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Alencastro: “Quem trabalhou aqui pra valer foram os africanos”

Escravidão foi ilegal mesmo para as leis brasileiras da época, lembra professor brasileiro especialista em África.
publicado 04/09/2013
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O Conversa Afiada republica texto e vídeo extraídos do Instituto Lula:

África: Entrevista com professor Alencastro


O professor da Sorbonne e da Fundação Getúlio Vargas Luiz Felipe de Alencastro conversou com o Instituto Lula sobre o legado da escravidão no Brasil. “Quem trabalhou aqui pra valer foram os africanos”. Numa passagem até hoje pouco estudada nas escolas, o professor lembrou que, desde a proibição do tráfico negreiro, em 1831, até a abolição da escravatura, mais de 700 mil africanos chegaram ao país. A escravização desses homens e mulheres era ilegal até mesmo para as leis brasileiras da época. “E isso foi ocultado a eles e a seus descendentes até 1888 [quando acabou a escravidão]“. Sobre o momento pós-abolição, ele conta que além de não receber nenhum tipo de ajuda, muitos negros foram perseguidos e até expatriados, numa tentativa de “branqueamento” da sociedade brasileira.Quase um século depois da abolição, em 1976, os dados estatísticos da PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) revelaram o tamanho da desigualdade racial no Brasil. O professor vê nessa desigualdade, mais do que uma dívida, um desafio para a democracia brasleira. “A sociedade brasileira terá uma democracia mais sólida quando os jovens brasileiros encontrarem todas as comunidades brasileiras representadas na sua proporção do secundário até a vida adulta, e não crescerem os filhos das classes mais ricos nessa espécie de bolha de shopping centers e escolas caras”.

O professor Luiz Felipe de Alencastro falou não só sobre a escravidão, mas também sobre a situação atual da África, um continente em pleno crescimento e que está sob disputa de vários atores internacionais, com especial destaque para a China. Segundo dados da ONU, a África deve viver um boom populacional nesta primeira metade de século que fará, entre outras coisas, que a Nigéria tenha uma população maior do que a dos EUA. Ou seja, o mundo pode se preparar para um novo desenho geopolítico, no qual o Brasil tem um papel importante.



O Instituto Lula vai publicar uma série de seis vídeos temáticos resultantes da conversa com o professor Alencastro. O primeiro da série, publicado hoje, traz um resumo de 10 minutos dessa conversa.

Debate com o professor nesta quarta (4 de setembro)

O Instituto Lula em parceria com o Sindicato dos Bancários de São Paulo irá realizar o primeiro debate do ciclo “Conversas sobre África” no próximo dia 4, às 17h30 na sede do Sindicato dos Bancários em SP.

O tema do primeiro debate – “Escravidão e trabalho compulsório no Brasil” – será apresentado pelo professor da Universidade de Paris – Sorbonne, Luiz Felipe de Alencastro, conceituado historiador brasileiro e estudioso, em particular, das relações entre Brasil e África. Alencastro irá falar sobre o retorno de escravos para a África, a transição da escravidão para alforria, os abusos além da escravidão, o tráfico de escravos, entre outros temas.

Segundo Celso Marcondes, coordenador-executivo para a Iniciativa África do Instituto Lula, os encontros propõem ajudar o processo de aproximação do Brasil com continente africano. “Trazer estudiosos, especialistas, empresários e pessoas que realizam atividades na África, colabora substancialmente na troca de experiências e informações que enriquecem o debate e ajudam nas relações entre Brasil e África”, disse.

O evento é aberto a todos interessados no tema e as inscrições podem ser feitas através do telefone: (11) 3188-5200.