essa mesma visão, tão antiquada, ela é mais aberta no que diz respeito a questões externas”, afirmou Cardoso.

“Existe uma situação de quase cumplicidade do governo do Brasil com os desatinos da Argentina”, cujas autoridades se opõem à assinatura de um acordo de livre comércio entre Mercosul e União Europeia, queixou-se.

“A vitória da oposição poderia significar uma espécie de ruptura na atual política externa do Brasil”, ponderou o último presidente brasileiro que viajou a Washington no marco de uma visita de Estado, tendo como anfitrião seu amigo democrata Bill Clinton.

Em 2013, Dilma Rousseff recebeu um convite de Barack Obama para viajar com o mesmo status – visita de Estado – mas ela rejeitou em repúdio à espionagem contra seu gabinete e escritórios da Petrobras perpetrada pela agência NSA, resultando em um virtual congelamento das relações bilaterais, que Fernando Henrique acredita que melhorarão se Marina vencer.

“Há uma paralisia na política externa... [porque] o coração de muitos funcionários [de Rousseff] é, para dizer em uma palavra simples, 'bolivariano'”, defendeu Cardoso, bem relacionado não apenas com o Partido Democrata como também com ex-funcionários republicanos como Henry Kissinger, a quem concedeu uma alta condecoração diplomática em 2002, mas a cerimônia não foi realizada no Brasil diante de uma ameaça de protestos por parte de organismos humanitários.

Historicamente dedicado às posições extremistas dos republicanos, o jornal El Nuevo Herald de Miami, assim como seu colunista Andrés Oppenheimer, coincidem em tudo com FHC, a quem se referem como “grande estadista” que modernizou o Brasil e o integrou ao mundo.

Oppenheimer, uma das principais estrelas do jornal, opinou que em razão da pouca probabilidade de Aécio conseguir vencer nas urnas, Marina merece ser apoiada em sua condição de alternativa real diante de uma Dilma “intervencionista” no âmbito econômico e hostil a Washington no diplomático. Há semanas Oppenheimer questiona Dilma e faz votos de uma vitória de oposição em seus artigos no Herald e em seu programa dominical transmitido pela rede de televisão CNN.

“Acredito que isto [vitória de Marina] poderia ajudar o Brasil a voltar ao ciclo do crescimento e poderia mudar o rumo econômico de toda a região”, disse esperançoso o jornalista, diante da hipótese plausível de uma vitória da dirigente ambientalista.

Com tudo isso, vale lembrar que os presságios de Oppenheimer às vezes não passam de mera propaganda ideológica, e mais de uma vez foram desmentidos pelos fatos.

Há 21 anos, o jornalista publicou, após meses de investigação e dezenas de entrevistas, um livro pretensioso, muito anunciado, com o título “La Hora Final de Castro”, cujo subtítulo dizia “La historia secreta detrás de la inminente caída del comunismo en Cuba” (A história secreta por trás da iminente queda do comunismo em Cuba). Como se vê, os presságios da direita são infalíveis.


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