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Franklin: sem Lula o Brasil ia explodir

Dilma tem que ir ao povo.
publicado 13/07/2015
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De uma entrevista de Franklin Martins a El País, a propósito do lançamento de “Quem foi que inventou o Brasil?”:


“Se Lula não tivesse sido eleito em 2002, o Brasil tinha explodido”



(...)

P. É por isso que você disse que se o Lula não fosse eleito...
R. Alguma coisa ia acontecer. É evidente que aquilo caminhava para uma explosão. No último capítulo, há uma música que diz Eu só quero é ser feliz, que se chama Rap da felicidade. Na verdade, é um funk e não um rap. Ele foi um sucesso no Brasil em 94. A música de maior sucesso no ano. O básico dela era “eu só quero é ser feliz, andar tranquilamente na favela onde eu nasci e poder me orgulhar e ter a consciência que o pobre tem seu lugar”. E ela diz "trocada a presidência, uma nova esperança", "se eles lá não fazem nada, faremos tudo daqui".


P. O senhor na sua vida política viveu de tudo. Como vê sua trajetória depois de tantos anos, depois de ter começado com 15 ou 16 anos?
R. Meu pai sempre foi um liberal, um democrata, então isso está na minha formação. Eu me criei num ambiente de luta contra a ditadura. Quando foi instalada em 64, eu tinha de 15 para 16 anos.


P. Muito novo.
R. É. Muito novo, mas eu já era um militante político no sentido de que, nos anos 61, 62, 63, garoto ainda, na escola, eu já era representante de turma, votava com a esquerda. Era um período de grande efervescência política no Brasil. Quando vem a ditadura, considerava que era um dever meu lutar contra a ditadura, aliás como um grande número de jovens. Fiz movimento estudantil, ajudei a reorganizar o movimento estudantil. Estive preso por causa do movimento estudantil, fui solto. Nunca fui torturado. Depois do AI-5, eu vou para a luta armada como muitos jovens. A gente não tinha como fazer a luta contra a ditadura sem fazer a luta armada, porque eles fecharam tudo.


P. Foi uma boa decisão?
A minha crítica, olhando retrospectivamente —eu já fiz essa crítica em 1972— é que, com a luta armada, que é uma forma de luta que não podia ser acompanhada pelo povo, nós nos isolamos e fomos massacrados
R. Olhando com a minha visão de hoje, eu acho que foi um equívoco nosso a luta armada. Não que a luta armada seja um equívoco, em tese. De jeito nenhum. Em determinadas condições, é necessário você lutar. Senão você diz: eu só luto contra a ditadura até um certo ponto, se tiver de pegar em arma, eu não luto mais. Você tem que estar disposto a lutar de todas as formas, mas as formas mais inteligentes, mais competentes. A minha crítica, olhando retrospectivamente —eu já fiz essa crítica em 1972— é que, com a luta armada, que é uma forma de luta que não podia ser acompanhada pelo povo, nós nos isolamos e fomos massacrados.



P. Era inócuo?
R. Talvez algumas centenas ou milhares dos militantes, mais capazes e competentes, que podiam ajudar o povo a se organizar, ou foram mortos, ou foram presos ou foram exilados. Houve uma derrota política. Por outro lado, a luta armada contra a ditadura teve um caráter simbólico muito forte. Foi passar um recado da sociedade como um todo, de que as pessoas eram capazes de ir ao sacrifício extremo para reconquistar a democracia. Mesmo você fazendo a crítica política, na luta armada você criou uma coisa de combate mais forte. Porque a oposição à ditadura no Brasil é muito traumatizada com o fato de 64 não ter havido resistência. Houve um golpe e não teve nada, o Governo tinha apoio da maioria da população, ganharia as eleições, foi derrubado e não aconteceu nada. Ninguém lutou porque lá em cima eles acharam melhor não lutar porque ia ter uma guerra civil. Havia um sentimento de frustração, de desconfiança das lideranças políticas, dos partidos políticos progressistas. A luta armada, com todos os seus erros, serviu para mostrar que tinha um novo pensamento político no Brasil que iria às últimas consequências para defender. Ela é um duplo sentido.


P. Por exemplo, o sequestro do embaixador americano pode ser considerado um sucesso, não é?
R. Sucesso no ponto de vista prático, dentro do que nós nos propusemos, que era libertar 15 companheiros. Libertamos 15 companheiros, o Governo cedeu, nós libertamos o embaixador e tal. A repressão que isso detonou foi uma coisa de uma envergadura que, você olhando retrospectivamente, não foi um sequestro... A luta armada era um equívoco. Muita gente não entendeu isso, mas eu e vários outros companheiros dissemos em 1972: “Nós estamos errados, temos que voltar ao trabalho de formiguinha, organizar etc e tal, vamos levar anos, mas...” Muitos diziam “mas e os que morreram? vocês estão abandonando?” Eles não morreram pela luta armada, eles morreram para acabar com a ditadura e melhorar a vida do povo. Eu continuo na mesma luta. São momentos difíceis, momentos de avaliação de erros e erros dramáticos e que produziram perdas irreparáveis, eles são muito difíceis. Eu acho que tudo isso foi parte do processo de amadurecimento. Eu diria o seguinte: O Brasil saiu da ditadura com um compromisso com a democracia extremamente mais forte que 64.


P. Como foi para você participar do Governo Lula? Depois de ficar na teoria como jornalista e como crítico, ir ao Governo, fazer coisas?
R. Sempre fui jornalista. Sou jornalista, sempre fui isento, procurei ser isento, porque ninguém é isento, você procura ser isento. Eu sempre brinquei: mas existe isenção? Existe a busca da isenção. É a mesma coisa que a felicidade (ele cita primeiro o amor). Se você achar que vai ser feliz 24 horas por dia, 365 dias por ano, ninguém consegue. Mas você busca ser feliz. Na isenção você não consegue ser isento 24 horas, 365 dias, mas você busca ser isento e, se você não buscar ser isento, você não será isento e será partidarizado. Se você não buscar ser feliz, você vai ser um infeliz. Eu sempre busquei ser isento. Eu tinha uma visão de que o Governo se comunicava muito mal, o Governo Lula. Porque não fazia disputa política no cotidiano. Então quando me convidaram...


P. Mas Lula é comunicador nato.
R. Mas no primeiro mandato não fez e foi um desastre. Ele começou a fazer depois do escândalo do mensalão, porque ele percebeu...


P. Agora parece acontecer uma coisa parecida com essa etapa que você está contando. Dilma não fala muito com os jornalistas...
R. Isso é um dos grandes problemas dela.


P. Você acha que é uma questão de personalidade ou uma questão de...
R. Não vou falar sobre isso.


P. Como avalia a situação política do Brasil?
R: Eu acho que ela (Dilma) está no início do Governo. Início de Governo, onde você está fazendo uma arrumação da casa, é um momento de dificuldade de popularidade. Acho que ela tem perfeitas condições de se recuperar, mas não é automático. Para se recuperar, a economia vai ter que se recuperar. E politicamente, ela terá de discutir com a população, que tem expectativas muito grandes, que não quer retrocesso. Isso é uma característica, a população não quer perder o que já conquistou.