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Fuera OMC, fuera Macri!

O que os hermanos argentinos têm a nos ensinar sobre as ruas
publicado 15/12/2017
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Rezende (E) e Adolfo Pérez Esquivel, Prêmio Nobel da Paz, que acompanhou o Fórum (Crédito: Marcos Rezende)

O Conversa Afiada publica artigo de Marcos Rezende, historiador e membro do Coletivo de Entidades Negras, com sede em Salvador:

No sentido de articular diálogos com organizações e personalidades que acreditam em um movimento global contra o neoliberalismo, representei com outras pessoas o Fórum Social Mundial (FSM) no encontro internacionalista FUERA OMC (Fora Organização Mundial do Comércio), que ocorreu durante essa semana na cidade de Buenos Aires, na Argentina onde, logo de cara, o presidente Macri apresentou as suas credenciais ditatoriais ao deportar dezenas de ativistas que foram participar da atividade.

Durante todos os dias do encontro realizado na Faculdade de Ciências Sociais de Buenos Aires pude perceber que, assim como o golpista TEMER tem feito no Brasil, há um esforço por parte do presidente Macri para, de joelhos e em total subordinação, recolocar a agenda neoliberal da Organização Mundial do Comércio (OMC) no coração da América Latina, através da sua agenda de arrochos salariais, redução de investimentos, aumento sistemático do preço dos produtos, destruição dos programas sociais, reforma da previdência e, através de total simbiose com o sistema de Justiça, criminalizar os governos populares de esquerda através do Lawfare.

E o jornal oposicionista Pagina12.

No entanto, apesar de possuir maioria no Congresso para aprovar as suas reformas neoliberais Macri tem passado por um incômodo da resistência dos movimentos populares nas ruas, o que me fez lembrar e ouvir, em três das manifestações em que estive presente, a música, a expressão e, principalmente, o bem sucedido movimento “Qué se vayan todos” ocorrido em 2001 e que exigiu renúncia em massa dos principais políticos argentinos que bancavam e sustentavam a política neoliberal da época.

Macri sistematicamente tem se esforçado para entregar terras e os patrimônios nacionais a grupos empresariais a fim de “sanar” os gastos públicos e “equilibrar” a tão famosa dívida pública, que nunca sabemos como se calcula mas que absorve uma parcela enorme do orçamento de lá da Argentina da mesma forma que dizem acontecer aqui em terras brasilis.

Além disso, ele não se furta em reprimir violentamente as manifestações populares contra o seu governo. Seja na capital ou no interior as ruas da Argentina estão impregnadas de cartazes perguntando “Aonde está Santiago Maldonado”, um jovem que, por lutar pela garantia dos territórios indígenas mapuche numa região no interior da Argentina de interesse do grupo Benetton, foi preso pela polícia e depois apareceu morto.

Em contrapartida os mesmos ventos de resistência e liberdade que trilharam os rumos de José Marti na América Latina e Caribe, do negro candomblecista Toussaint Louverture em seu trajeto pela independência do Haiti em 1804, de Benkos Bioho que em Cartagenadas Índias na Colômbia fez a coroa espanhola se curvar frente a exigência do Palenque (Quilombo) de San Basílio se tornar o primeiro território livre da América, tem novamente atingido as RUAS DA ARGENTINA como um furação libertário, e a todo instante manifestações tem explodido, e ante-ontem, 14 de dezembro, dia em que seria votada a reforma da Previdência, ela estourou com a força de milhares de argentinos nas ruas

E mesmo com a intensa repressão das forças policiais, que usou gás lacrimogêneo, cassetetes, balas de borracha e jatos d'água não conseguiu conter a grande marcha.

No outro front de lutas, dentro do Congresso Nacional, deputados trocaram agressões verbais, gritos, empurrões e tapas em microfones, ao tempo em que deputados da base Macrista, impactados pela resistência, violência e gritos que ecoavam nas ruas e literalmente adentravam o Congresso, pediram pela suspensão da pauta.

A olhos nus é possível ver que, se, por um lado, o capital neoliberal, com as suas velhas práticas de golpes originados no seio norte-americano e apoiado pelas tradicionais elites entreguistas sul-americanas, empresariado, mídias tradicionais e Judiciário, busca construir uma nova narrativa a fim de submeter as lutas populares aos interesses do capital como a única alternativa possível, é perceptível visualizar também que, por toda América Latina e Caribe, os ideias libertários de índios, negros, mulheres e trabalhadores de toda monta continuam sendo estimulados pelos mesmos ideias comunistas do argentino, radicado cidadão do mundo Ernesto Che Guevara sintetizado em sua célebre frase "hasta la victoria siempre. Pátria o muerte".

Enfim, convém observar que o Brasil faz fronteira com a Argentina e esse vento sul chegará em breve por essas terras, na votação da reforma da previdência ou pela imputação "da teoria do domínio do fato" (não temos prova mas temos convicção) que os artífices do Golpe de 2016 desejam aplicar a Luiz Inácio Lula da Silva, o maior líder de massas ainda vivo do mundo.

Pátria livre, venceremos!


(Foto: Marcos Rezende)


(Foto: Marcos Rezende)


(Foto: Marcos Rezende)


(Foto: Marcos Rezende)