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Ciro chama Haddad de "fraude" e diz que foi à Europa porque a eleição "estava perdida"

"PT queria me associar à derrota"
publicado 13/09/2019
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(Crédito: Carta Capital)

O Conversa Afiada reproduz alguns trechos da entrevista de Ciro Gomes, candidato do PDT à Presidência em 2018, à BBC Brasil.

(Clique aqui para ler a entrevista completa):

BBC News Brasil - O senhor foi muito criticado por uma viagem a Paris que fez depois do primeiro turno e, nas redes sociais, alguns eleitores disseram que se sentiram incomodados porque o senhor viajou num período tão decisivo para o Brasil. Como responde a isso? Foi o momento adequado para fazer a viagem?

Ciro Gomes - Foi. Foi porque eu fiz aquilo que era o limite mínimo para guardar coerência com o que eu estava pensando no Brasil. Um: que o Haddad tinha perdido a eleição já de véspera porque vamos lembrar que o Haddad é uma fraude. Ou a gente vai esquecer?

O Haddad é uma fraude cuja origem eu denunciei ancestralmente, porque foi transformado num vice, convidou a Manuela para ser um terceiro não sei de quê de uma candidatura do Lula. Toda burocracia do PT sabia, como todas as pedras no caminho sabiam, menos o nosso povo mais simples, que o Lula não podia ser candidato por uma lei que ele próprio colocou em vigor, a lei da ficha limpa.

E toda semana no primeiro turno o Haddad ia a Curitiba. O Brasil não precisa de um presidente por procuração. Aquilo estava perdido. Como eu ficava? Ficava aqui e a imprensa me perguntando todo dia por que eu não ia para o palanque e eu ia ter que dizer ou eu, para não atrapalhar, saía. Optei por sair. Eu sou livre. O que eu estou devendo para essa gente? Nada. Me esfolei de trabalhar, lutei, cansei de dizer para todo mundo o que as pesquisas diziam: eu, Ciro Gomes, ganharia as eleições do Bolsonaro no segundo turno.

(...)  BBC News Brasil - O senhor acredita, então, que a eleição estava perdida?

Gomes - Eu sei convictamente que estava e tenho todos os números, de todos os institutos de pesquisa demonstrando isso. Antes, não é depois, não. Antes estava tudo evidente. (...) E eu já sabia disso. O que eles queriam, na verdade? Queriam me associar à derrota. Isso é o que eles queriam, porque não pensam no Brasil, não têm o menor compromisso com nosso povo. Eles só pensam na organização deles e pior, para roubar.

BBC News Brasil - Associá-lo à derrota de que forma?

Gomes - Porque se eu assumo ostensivamente o apoio ao Haddad estaria junto com ele derrotado. Isso é o que eles queriam. Simples assim.

(...) BBC News Brasil - No começo da entrevista, o senhor falou em uma possível renúncia de Bolsonaro, por questões psicológicas. O senhor já disse algumas vezes acreditar que ele não termine o mandato, mas também não apoia um impeachment. Por que acredita nisso?

Gomes - Veja, os políticos perceberam o gravíssimo erro que cometeram no impeachment da Dilma. Por exemplo, o PSDB atirou no pé e acho que para sempre.

O Bolsonaro deve ganhar um lugar aí, junto com o Collor [e a Dilma], entre os três piores governos da história do Brasil. São números, nada subjetivo. Eu estava lá ajudando, trabalhei contra o impeachment, ela é uma pessoa honrada.

Estou falando que a economia do Brasil nunca caiu como caiu com ela. É uma coisa concreta, números, para nos proteger do petismo amalucado. Eles mataram a Dilma, esquecem que o Brasil caiu três pontos e meio num ano, que a Dilma explodiu as renúncias fiscais em R$ 84 bilhões e arrebentou as contas do país, que ela botou o (Joaquim) Levy, que botou a taxa de juro em 14,5%, como resposta para uma crise tremenda de que ela não entendeu nada, porque a origem é o fim do financiamento generoso das commodities brasileiras pelo estrangeiro, que sustentavam a farra consumista que o Lula promoveu, pagando isso com minério de ferro, petróleo, tudo muito caro.

Na hora que os preços despencaram, esse modelo de consumismo populista morreu.

BBC News Brasil - O impeachment, então, eles entenderam...

Gomes - Se o PSDB deixasse o tempo influir, teria ganhado as eleições. Ao estabelecer um clima de ódio, rancor e a sensação de golpe para muitos, predispôs o Brasil à negação da política e das suas linguagens, seus limites, seus ritos e deu no que deu: um fascistoide como o Bolsonaro, completamente despreparado, que navegou nessa onda de ódio.

Agora, todo mundo está vendo a mesma coisa: se ele cometer um crime de responsabilidade doloso, não tem conversa, vai para o impeachment. Mas se não cometer, eu, por exemplo, não participarei de nenhum tipo de golpe contra o Bolsonaro. Governo é assim: se a gente elege ruim, a gente aguenta. E no presidencialismo aguenta por quatro anos. Se a gente elege um bom presidente, a gente recebe de volta o acerto do nosso voto. Isso tudo é pedagógico e a gente tem que insistir nesse regime errado, que é o presidencialismo, mas o povo também optou pelo presidencialismo.

Mas as energias que estão se acumulando são tão violentas, aquilo que eu te falei, vem por aí tanta confusão que eu não vejo como o sistema político vai conseguir absorver e o próprio Bolsonaro [também]. Então, o filhinho dele, no momento em que ele fala, está aí causando comoção porque disse que, dentro do ambiente democrático, não é possível fazer as mudanças que o Brasil precisa. Estou pedindo que o Bolsonaro fale claramente sobre isso, porque esse menininho é um percevejo, é irrelevante, fica lá nos problemas de mal-amado dele.

Agora, se é isso que pensa o Bolsonaro, a gente precisa dizer com clareza para ele que a imoralidade do PT nos divide, a agenda de costumes tosca nos divide, mas na defesa da democracia nós vamos tocar fogo na rua, fique seu Bolsonaro sabendo. Na defesa da democracia, vamos encará-lo na linguagem que ele quiser. Ele que não avance na direção disso, porque a minha geração sabe o que custou retomar a democracia e ele se elegeu por conta de democracia.

Se isso também não é a saída, um surto autoritário que quebra as instituições e, portanto, abre uma guerra civil no Brasil, qual é a saída? É a renúncia, na história brasileira. Só três presidentes na democracia terminaram o mandato nesse país.

(...)

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