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Celso Amorim: Itamaraty agora é um navio sem rumo

Objetivo dos bolsonários é destruir a diplomacia brasileira
publicado 15/07/2019
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O chanceler Celso Amorim, em outubro de 2007 (Créditos: Marcello Casal Jr./Agência Brasil)

O Conversa Afiada reproduz trechos de entrevista de Celso Amorim, ministro das Relações Exteriores durante o governo Lula, ao Brasil de Fato:

Celso Amorim: Destruição do Itamaraty não é falta de habilidade, mas "um projeto"

O ex-ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, afirmou em entrevista ao Brasil de Fato nessa sexta-feira (12) que o processo de desmonte da diplomacia brasileira, em curso desde que o presidente Jair Bolsonaro (PSL) assumiu o governo, não ocorre por falta de habilidade, mas “é um projeto” político.

O diplomata, que foi chanceler durante as administrações de Itamar Franco e Luiz Inácio Lula da Silva, comentou a possível nomeação de Eduardo Bolsonaro como embaixador em Washington, a degradação da imagem do Brasil em fóruns internacionais e a quebra das tradições diplomáticas do país.

(...) deliberações recentes, entre elas a de vetar qualquer referência ao termo “gênero” em resoluções da ONU, geraram perplexidade em diversas delegações estrangeiras, abalando a credibilidade do país.

“Os países ocidentais, europeus, estão chocados com as votações que o Brasil tem feito sobre questões de gênero, questões de saúde reprodutiva da mulher. Em todas essas questões, o país tem entrado por um caminho que parece que o Brasil é uma teocracia medieval”, afirma.

Segundo ele, o Itamaraty parece “um navio sem rumo”. “Ou melhor, com o rumo errado, à beira do naufrágio, e com os diplomatas como passageiros de uma nau que está naufragando, procurando um barco salva-vidas. E dificilmente encontrarão. Eu sinto muita tristeza pelos meus colegas. Muitos devem estar trabalhando de maneira muito contrariada, até evitando ficar em lugares muito importantes, para não ter que se associar [ao governo Bolsonaro]. E isso agora vai só piorar", lamenta.

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O Brasil voltou a ser ridicularizado internacionalmente nessa quinta-feira (11), quando Jair Bolsonaro anunciou que pretende indicar seu filho, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), ao cargo de embaixador em Washington, nos Estados Unidos.

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"Não vou entrar no detalhe do nepotismo, porque assessoria jurídica do próprio Congresso deve ver [a questão]. [Mas a indicação] é grave de qualquer maneira. Foge totalmente aos padrões civilizados hoje em dia”, afirma Amorim.

Após Bolsonaro afirmar que pretende nomear Eduardo, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, declarou que também poderá indicar seu filho Eric para a embaixada norte-americana em Brasília.

Para Amorim, “se isso acontecer, vai parecer coisa de dinastia do século 17, 18, em que se faziam alianças militares na base de casamentos, na época do poder absoluto das monarquias […] essa é uma prática que ninguém segue, a não ser as monarquias absolutistas”.

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Para ele, os últimos acontecimentos não representam uma falta de habilidade política, mas sim “um projeto”. “O próprio presidente Bolsonaro, não se referindo especificamente ao Itamaraty, mas à política externa – então indiretamente ao Itamaraty –, disse que o objetivo é destruir mesmo”, ressalta.

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